Não foi um capítulo final nem o capítulo final, mas fazendo uma retrospetiva daquilo que tem sido toda a campanha do Manchester United e cruzando com aquilo que foi a caminhada de Cristiano Ronaldo quando era ainda jogador dos red devils torna-se quase inevitável parar no primeiro dérbi da temporada com o rival City no Etihad Stadium. Um resumo: autêntico “atropelo” dos citizens que parou em 4-0 ao intervalo, 6-3 no final de um encontro onde a equipa da casa teve oportunidades para chegar aos dois dígitos tamanhas eram as facilidades no último terço, o avançado português a não sair sequer do banco com Erik ten Hag a justificar a opção pelo respeito que tinha pelo jogador cinco vezes Bola de Ouro. Pior era impossível. A partir daí, tudo foi melhor e possível. E o conjunto de Old Trafford mudou por completo o filme da temporada.

Olá, Manchester. O meu nome é Haaland e sou o novo dono da cidade (a crónica do 6-3 do City ao United)

Alguns exemplos práticos à boleia dos números que neste caso não enganam: nos últimos 11 jogos em casa, o Manchester United não sofreu qualquer golo em nove e somou dez triunfos e um empate; nos derradeiros 18 em todas as competições em casa e fora, apenas uma derrota e uma série atual de oito vitórias consecutivas. Não sendo algo propriamente ligado à saída de Ronaldo para o Al Nassr após a rescisão de contrato assinada na sequência da explosiva entrevista a Piers Morgan, o conjunto encontrou-se, foi crescendo e chegava a mais um dérbi com outras ambições de poder ganhar e ficar quase colado ao rival a olhar para o topo, mesmo assumindo, como destacara o próprio ten Hag, que teria pela frente a melhor equipa da Premier.

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Do outro lado, um Manchester City que com os últimos resultados do Arsenal dependia apenas de si para poder reconquistar o título de campeão mas que ainda procurava entrar naquela zona de conforto para nova série de triunfos seguidos como conseguira antes do Mundial. Os dois triunfos com o Chelsea, diferentes nos números mas iguais na superioridade, pareciam servir de trampolim para esse plano mas a recente derrota com o Southampton, que afastou a equipa de um dos objetivos que tinha para a época (Taça da Liga), voltou a colocar essas dúvidas sobre o atual momento e do que pode fazer até ao final da temporada. E se já existiam questões, agora ainda mais se vão levantar depois de um dérbi que parecia estar a favor dos citizens mas que acabou por ter uma polémica reviravolta com Bruno Fernandes a ser protagonista.

O jogo teve um início resumido ao encontro entre dois brasileiros sem posse e um português com bola em campo. Expliquemos: Casemiro e Fred conseguiam controlar as ações ofensivas dos citizens sobretudo ao anular Kevin de Bruyne, Bruno Fernandes criou perigo na primeira vez que teve um pouco mais de espaço num remate cruzado que passou ao lado da baliza de Ederson (10′). Depois, mais City. Mais posse, mais passes, mais controlo, dois remates tentados, nenhum enquadrado – e Haaland a tocar apenas oito vezes na bola em 45 minutos. E foi o Manchester United a ter as melhores oportunidades, com Rashford a aproveitar uma saída sem nexo da baliza de Ederson após mais um grande passe de Bruno Fernandes para passar pelo guarda-redes, fletir da esquerda para o meio e rematar para o corte decisivo de Akanji (33′).

O avançado inglês chegava ao dérbi com seis partidas consecutivas sempre a marcar e ficava muito perto de aumentar essa série naquele que foi o momento de maior perigo na primeira parte. No entanto, devido às queixas na virilha esquerda com que chegou ao intervalo, tudo apontava para que fosse substituído. Ao invés, Erik ten Hag apostou na entrada de Antony para a posição de Martial. E Pep Guardiola não demoraria também a mexer, trocando Phil Foden por Jack Grealish. O encontro iria mudar em poucos minutos.

Por um lado, os visitados não tinham a mesma capacidade para levar bola à frente, tendo até na teoria um outro potencial para provocar mossa no adversários pelos movimentos e forma de jogar de Antony. Por outro, havia cada vez mais João Cancelo em campo pela esquerda, a que se juntou depois Grealish para dar a largura e a profundidade que faltaram com Foden. E bastaram apenas três minutos para, na melhor jogada coletiva do jogo, o internacional inglês inaugurar o marcador após mais uma assistência do inevitável Kevin de Bruyne, quebrando um longo período de quase quatro meses sem um único golo (60′).

O Manchester United parecia estar a perder gás, o City colocava o jogo a seu jeito mas a história não tinha chegado ainda ao fim com muita polémica à mistura: após um passe longo com Rashford fora de jogo e a fazer-se à bola, Bruno Fernandes foi mais rápido, fez o empate (78′), o lance não foi invalidado e os red devils aproveitaram esse ascendente para fazerem a reviravolta com assistência de Garnacho para Rashford numa jogada que teve início em mais um passe fabuloso do médio português para o espanhol saído do banco que assistiu o avançado inglês para o sétimo encontro consecutivo sempre a marcar (82′).