Ainda antes do início do encontro, numa daquelas gaffes que são corrigidas em poucos segundos mas que a partir do momento em que entram nas redes sociais ficam gravadas para sempre, a própria UEFA colocava já uma final entre Real Madrid e Inter. Seria isso uma premonição para mais uma noite de glória dos espanhóis da Europa? Estaria isso em consonância com o facto de Carlo Ancelotti, o velho sábio que parece saber mais a dormir do que muitos acordados, bater o recorde de jogos realizados na Liga dos Campeões? Quando a bola começou a rolar, claramente não. E mesmo para quem considerava que o Manchester City poderia mesmo ganhar, poucos poderiam imaginar que a segunda mão das meias-finais terminaria em goleada (4-0).

Bernardo, o pequeno génio que sabe tudo de bola e chegou à ficha de jogo (a crónica do Manchester City-Real Madrid)

Ao todo, os citizens levam 23 jogos sem perder, fizeram 12 jogos na presente edição com sete vitórias e cinco empates, alcançaram a 27.ª vitória em 29 encontros realizados esta época (perderam apenas uma partida com o Brentford nos descontos), aumentaram a atual série de 26 jogos sem perder na Liga dos Campeões em casa, sendo que nos últimos 19 a formação inglesa somou 18 triunfos. Os números ajudam a explicar a segunda presença do clube na história na final da Liga dos Campeões depois da derrota em 2021 frente ao Chelsea no Porto, mas a história da noite mágica no Etihad foi escrita em grande parte por um português.

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Bernardo Silva, autor dos dois primeiros golos numa exibição gigante que lhe valeu no final o prémio de MVP da partida, foi o grande destaque da noite, quase que comprovando as palavras elogiosas que Pep Guardiola tivera após a primeira mão dos quartos da Liga dos Campeões frente ao Bayern no Etihad.

“O Bernardo Silva é um jogador de futebol. O que é que isso quer dizer? Ele vai jogar em qualquer lado, porque entende o jogo e todas as ações com e sem bola. Quando o [Alphonso] Davies arranca, não consegues pará-lo, mas o Bernardo tem a capacidade de ler as posições, dar-nos o passe extra. É tão importante neste tipo de jogos. Pode jogar a médio de contenção. É tão, tão importante e ultimamente tem marcado muitos golos, algo que lhe tem faltado. Mas agora tem sido decisivo. É um jogador a quem dizes para jogar numa posição e depois não tens de acrescentar nada. Tive a sorte de treinar jogadores muito bons no Barcelona e Bayern. É um dos melhores que treinei em toda a minha vida, é algo especial em termos de jogador de futebol”, destacara o treinador após esse encontro que terminou com uma vitória por 3-0.

O maior elogio de Pep com a frase mais simples possível: “O Bernardo é um jogador de futebol, dos melhores que treinei na vida”

Bernardo Silva tornou-se o primeiro jogador a marcar dois golos num jogo das meias-finais da Champions desde Rodrygo, quando o brasileiro foi o “vilão” do Manchester City na segunda mão no Santiago Bernabéu. A par desses momentos que faziam a diferença ao intervalo, o internacional português teve 90% de eficácia de passe entre 52 passes feitos, tocou 81 vezes na bola, fez três remates, completou dois passes longos e ganhou um duelo aéreo ao longo dos 90 minutos que terminaram como um dos melhores jogos da carreira numa fase em que se fala cada vez mais na possibilidade de poder sair no final da temporada.

“Marcou dois golos importantes e mostrou grande criatividade mas também um trabalho incansável pela equipa para pressionar e recuperar a bola na ala e depois no meio”, advogou o Painel de Analistas da UEFA que o distinguiu como MVP. “É uma noite fantástica para nós. Sabíamos que ia ser um encontro muito difícil mas ganhar a uma equipa como o Real por 4-0 em casa… É um sentimento fantástico voltar à final e espero que desta vez consigamos ganhar. Não me senti muito bem no final do primeiro jogo e hoje tinha de tentar fazer melhor pelos meus companheiros e pelos adeptos. Sou muito bom de cabeça, não sou? Sou muito pequeno mas sou bom a jogar de cabeça”, destacou Bernardo Silva à BT Sport. “Inter? “Vi o jogo, é uma equipa muito organizada. Vi também os jogos contra o Barcelona e o Bayern na fase de grupos. Também com o Benfica, porque é a minha equipa, e parecem muito fortes, bem organizados defensivamente, rápidos no contra-ataque e fortes nas bolas paradas. Vai ser difícil, mas vamos tentar”, salientou.

Nestas fases, neste tipo de jogos, o Bernardo está sempre presente. Um dos melhores jogadores que já vi na minha vida”, voltou a elogiar Pep Guardiola no final da partida à Eleven Sports.

“Estou muito contente, acima de tudo isso. Mais do que os dois golos, foi a qualificação para a final. Foi uma exibição especial de toda a equipa, fomos muito fortes coletiva e individualmente. O nosso público também nos puxou para cima. Nestes jogos a adrenalina está no máximo, queríamos todos estar na final. A descarga de adrenalina é sempre um sentimento fantástico. Golo de cabeça? Já nos quartos marquei de cabeça contra o Bayern… Não é muito normal mas aproveito sempre para ajudar. Agradeço o apoio dos portugueses. Quando era mais novo apoiava sempre os portugueses nas finais e acredito que estão connosco. Ganhar a Champions? Esperemos que sim, é uma competição que queremos muito ganhar, o clube também nunca ganhou. Queremos agarrar a oportunidade que nos escapou”, comentou depois na Eleven Sports.