O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, disse esta quarta-feira à Lusa que Portugal foi chamado a partilhar com outros países as suas experiências ao nível de gestão de rios internacionais no âmbito da Conferência da Água 2023.

Na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o ministro indicou que Portugal está empenhado em responder aos apelos do secretário-geral, António Guterres, para uma maior cooperação entre países numa gestão conjunta da água, dando como exemplo a assinatura da Convenção de Albufeira sobre a gestão da água com Espanha, há 25 anos.

“Foi pedido a Portugal para procurar partilhar com outros países as suas experiências ao nível desta gestão, as dificuldades que estamos a ter, e formas de podermos ajudar – ao nível de metodologia – outros países que também necessitam de gestão de rios internacionais”, afirmou Duarte Cordeiro.

Barragens. APA “muito preocupada” com nível da água em Trás-os-Montes

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Realmente Portugal tem um excelente exemplo na relação como gere os rios internacionais com Espanha. O ano passado foi um ano muito difícil, em que tivemos que gerir com Espanha um contexto de seca dos dois lados, em que tivemos que perceber qual era a melhor solução para cada rio internacional ao nível dos caudais. (…) Este é um exemplo internacional, porque a cooperação diplomática na gestão de rios internacionais em muitos aspetos não existe”, advogou.

Ainda sobre a Convenção de Albufeira, o governante indicou que foi estabelecida uma equipa técnica conjunta que estará três anos em Espanha e três anos em Portugal, visando uma melhor gestão futura desta convenção num contexto de alterações climáticas.

Além disso, durante a Conferência da Água, que decorre em Nova Iorque, Portugal terá reuniões com países como Cabo Verde e Ucrânia no âmbito de “uma política de cooperação ativa”, em que “procura responder e ajudar”.

“Felizmente, no domínio da água, o nosso país tem quadros técnicos de excelência, alguns deles peritos internacionais com mais de 30 anos de trabalho. Temos instituições também muito capazes de estabelecer cooperação internacional, como o grupo Águas de Portugal ou a agência ADENE que trata da parte de eficiência da energia, mas também da água”, indicou à Lusa Duarte Cordeiro.

Seca: 64 albufeiras com 80% de capacidade

“Temos procurado responder a estes apelos e a estas conferências, procurando expandir, dentro do possível, a nossa capacidade de cooperar. Também temos utilizado o Fundo Ambiental para financiar alguns projetos internacionais”, acrescentou.

Duarte Cordeiro participou na reunião plenária da Conferência da Água, onde relatou os problemas que Portugal enfrentou no ano passado, referindo-se à conjugação de baixa precipitação com ondas de calor de frequência e intensidades invulgares, que fizeram de 2022 um dos anos mais secos desde que há registos.

“Apesar de se antever que, no futuro, a situação venha a ser ainda mais preocupante, acreditamos que estamos hoje melhor preparados para responder a estes desafios. Saibamos cooperar, construir uma agenda e instrumentos eficazes a nível internacional”, disse o responsável pela tutela do ambiente perante o corpo diplomático presente na sessão.

“Partindo da nossa experiência e das lições aprendidas, queremos contribuir (…) para a Agenda de Ação para a Água, tão necessária quanto urgente. Não estaremos a cumprir com a nossa missão enquanto houver uma pessoa sem condições dignas de acesso seguro e acessível a água”, declarou.

De acordo com o ministro, Portugal procurou ajudar a posicionar este tema o ano passado, quando acolheu a Conferência dos Oceanos em Lisboa, assim como um Simpósio que procurou fazer a associação entre o Objetivo Desenvolvimento Sustentável seis – que diz respeito à garantia da água potável e saneamento para todos -, com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, relativo à proteção da vida e ecossistemas marinhos.

“É muito importante compreender que estes dois objetivos estão interligados, que é preciso uma visão única para a água e que o caminho de evolução na garantia do saneamento e da água de qualidade também é o caminho para garantir a qualidade nas águas costeiras”, reforçou, em declarações à Lusa.

Seca. Península Ibérica com “condições mais secas do que habitual” até novembro, alerta Bruxelas

“Nós trazemos desde logo o nosso próprio exemplo. Há 30 anos tínhamos pouco mais de 55% da água com qualidade, agora Portugal tem quase 99% da água com qualidade. Há cerca de 30 anos, tínhamos algo como 28% da população com acesso ao saneamento. Nós temos mais de 85%. E em que é que isso se refletiu? Na qualidade da água do mar das nossas praias. Se temos um número tão grande de praias como bandeiras azuis, resulta de todo este trabalho que foi feito de proteção”, sublinhou o governante.

A partir desta quarta-feira e até sexta-feira, na Conferência da Água, a primeira do género desde 1977, a ONU procurará alcançar compromissos de todo o mundo para uma transformação radical na forma como a água é gerida.

Além das sessões plenárias, o encontro contará com diálogos sobre temas específicos como “Água e Saúde”, “Água e Desenvolvimento Sustentável” ou “Água e Mudanças Climáticas” e cerca de 550 eventos paralelos, tanto no complexo da ONU quanto em outras zonas de Nova Iorque.