O BuzzFeed tomou a decisão de encerrar o seu site de notícias. Foi através de um memorando enviado aos funcionários que Jonah Peretti, CEO e fundador da empresa-mãe, anunciou, na passada quinta-feira, que não era possível “continuar a financiar o BuzzFeed News”.

Jonah Peretti explicou que tomou “a decisão de investir em excesso” no BuzzFeed News por “adorar” o conteúdo que aí era produzido, mas reconheceu que demorou a aceitar que as redes sociais não fornecem o apoio financeiro necessário para “apoiar o jornalismo premium e gratuito” e para tornar o negócio rentável. Entre os desafios que levaram ao encerramento, o CEO, citado pelo The Verge, listou “uma pandemia, um mercado SPAC [Special Purpose Acquisition Companies] enfraquecido que rende menos capital, uma recessão tecnológica, uma economia difícil, um mercado de ações em declínio, um mercado de publicidade digital em desaceleração e mudanças contínuas nas audiências e nas plataformas”.

De acordo com o The Guardian, o fecho da divisão de notícias afetará cerca de 60 dos 1.200 funcionários do BuzzFeed. Ainda assim, alguns desses trabalhadores receberão propostas para integrar a equipa do HuffPost e do BuzzFeed.com. Peretti adiantou ainda que existirão despedimentos nos restantes departamentos: serão despedidas 180 pessoas, cerca de 15% da força de trabalho do BuzzFeed. A empresa garantiu que vai continuar a publicar notícias no HuffPost, site que comprou em 2020 e que, segundo o CEO, é lucrativo e menos dependente das redes sociais.

O BuzzFeed News produzia conteúdos virais, como questionários, e investia em reportagens que acreditava que serviriam para atrair anunciantes. Ganhou, em 2021, o prémio Pulitzer com uma reportagem em que eram utilizadas imagens satélite para identificar uma nova infraestrutura construída pelo governo chinês para a “detenção em massa” de muçulmanos.

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Há 10 anos, a empresa-mãe chegou a atingir cerca de 130 milhões de visitantes únicos por mês, sucesso que a colocou no “radar de gigantes”. Ben Smith, antigo editor-chefe do BuzzFeed, relembra no seu novo livro Traffic que a Disney tentou comprar a empresa, mas que não teve sucesso porque Peretti desistiu do negócio, uma atitude que terá deixado Bob Iger, CEO da interessada, furioso.

Se anteriormente fez sucesso ao procurar nas redes sociais conteúdo com potencial para se tornar viral e escrever sobre ele para um público mais amplo, atualmente o BuzzFeed tem lutado pela sua sobrevivência. Já em dezembro do ano passado se tinha visto obrigado a demitir 12% da sua força de trabalho (percentagem correspondente a cerca de 180 funcionários), como resposta a “condições macroeconómicas desafiantes” e para resistir “a uma crise económica”.

O The Verge escreveu em novembro do ano passado sobre o BuzzFeed, questionando o que se seguia para o negócio após mais de dez anos. Nesse artigo, o site dava conta de que a empresa tinha gastado, em 2013, quase 10 milhões de dólares em visualizações de anúncios no Facebook e noutras plataformas que eram versões patrocinadas dos seus artigos: como, por exemplo, um texto sobre gatos patrocinado por uma empresa que vendia alimentos para animais de estimação. Contudo, quando a rede social de Zuckerberg alterou o algoritmo para reduzir o clickbait, o alcance do BuzzFeed ficou significativamente mais limitado.

Por outro lado, o serviço que oferecem — os artigos baseados em conteúdos de utilizadores das redes sociais — já não é único. A ascensão de plataformas como o TikTok e o Instagram permite que os utilizadores e as suas histórias fiquem virais — sem precisarem de sites terceiros para terem mais alcance. Além disso, Jonah Peretti tentou diversificar o modelo de negócio e apostar nos podcasts, mas o departamento responsável foi dissolvido com o CEO a alegar que a equipa de negócios era “má a vender podcasts para clientes”.

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