A precipitação de acontecimentos estava definida. O mandato de Fernando Gomes ia até 2024, o contrato de Fernando Santos ia até 2024, o próximo Campeonato da Europa acontece em 2024. O Mundial do Qatar, porém, antecipou a saída de Fernando Santos — e fez com que Fernando Gomes se visse obrigado a escolher um novo selecionador nacional para o próximo Campeonato da Europa.

A escolha recaiu em Roberto Martínez, treinador espanhol de 49 anos que foi o selecionador da Bélgica desde 2016 e até dezembro, altura em que saiu na sequência da eliminação precoce ainda na fase de grupos do Campeonato do Mundo. Martínez, que também orientou Swansea City, Wigan e Everton em Inglaterra, foi apresentado esta segunda-feira na Cidade do Futebol e ao lado de Fernando Gomes — que começou por sublinhar “o entusiasmo e a ambição” com que o técnico recebeu o convite português.

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“Sublinho a coragem que demonstra ao aceitar suceder ao selecionador mais titulado da história de Portugal. Desejo-te toda a sorte e recebo-te em nome de todos os portugueses”, continuou, aproveitando para ler uma declaração que levou preparada e sublinhar o legado de Fernando Santos. “Este é um momento importante para a Seleção. Para começar, permitam que reafirme a honra que foi ter Fernando Santos como selecionador desde 2014. Juntos, construímos o período mais feliz da Seleção Nacional com a vitória no Euro 2016, a conquista da Liga das Nações em 2019 e uma das melhores campanhas em Mundiais, no Qatar. Para além do fortalecimento dos laços entre a equipa de todos nós e os 11 milhões de portugueses. Muito obrigado, Fernando Santos”, acrescentou o presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

Mais à frente, Fernando Gomes abordou precisamente o facto de o próprio mandato terminar em 2024 — e de o contrato assinado com Roberto Martínez durar até 2026. “Depois de um Mundial em que todos, a começar por mim, sentimos que Portugal poderia ter ido mais longe, o desafio que enfrentei como presidente da FPF foi este: levar o ciclo que começou em 2015 até ao Euro 2024 ou iniciar já o ciclo que visa chegar ao Mundial 2026 como um dos mais fortes candidatos ao título. A nossa decisão, depois de profunda ponderação, foi começar um ciclo novo. Permitam que seja muito claro sobre isto: apesar de o nosso mandato terminar no ano civil de 2024, cumpre-me tomar todas as decisões que assegurem uma transição segura e tranquila para o meu sucessor ou sucessora”, explicou, delineando logo depois os objetivos para o futuro da Seleção Nacional.

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“Na primeira conversa que tive com Roberto Martínez, ficou claro que estava perante um selecionador que encaixava no perfil desenhado. Ele, tal como nós na FPF, acredita que Portugal pode e deve estar sempre na decisão pelas grandes competições. E isso significa, pelo menos, aceder às meias-finais em qualquer prova. É isso que ambicionamos e é esse o ADN da Seleção Nacional”, disse o líder da Federação.

Ainda ao longo da declaração escrita, Fernando Gomes garantiu que a escolha do novo selecionador nunca esteve limitada aos treinadores portugueses. “O novo selecionador teria de ser ambicioso, conhecedor do futebol internacional, habituado a treinar jogadores ao mais alto nível, com experiência nos grandes campeonatos e idealmente também nas seleções. Na construção deste perfil, nunca foi relevante o local de nascimento. Somos uma Seleção formada por jogadores que, na sua grande maioria, atua, atuou ou vai atuar em diferentes países e campeonatos”, recordou, deixando o desejo de que Roberto Martínez tenha uma passagem duradoura pelo comando da seleção portuguesa.

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“O ciclo de Fernando Santos durou mais de oito anos. O ciclo de Rui Jorge nos Sub-21 começou há 12 anos. Jorge Braz lidera a Seleção de futsal desde 2010. Mário Narciso vai cumprir este ano uma década à frente do futebol de praia. Francisco Neto cumpre em fevereiro nove anos na Seleção feminina de futebol. E Luís Conceição leva oito anos na Seleção feminina de futsal. Os treinadores precisam de tempo e apoio para formar equipas. Isso é muito claro na FPF. Tem sido assim desde que aqui cheguei. Não será diferente agora. Roberto, tudo faremos para que o teu ciclo seja longo e feliz”, terminou.

Questionado sobre se José Mourinho foi a primeira opção da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes não abordou diretamente o atual treinador da Roma e garantiu que a única “proposta concreta” foi a que foi feita a Roberto Martínez. “O que nos interessou desde a primeira hora foi definir o perfil de treinador de que necessitávamos. Obviamente, aquilo que posso dizer dentro desta procura foi que falámos com muita gente. Todos sabem que tenho um relacionamento grande com a generalidade dos treinadores portugueses. Aquilo que posso dizer e confirmar é que a única proposta concreta que fizemos para ser selecionador foi ao Roberto Martínez”, concluiu.