A novela continuava a decorrer, com a Gresini a fazer parte do passado depois de ter sido uma forte hipótese mas a Aprilia, a Ducati e a possível surpresa de Yamaha ou Honda a continuarem como protagonistas entre capítulos que se sucediam semana após semana, e Manuel Pecino, jornalista que faz com Chicho Lorenzo o programa Motogepeando, não tinha dúvidas: a saída de Miguel Oliveira estava garantida, a entrada na RNF seria uma realidade e o tabu apenas era mantido devido às cláusulas presentes no contrato com a KTM. Foi mesmo assim, até ao momento em que a decisão foi anunciada numa saída a bem entre todas as partes onde sobraram elogios pelos oito anos de ligação. E foi também a ele que o piloto português explicou numa longa entrevista o porquê da opção tomada, ao mesmo tempo que fez um lançamento da época de 2023.

Agora é (quase) oficial: Miguel Oliveira vai mudar para a Aprilia. O que falta? “Está tudo pronto mas se patinar custa uma multa enorme…”

“É complicado falar da saída da KTM. Seguramente que não me levantei e disse que acabou, foi todo um processo. Com a ausência de Mike [Leitner] começaram a notar-se mudanças fundamentais na estrutura. Como piloto, gostava muito do Mike na box e tudo o que nos dava. Era uma pessoa com muita experiência, colocou a KTM onde colocou. Era uma presença boa no projeto. Com a chegada do Francesco Guidotti [diretor de equipa que entrou na pré-temporada de 2022] notou-se uma mudança do rumo técnico. Era uma pessoa experiente que chegou e, a pouco a pouco, começou a colocar as suas ideias em prática. Mas para que chegassem a algo concreto precisavam de mais tempo do que eu esperava”, começou por referir.

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“Esta gestão de expectativas foi a maior deceção que tive. Pensei que com a sua chegada poderíamos dar um passo maior. Cheguei a um ponto em que me senti claramente superior ao que tinha entre as pernas. E quando te dás conta e não encontras tecnicamente maneira de superá-lo, chega esta vontade de abraçar outras coisas. Há esta oportunidade, é altura de aproveitar. Foi isso que aconteceu com a KTM. Sempre falei bem deles, deram-me uma oportunidade estupenda, mas creio que os resultados e o que posso fazer é muito mais do que fiz com eles”, acrescentou ainda o número 88 a esse propósito, antes de revelar a conversa que teve com Massimo Rivola, líder da Aprilia, para aceitar o novo projeto da estreante RNF.

Sete anos, 17 vitórias, 37 pódios e uma ligação à parte. “Não podemos agradecer o suficiente por tudo o que fizeste”, diz KTM a Oliveira

“As suas palavras foram muito simples: queremos-te, gostamos de ti como piloto, estamos convencidos que com o teu estilo de pilotagem podemos fazer as coisas bem feitas. As primeiras palavras dele foram essas. A partir desse momento, comecei a pensar nisso mais a sério. Analisei a moto, a forma como o Aleix [Espargaró] e o Maverick [Viñales] colocam o corpo, e a verdade é que convenceu-me muito. Se tivermos a atitude correta, se trabalharmos bem, as coisas podem sair bem”, disse. “Entendi muito bem por que são competitivos, tanto em volta rápida como em corrida. Nota-se também que há pontos para melhorar, que prefiro deixar em segredo. Pude sentir o porquê de Aleix e Maverick terem feito o que fizeram mas também entendi os problemas quando não tiveram resultados”, acrescentou.

“É o passo de que necessito como piloto.” Miguel Oliveira deixa a KTM e vai correr pela Aprilia em 2023

“Encontrei uma moto com um ponto de travagem mais suave. O que fiz num dia, com 80 voltas, para mim surpreendeu-me. Não foi um dia em que fui cómodo na moto. As coisas iam saindo e a moto aceitava o que fazia. Estou um pouco desconfiado porque não quero estar muito contente com o que se passou, nem acredito que os testes de Sepang ou em Portimão indiquem como será o ano. Se as coisas não saírem como em Valência, não vou ficar louco e vou continuar a trabalhar”, referiu antes de abordar a temporada.

“O objetivo é trazer um produto diferente no sábado. A Fórmula 1, pelo seu formato, atrai muita gente para ver a qualificação porque as posições que saem daí são as posições da corrida no final. No sábado, ao nível competitivo, converte-se num espetáculo para saber o que se vai passar no domingo. No MotoGP não diria tanto… Creio que o objetivo é acrescentar no sábado. Será mais duro para nós, para os mecânicos, mas creio que correrá bem. Não ficarei louco se as coisas não me correrem bem no sábado. Vai ser importante para os pontos do campeonato. As nossas corridas já são quase sprint, se reduzes as voltas… Será de faca nos dentes até final! Creio que vai trazer muita emoção. Aqui teremos todos de olhar para a nossa situação de corrida a corrida e deixar que o entusiasmo leve o que tem de levar”, disse ainda sobre a introdução das corridas sprint aos sábados, à semelhança do que acontece já há dois anos na Fórmula 1.