Os produtores de leite acusam Mário Centeno de não conhecer a realidade da agricultura do país após o governador do Banco de Portugal questionar a razão pela qual o preço da produção de alguns produtos (como o leite) não desce em Portugal como está a acontecer na Europa.

Inflação. Mário Centeno não percebe porque é que há preços de produtos que não baixam

A APROLEP — Associação dos Produtores de Leite de Portugal considera que Mário Centeno não conhece a realidade do setor, que está a perder cada vez mais produtores.

Em declarações à Rádio Observador, esta quinta-feira, Marisa Costa, vice-presidente da associação, garante que é impossível reduzir o preço da produção de leite, uma vez que isso pode colocar em risco todo o setor. “Isso mostra que, de facto, Mário Centeno não conhece sequer o país e as vicissitudes da agricultura portuguesa. Portugal foi o último país a quem se subiu o preço à produção, porque desde 2016 éramos o país mais mal pago da Europa. Portanto, não pode haver uma redução do preço do leite à produção porque as matérias primas continuam caríssimas, os custos de produção continuam altíssimos”, explica.

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Produtores de leite acusam Mário Centeno de “não conhecer a realidade da agricultura” do país

Para Marisa Costa, que também é produtora de leite, uma diminuição dos preços pode levar a uma redução na própria produção, o que pode vir a dminuir os produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados. Com o leite a constar do cabaz de produtos alimentares essenciais elaborado pelo Governo, a vice-presidente da APROLEP afirma que os produtores não sabem como e quando vão receber apoios para manterem os preços.

À Rádio Observador, Marisa Costa revela ainda que já existem empresas a anunciar que vão comprar o leite mais barato devido ao facto de este passar a ter IVA zero: “O que sabemos é que este apoio poderá vir a representar um cêntimo por litro de leite. Eu posso partilhar que já houve aqui uma empresa, que é a Bel, que produz os queijos Limiano, que logo após a descida do IVA anunciou uma descida à produção de 15%”.

Veja a lista de 44 produtos do cabaz alimentar que passam a ter IVA zero

Em comunicado intitulado “Pacto para esmagar a produção de leite”, também divulgado esta quinta-feira, a APROLEP detalha que “os produtores de leite da empresa Fromageries Bel Portugal, multinacional que produz os queijos Limiano e Terra Nostra, foram informados da intenção de baixar o preço em 7,8 cêntimos por litro aos seus fornecedores a partir de 1 de maio”, naquela que é uma redução de 15%. Também outra empresa, a Penlac, “comunicou a baixa de 5 cêntimos, já com efeitos retroativos a partir de 1 de março”. Por isso, a associação que representa o setor apela que as “restantes empresas tenham uma atitude diferente e mais responsável”.

Considerando que “os produtores de leite foram os que mais sofreram os efeitos da inflação no custo dos fatores de produção desde 2021”, a APROLEP alerta que “o apoio aos agricultores portugueses no valor de 140 milhões de euros anunciado no pacto [para a estabilização e redução de preços dos bens alimentares] não compensa” a redução de preço anunciada pelas empresas. “Com a promessa de 1 cêntimo de ajuda, tiram-nos 8 cêntimos na faturação imediata!” diz a associação. “Parece evidente que as indústrias se pretendem aproveitar das ajudas anunciadas para voltarem a espremer a margem dos produtores”, lê-se na nota.

A Associação dos Produtores de Leite de Portugal recorda ainda que, entre outras coisas, o “anúncio de redução do preço do leite acontece numa altura em que as rações das vacas leiteiras, que representam 60% das despesas de uma vacaria, permanecem com os preços mais elevados de sempre” e os “fertilizantes continuam com preço elevado, apesar de ligeira redução”. “Qualquer descida no preço do leite levará ao abate de animais, abandono da produção e à falta de leite nas prateleiras”, defende.