O Presidente ucraniano deu uma rara entrevista à Sky News esta quarta-feira, no dia em que comemorou o 45.º aniversário. Desde a vida familiar às tentativas de assassínio que terá sido alvo no início da invasão, Volodymyr Zelensky fez várias revelações, criticando pelo meio o seu homólogo russo — a quem chamou de “zé-ninguém”.

1) O filho que vê de 10 em 10 dias e as crianças ucranianas que já são “adultas”

A vida do Presidente ucraniano alterou-se significativamente desde o início do conflito, principalmente no que diz respeito à relação com a família. “É um pena que não possa ver os meus filhos. Nos últimos dois, três meses vejo-os uma vez de 10 em 10 dias. Quando estamos juntos, comemos e conversamos”, conta.

Com dois filhos (uma com 18, outro com 10 anos), Volodymyr Zelensky deu mais detalhes sobre o mais novo. “Ele tem 10 anos e já pensa sobre a vida. É uma tragédia. É uma tragédia para todas as famílias em toda a Ucrânia. Todas as crianças são adultas. Todas. Elas falam sobre a guerra, elas falam sobre quando é que vamos ganhar. Eles até sabem melhor do que eu.”

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“É uma tragédia o tema da conversa [das crianças]. Não é sobre jogos que têm entre si, não é sobre futebol, não há conversas sobre futebol. É uma grande diferença, mas nós vamos mudar esta situação, eu penso que brevemente”, afirmou.

2) A estupefacção com os pais russos que mandam os filhos lutar para concretizar “ambições” de Putin

O Chefe de Estado da Ucrânia assumiu não conseguir “entender” como é que os pais russos enviam os filhos para a Ucrânia. “Como pai não consigo entender como é que deixam as crianças ir, entendendo que eles vão morrer ao tentar alcançar alguma coisa que não lhes pertence.”

“Noutras palavras, ao deixar as crianças irem [para a Ucrânia], tornam-se criminosas. E isto é um crime. Isto é um assassínio. Não é autodefesa”, aclara, acrescentando que os militares que combatem Rússia têm de ser “responsabilizadas”. “Se se tornam prisioneiras de guerra, eles terão de aceitar a responsabilidade das suas ações.”

No entanto, se os jovens russos acabarem por “morrer” na Ucrânia, é por causa das “ambições do Presidente Putin”. “Apenas por uma pessoa”, notou.

3) “Estou bem”, diz Zelensky

Apesar do cansaço que sente, Volodymyr Zelensky admitiu que está “bem”. “Estou forte, como o nosso povo”, disse, referindo que às vezes se “sente um pouco triste” quando a Rússia ataca o país. “Sinto-me orgulhoso dos nossos soldados e do nosso exército. E claro que estou orgulhoso da população.”

O Presidente ucraniano confessa que não “imaginava” que tivesse de desempenhar funções durante uma guerra. Mas Zelensky aceita o desígnio: “Eu farei o que tem de ser feito, por isso está tudo bem. Estou bem, realmente estou bem”.

4) Zelensky nunca perdeu o “sentido de humor”

Para Volodymyr Zelensky, mesmo numa situação dramática como a guerra, é importante não perder o sentido de humor. Tendo sido ator e humorista no passado, o Chefe de Estado garante que nunca perdeu o seu: “Quando as pessoas o perdem, elas perdem a sua sanidade mental”.

O Presidente da Ucrânia diz que todos os dias acorda com uma pergunta na cabeça: “Como é que vou colocar o país mais próximo da vitória?”. “É muito importante”, reconheceu, referindo que tem de possuir um grande controlo sobre as suas emoções.

“Tenho de ser forte e é isso que o sentido de humor mostra. Quando faço uma piada mostro que estou bem, que estou forte, que controlo a situação. O resultado depende de ti. O humor faz-me humano”, explicou Volodymyr Zelensky.

4) Putin, o “zé-ninguém”

Durante a entrevista, o Presidente da Ucrânia não poupou o seu homólogo russo nas críticas. Questionado sobre se um encontro com Putin poderia levar a um cessar-fogo, Volodymyr Zelensky tem dúvidas. “Não é interessante para mim. Não tenho interesse em reunir [com ele]. Porquê? Porque já tive um encontro com ele antes da invasão. Eu vi o homem que disse uma coisa e fez outra.”

Mostrando-se surpreendido com esta atitude do Presidente russo, Volodymyr Zelensky admitiu que não consegue “entender” as decisões que toma. “Eu realmente não entendo quem toma as decisões na Rússia”, disse, garantindo que, depois da invasão, Vladimir Putin é um “zé-ninguém” para o Chefe de Estado da Ucrânia.

Além disso, Zelensky acredita que o seu homólogo russo não quer negociações, porque Vladimir Putin “não quer a paz”. “Estou convencido que a Ucrânia é apenas o primeiro passo para ele. Estou convencido que ele está a preparar uma grande guerra” e poderá invadir “outros países”, advertiu, acrescentando que o Chefe de Estado da Rússia crê que o mundo “não ficará unido” e “vai cansar-se” de apoiar a Ucrânia.

5) As tentativas de assassínio

Questionado sobre o início da invasão, em que a Rússia enviou uma batalhão para o assassinar, Volodymyr Zelensky confessou que não “tem ideia” sobre quão perto estiveram os mercenários russos de concretizar a sua missão. “Houve algumas pessoas a serem detidas perto daqui, a alguns quilómetros daqui”, recordou, assegurando que os serviços de informações estiveram sempre empenhados em protegê-lo.