A polícia da cidade de Memphis, no estado norte-americano do Tennessee, divulgou na sexta-feira à noite os vídeos captados pelas câmaras corporais dos agentes que mataram o jovem afro-americano Tyre Nichols na sequência de violência policial durante uma operação de controlo de trânsito.

Nas imagens, é possível ver os agentes a agredir violentamente o homem múltiplas vezes enquanto lhe ordenam insistentemente que se deite no chão — mesmo quando Nichols já se encontra prostrado. Além das imagens captadas pelas câmaras corporais, a polícia divulgou também uma filmagem captada por uma câmara de vigilância perto do local onde Nichols foi agredido pela última vez, antes da chegada da ambulância, que demorou mais de 20 minutos a chegar ao local.

Cinco polícias acusados nos EUA de homícidio de afro-americano em operação de trânsito

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O vídeo, que inclui o som completo da interação entre Nichols e os agentes, mostra também o jovem a gritar pela mãe enquanto é agredido pelos polícias, uma vez que as agressões fatais ocorreram a cerca de 70 metros da casa da mãe.

Tyre Nichols morreu no dia 10 de janeiro deste ano, já no hospital, por não ter resistido à gravidade dos ferimentos que sofrera três dias antes, a 7 de janeiro. O jovem foi espancado por cinco agentes da polícia de Memphis, também eles afroamericanos, que o mandaram parar durante uma operação Stop, devido à condução imprudente do jovem. Nichols estava a regressar a casa após ter passado a tarde num parque.

O jovem de 29 anos de idade repetiu várias vezes aos polícias que estava apenas a regressar a casa e que não tinha feito nada que justificasse a violência, mas os agentes ignoraram-no, continuaram a agredi-lo — incluindo com pontapés na cabeça — e ameaçaram atingi-lo com uma arma de taser.

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O caso, mais um numa série de mortes de pessoas afroamericanas às mãos da polícia nos últimos anos, gerou grande indignação pública nos Estados Unidos. Nos últimos dias têm-se repetido protestos em várias cidades do país contra a violência policial — e a última noite ficou marcada por protestos ainda mais violentos na sequência da divulgação do vídeo.

Os cinco agentes policiais que mataram Tyre Nichols foram despedidos da polícia e neste momento encontram-se detidos, enfrentando acusações de homicídio em segundo grau, agressão agravada, sequestro agravado, má conduta e opressão. A polícia de Memphis confirmou que os agentes tinham violado “múltiplas políticas do departamento, incluindo o uso excessivo de força, o dever de intervir e o dever de prestar ajuda”.

Na sequência dos violentos protestos que se verificaram em várias cidades norte-americanas na última noite, o Presidente dos EUA, Joe Biden, publicou um comunicado apelando às manifestações pacíficas e garantindo que também se sentiu “ultrajado” com o vídeo.

“Como muitos, senti-me ultrajado e profundamente magoado ao ver o vídeo horrível das agressões que resultaram na morte de Tyre Nichols. É mais uma recordação dolorosa do medo profundo, do trauma, da dor e da exaustão que os americanos negros experienciam todos os dias”, escreveu Joe Biden.

“O meu coração está com a família de Tyre Nichols e com os americanos em Memphis e em todo o país que estão de luto por esta perda tremendamente dolorosa”, acrescentou. “Os vídeos que foram divulgados esta noite vão deixar as pessoas justificadamente furiosas. Aqueles que procuram a justiça não devem voltar-se para a violência ou a destruição. A violência nunca é aceitável; é ilegal e destrutiva. Junto-me à família de Nichols no apelo a uma manifestação pacífica.”

O Presidente norte-americano disse ainda que falou na sexta-feira com a mãe e o padrasto de Tyre Nichols. “Não há palavras para descrever o desgosto e a dor de perder um filho amado e um jovem pai”, afirmou Biden. “Nada poderá trazer Nichols de volta à sua família e à comunidade de Memphis”, disse ainda, acrescentando que, no entanto, a família de Nichols “merece uma investigação rápida, completa e transparente”.

“Temos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para assegurar que o nosso sistema de justiça criminal está à altura da promessa de uma justiça justa e imparcial, do igual tratamento e da dignidade de todos”, afirmou ainda Biden, salientando que foi esse o motivo que o levou a chamar a si a responsabilidade por aprovar, por via de uma ordem executiva, os pressupostos da lei da justiça policial (batizada com o nome de George Floyd) bloqueada pelo Partido Republicano no Senado.

A cidade de Nova Iorque tem sido o principal palco dos protestos nas últimas horas, como mostram várias imagens dos meios de comunicação social norte-americanos.

Várias pessoas já foram detidas em Nova Iorque por vandalismo, com a violência a ter como alvos especialmente os carros e as instalações da polícia da cidade.