Seria um ingrediente secreto. Leonardo Da Vinci, Sandro Botticelli e até Rembrandt foram “acusados” de usar gema de ovo nas suas pinturas clássicas, revela um estudo citado pela CNN. O uso da proteína realça mais as cores deste tipo de quadros, segundo Ophélie Ranquet do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, e uma das autoras da investigação publicada esta semana na Nature Communications.

A junção de gema de ovo com pigmentos e água, uma técnica de pintura denominada tempera, começou a ser implementada em Itália por volta do século XV. A técnica foi inicialmente usada no Antigo Egito.

Já a pintura com tinta de óleo, um método vulgarmente utilizado por artistas desde o século VII, usa pigmentos também, mas difere da tempera por substituir a água com óleo de linhaça ou de cártamo.

Apesar das suas valências, uma secagem mais longa que permite correções, a pintura a óleo cria pequenas mudanças nos quadros, nomeadamente o aparecimento de “rugas” na tela. A pintura, ao “envelhecer”, cria distorções, sendo o método também sensível à luz.

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Um dos exemplos marcantes deste enrugamento prende-se com “A Madona do Cravo” (de 1475), um dos primeiros quadros de Da Vinci. O processo de criação de rugas dura meros dias, permitindo aos artistas corrigirem rapidamente as falhas na tela.

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Por outro lado, a gema do ovo, que possui vitamina E e A, ricas em antioxidantes, é capaz de retardar a degradação da pintura. A oxidação causa a remoção completa da tinta ao fim de algum tempo a mostrar sinais visíveis de deterioração. Assim, os artistas começaram a explorar outros métodos, como o uso da proteína, para dar mais durabilidade à tinta.

Os investigadores do estudo testaram a componente da gema de ovo com água destilada, óleo de linhaça e pigmento, chegando à conclusão de que as propriedades antioxidantes da proteína levavam a uma maior tonificação das cores. A investigação uniu a cor azul (ultramarino) com cor branca.

Ophélie Ranquet advoga que o pigmento branco é “bastante sensível à humidade”, mas se for revestido com uma camada proteica, fica “muito mais resistente”. Quando a tinta é aplicada com bastante humidade no ar, o tempo de secagem é maior e dá-se o fenómeno da condensação, podendo fazer com que a tinta se levante ou não adira da forma mais adequada. Elementos antioxidantes, neste caso, são fundamentais para evitar esta ocorrência e capazes de substituir um maior uso de pigmento.

Já a “Lamentação de Cristo”, de Sandro Botticelli, foi outra obra de arte de interesse para os investigadores, devido ao uso da tempera nalgumas partes do quadro. Os investigadores detetaram ainda técnicas da pintura a óleo em alguns elementos secundários do quadro, revela Ranquet.

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Maria Perla Colombini, professora na Universidade de Pisa, revela também à CNN que o estudo traz ao de cima um maior entendimento sobre os métodos implementados pelos pintores clássicos.

“Este conhecimento contribui não apenas para uma melhor conservação e preservação das obras de arte, mas também para uma compreensão da história da arte”, sublinha.