Os noruegueses apostaram forte nos veículos eléctricos como forma de diminuir as emissões de CO2, um dado importante para um país que tem na qualidade de vida o seu ponto forte, com a maioria das regalias a serem suportadas pela venda do crude que extraem no mar do Norte através de uma empresa estatal. Graças a um generoso sistema de incentivos (a começar pela isenção de IVA), associado a vantagens nas portagens e no estacionamento, rapidamente muitos clientes aderiram a esta forma mais limpa de locomoção. Mas agora que atingiram um parque circulante em que um em cada cinco veículos são eléctricos, a situação está em vias de ser alterada. E é preciso ter em conta que, para estarem em circulação hoje 20% de modelos a bateria, foi necessário comercializar modelos com esta tecnologia muito acima desta fasquia, pois só em 2021 cerca de 65% dos carros novos vendidos eram alimentados exclusivamente por bateria.

Para o legislador norueguês, as generosas ajudas à aquisição de veículos eléctricos fez todo o sentido no início desta tecnologia, quando os carros a bateria eram substancialmente mais caros do que os rivais a gasolina e a gasóleo. Com o passar dos anos, as baterias começaram a ser mais eficientes e, simultaneamente, mais baratas, o que tornou mais acessível o preço dos veículos. Por outro lado, o facto de começarem a surgir no mercado cada vez mais construtores a oferecer os seus eléctricos ajudou a materializar a descida de preços, com vantagens para o condutor.

Com os eléctricos a começarem a ser competitivos face aos rivais com motores de combustão, não nos segmentos A (500e), B (e-208) e C (ID.3), mas sim nos superiores D (Model 3) e E (Model S), a Noruega anunciou que pretende começar a retirar, pouco a pouco, as ajudas financeiras a quem escolha um modelo eléctrico. Isto porque se a percentagem de veículos subiu de 10% para 20% em apenas três anos, os especialistas no mercado esperam que supere 30% dentro de mais dois anos.

Até aqui, os eléctricos registados na Noruega não estavam sujeitos ao IVA de 25% a que estão expostos os outros produtos, a começar pelos veículos a combustão. Esta é uma das vantagens que o Governo está a tentar eliminar, estando neste momento em cima da mesa um plano em que o imposto varia consoante o preço do veículo. Contudo, as restantes vantagens mantêm-se, da ausência de impostos relativos à importação aos específicos para a circulação, além de suportarem apenas 50% dos custos relativos ao estacionamento e portagens.

Tendo já anunciado que irá banir a comercialização de veículos com motores de combustão a partir de 2025, de forma a atingir a desejada redução dos gases de efeito estufa, a Noruega é, desde 2020, o único país em que as vendas de veículos 100% eléctricos superam os que recorrem a motores a combustão. E se nos recordarmos que em 2011 a venda de eléctricos, híbridos e híbridos plug-in representava apenas 5% do mercado de carros novos, para em 2020 ultrapassar já 80%, é fácil ter uma ideia da notável evolução. Mais curioso ainda é o facto de a Noruega desmontar por completo a teoria que defende que, “se existirem muitos veículos eléctricos, os países não terão energia suficiente para todos”. Segundo os responsáveis pelo país, não há faltas de energia com mais de 65% veículos eléctricos entre os carros novos vendidos e continuarão a não existir limitações quando, no final de 2023, se atingir 80% de modelos eléctricos no volume total de vendas. Isto apesar da Noruega continuar a reforçar a sua rede de postos de recarga, tanto pública como privada.

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