O primeiro-ministro apareceu no Parlamento para preparar a reunião do Conselho Europeu desta semana numa altura de águas turbulentas, umas literais e outras menos. Com Lisboa a sofrer os efeitos de um rio atmosférico que resultou da passagem da tempestade Efrain, António Costa teve de falar do recurso aos apoios europeus e como essa é sempre uma possibilidade. E com o Parlamento Europeu debaixo de um escândalo de corrupção, não teve como não falar do assunto também.

A discussão parlamentar é escassa no modelo deste debate em particular, com o primeiro-ministro a fazer uma intervenção inicial, seguida de perguntas de todas as bancadas e uma intervenção final — respondendo às perguntas que quer e sem lugar a réplicas da oposição — também de António Costa. Mesmo assim, foi com irritação que respondeu a insistência comunista sobre se vai ou não solicitar que seja desencadeado o fundo europeu de solidariedade  para prestar apoio às vítimas das cheias na região de Lisboa.

“Passa pela cabeça de alguém que sendo possível recorreu ao fundo de solidariedade da UE não o vamos utilizar? É uma pergunta tão sem sentido que nem tinha percebido que era mesmo essa”, atirou a Bruno Dias. Antes tinha explicado que o fundo só pode ser acionado depois de verificados requisitos e conhecida a avaliação dos danos provocados pelo temporal. “Acionaremos quando e se estiverem verificados os requisitos”, disse referindo que o levantamento de danos está a ser feito para verificar mecanismos nacionais de apoio e eventuais da União Europeia.

O debate centrou-se sobretudo na questão da energia, que vai também ter o foco dos trabalhos europeus na próxima quinta-feira. E sobre isso, Costa vinha preparado para acenar com os ganhos do mecanismo ibérico para travar a subida do preço do gás e que, segundo adiantou no debate, já permitiu poupar 360 milhões de euros “relativamente à despesa que teria existido” sem essa solução.

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“É essencial que Portugal e Espanha procedam desde já às negociações necessárias para a extensão da solução ibérica para para lá de maio do próximo ano, que e o que tem permitido mitigar o impacto da subida do preço do gás no preço da eletricidade”, afirmou logo de seguida. Também lembrou que, em outubro, a própria Comissão Europeia apresentou aos ministros da Energia da UE uma análise sobre a eventual extensão daquele mesmo mecanismo aos países da União.

Não teve grande impacto na oposição que trouxe para a mesa vários temas para lá da questão energética. Um deles foi a operação “Tempestade perfeita”, que investiga corrupção na Defesa, com André Ventura a perguntar diretamente ao primeiro-ministro se mantém a confiança no ministro João Gomes Cravinho (hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, mas ministro da Defesa à data dos factos investigados). “Tem condições para continuar ou vamos assistir a outro caso Miguel Alves?”.Mas Costa só tomou a palavra muitos minutos depois da pergunta feita e acabou por ignorá-la.

Já sobre a corrupção em Bruxelas e o escândalo que envolveu uma das vices-presidentes do Parlamento Europeu, a grega Eva Kaili, e subornos do Qatar junto de decisores políticos, Costa reagiu depois de questionado pelas bancadas do Bloco de Esquerda, PSD, Chega e Livre. A bloquista Mariana Mortágua tinha aproveitado até a deixa para condenar a presença portuguesa no Mundial de futebol naquele país. “É lamentável que Portugal tenha participado nesse processo de legitimação do Qatar”, disse.

Mas Costa nem entrou por essa parte e no comentário ao caso de corrupção cingiu-se a um elementar “deve preocupar-nos a todos”. Classificou-se de “lamentável” e elogiou a ação rápida da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.