(Notícia corrigida com valor da perda do BCP na Polónia. As perdas foram de 525 milhões mas o BCP tem 50% da instituição, ou seja, couberam ao grupo cerca de 216 milhões de euros.)

O MillenniumBCP fechou o exercício de 2022 com um lucro de 207,5 milhões de euros, o que compara com os 138 milhões do ano anterior. Este é um aumento de cerca de 50% nos resultados do banco, conseguidos apesar das perdas assumidas na operação polaca do banco, que há vários anos vê os lucros penalizados pelas decisões judiciais relacionadas com os créditos hipotecários indexados a francos suíços.

Esse efeito impactou os resultados do grupo BCP em mais de 216 milhões de euros, revelou o banco. As perdas do banco polaco foram de 525 milhões, metade das quais dizem respeito ao BCP porque tem 50% do capital.

Trata-se de um tema antigo, mas só nos últimos anos começou a haver uma maior necessidade de aprovisionar estas perdas porque as decisões judiciais começaram a ir mais no sentido de dar razão aos clientes, que tinham contraído empréstimos bancários indexados ao franco suíço que levaram a que as dívidas das famílias com esses empréstimos aumentassem aquando da valorização do franco suíço face à moeda local, o zloty. Cerca de 8,1% da carteira do BCP ainda está relacionada com este problema (11,4% em 2021).

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A informação sobre os resultados anuais foi publicada pelo banco esta segunda-feira, através de comunicado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), e está a ser apresentada em conferência de imprensa pela administração liderada por Miguel Maya. O presidente da comissão executiva do BCP sublinhou, perante os jornalistas, que o banco entregou 62,2 milhões de euros em contribuições obrigatórias exigidas ao setor bancário nacional, um desnível concorrencial a nível europeu que Miguel Maya reiterou que não compreende como é que ainda não foi alterado.

O banco aumentou a margem financeira em 35%, para 2.149 milhões de euros, um indicador que espelha a diferença entre aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos, BCE, etc) e os juros dos créditos que cobra – Miguel Maya admite que a subida das taxas de juro teve um impacto positivo nas contas do banco (que não quantifica), mas salienta que não houve a mesma preocupação quando as taxas de juro eram negativas e o banco estava impedido, por lei, de passar essas taxas negativas para os depósitos.

As receitas com comissões aumentaram 6%, para 772 milhões de euros, que Miguel Maya justifica com uma “maior transacionalidade” por parte dos clientes. As comissões só na operação portuguesa aumentaram 9% (para 561 milhões).

BCP renegociou 4.000 créditos. “Há portugueses a passar dificuldades”, diz Miguel Maya

Miguel Maya revelou que o banco está a renegociar ou já renegociou créditos à habitação de 4.000 pessoas ao abrigo da nova legislação apresentada pelo Governo. Isto entre os mais de 250 mil clientes que o BCP contactou no âmbito deste processo. “Há clientes em dificuldades, há portugueses que estão a passar dificuldades e têm necessidade de reestruturar” e “esses portugueses sabem que contam com o BCP”, disse Miguel Maya.

“Não estamos a dizer às pessoas que não devem fazer a renegociação, estamos a dizer que devem fazer só se for necessário“, acrescentou o banqueiro, garantindo que “o BCP estará cá para o que for necessário”. Sobre as novas medidas apresentadas pelo Governo a 16 de fevereiro, incluindo a bonificação de juros, Miguel Maya não comentou em concreto mas disse ver “com bons olhos” os apoios que sejam bem direcionados, para quem realmente precisa, deixando implícito que não concorda com apoios demasiado alargados.

Estes resultados permitiram ao banco registar um rácio “return on equity” (ROE) que sobe de 2,4% para 4%, sendo este o rácio que reflete a rendibilidade dos capitais próprios investidos pelos acionistas do banco. O objetivo do banco para 2024 é de chegar aos 10% de ROE, de acordo com o plano estratégico apresentado antes da pandemia. Além desse impacto, Miguel Maya destacou, também, o impacto da guerra e do surto inflacionista – “os últimos anos foram anos muito desafiantes”, afirmou o gestor.

Já outro rácio importante para os bancos, o rácio cost to income, melhorou de 48% para 37%, um indicador que relaciona os proveitos do banco com os custos (quanto mais baixo, maior é a eficiência).

Por ser a apresentação dos resultados anuais, o evento contou, também, com a presença de Nuno Amado, presidente do conselho de administração do banco. Nuno Amado destacou que o BCP é o único banco cotado de base portuguesa e que tem em Portugal o seu mercado mais importante – quer em tempos de crise como em tempos de crescimento. “Vemos 2023 com cautela mas, também, com otimismo moderado porque sabemos o que fizemos”, disse Nuno Amado, acrescentando que o banco vai estar atento a “oportunidades” que surjam em Portugal e noutros países.

Sobre o Novo Banco, Miguel Maya acrescentou que o BCP não está ativamente à procura de uma operação para comprar no mercado, mas está “em condições” para analisar se ela surgir – embora a prioridade do banco seja de continuar com o crescimento orgânico.

Quase metade dos créditos nos últimos meses foram em taxa fixa (ou mista)

Questionado pelo Observador na conferência de imprensa, Miguel Maya revelou que o BCP ao longo dos últimos anos passou a ter oferta de taxa fixa como produto que era regularmente oferecido aos clientes. “Em 2020 a produção de taxa mista/taxa mista representaram 39% da produção. Em 2021 foram 31%, em 2022 foram 26% e 43% da produção dos últimos meses tem taxa fixa” (neste caso mista, incluindo um período de taxa fixa”.

Não precisamos de medidas legislativas para termos o nosso portefólio de taxa fixa, vamos continuar a ter uma perspetiva adequada, a cada momento”, disse Miguel Maya.

“A nossa obrigação é esclarecer o cliente, não é nossa obrigação decidir pelos clientes”, afirmou Miguel Maya, afirmando que, “pessoalmente, se tivesse de contratar um crédito contrataria com taxa fixa, não para a totalidade do prazo mas com uma componente de taxa fixa”.