A escassez de vegetais manifesta-se de várias maneiras no Reino Unido. Prova disso é o facto de restaurantes italianos em todo o país terem começado a mudar algumas das suas receitas, muitas das quais têm por base um dos alimentos mais afetados por esta crise: o tomate. As pizzas começam a desaparecer dos menus ou, em contrapartida, a aparecer em alternativas “brancas”, substituindo-se a base de tomate por outros ingredientes, como o queijo ou o courgette.

Com efeito, a escassez de legumes tem levado a um aumento exponencial no preço dos alimentos, com o tomate em primeiro lugar do ranking. Estimativas feitas pelo setor da restauração apontam para que uma caixa de tomates aumentou 400% num só ano, de 5 libras para 20 (5,68 euros para 22,74, à taxa de câmbio atual). Já o tomate enlatado aumentou para o dobro do preço no mesmo período, de 15 libras para 30 (17,05 euros para 34,11).

“As nossas cadeias de fornecimento estão a ceder, e começamos a assistir a algo que pode ser um prelúdio de uma crise enorme”, disse Tim Lang, professor universitário especialista em políticas alimentares, ao jornal britânico The Guardian.

A restauração também começa a sentir os efeitos da crise. Enzo Oliveri, presidente da Federazione Italian Cuochi UK (Federaçao Italiana de Chefs do Reino Unido, ou FIC UK na sigla inglesa), diz que vários estabelecimentos serão levados à falência. O chef de cozinha explica que, por norma, exporta os seus tomates de Espanha e Marrocos, mas agora tudo é diferente: “Por causa da escassez, não consigo arranjar tomates em lado nenhum”.

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Ao The Guardian, Oliveri deu como exemplo a pizza para ilustrar a gravidade da situação. “[Estamos a fazer] ‘pizzas brancas’, com molhos claros para a massa ou com menos tomate. Estamos a fazer disto uma trend porque os preços estão a aumentar e por causa da escassez“.

Carmelo Carnevale, presidente do Consórcio de Cozinha Italiana, fez eco das queixas, descrevendo a situação como “muito stressante para todos”.

Os tomates estão em muitos dos nossos pratos. Como empresas, promovemos uma imagem ‘made in Italy’, e temos de manter essa imagem sem comprometermos a sua qualidade. Também não podemos aumentar os preços, por isso não estamos a obter nenhum lucro”, explicou o representante do setor.

O governo britânico tem justificado o problema com o mau tempo na Europa e no Norte de África, e com os aumentos no preço da eletricidade que afetaram a produção em estufas no Reino Unido e nos Países Baixos.

A escassez já começou a levar inclusive ao racionamento de algumas frutas e vegetais — o maior supermercado britânico, a Tesco, por exemplo, decretou que os clientes só poderão comprar três embalagens de tomate de uma vez.

Limite de três embalagens de tomate e pepino por cliente. Porque estão a faltar legumes nos supermercados britânicos?