O presidente do Governo da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, disse esta quinta-feira que o PS insular está a tentar “disfarçar a novela que está a ocorrer na Assembleia da República” e a “jogar essa lama” para a região.

“Não vale a pena tentarem disfarçar a novela que está a ocorrer na Assembleia da República e fazer uma cortina de fumo para a Madeira porque nós aqui não procedemos da mesma maneira. Ou seja, neste momento, nós assistimos aquele espetáculo lamentável que estamos a ver na Assembleia da República e tentam para aqui jogar essa lama”, afirmou Miguel Albuquerque (PSD), quando questionado sobre a queixa esta quinta-feira entregue pelo PS a propósito das denúncias feitas pelo ex-deputado do PSD Sérgio Marques sobre “obras inventadas”.

Falando aos jornalistas à margem da inauguração do Convento de Santa Clara, no Funchal, reaberto após obras de beneficiação, Albuquerque reiterou que “todo o processo de inquérito relativamente às declarações do Dr. Sérgio Marques decorreu de forma pública e foi esclarecedor relativamente a um conjunto de matérias que estavam entroncadas na opinião pública e que finalmente foram esclarecidas”.

“O que é que acontece? O feitiço virou-se contra o feiticeiro. O Partido Socialista pensava que ia fazer chicana política e tirar partido dessa comissão. Correu exatamente ao contrário. Ou seja, o PS fez aquela triste figura como é habitual fazer e, neste momento, desesperados, metem uma queixa no Ministério Público”, considerou.

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O PS/Madeira entregou esta quinta-feira no Departamento de Investigação e Ação Penal do Funchal uma queixa, conforme já tinha anunciado, relativa às denúncias feitas pelo ex-deputado do PSD Sérgio Marques sobre “obras inventadas, cedência a pressões e favorecimentos do Governo Regional a grupos económicos”.

“Em causa estão acusações muito graves e confissões de quem conhece o regime e o PSD/Madeira por dentro”, refere o líder da estrutura regional do PS, Sérgio Gonçalves, citado em comunicado, após a formalização da queixa.

A iniciativa surge na sequência da comissão de inquérito sobre o “favorecimento dos grupos económicos pelo Governo Regional, pelo presidente do Governo Regional e secretários regionais e obras inventadas em face da confissão do ex-secretário regional Sérgio Marques, em declarações ao Diário de Notícias”.

O relatório final da comissão, que ilibou o Governo Regional, foi aprovado em 9 de maio pela maioria PSD/CDS-PP, tendo o PS anunciado nesse dia que iria apresentar uma queixa no Ministério Público, por considerar que as declarações do ex-deputado social-democrata são suscetíveis de “configurar a prática de diversos crimes”.

O líder do PS regional afirma, no comunicado, ter havido uma “tentativa clara” de a maioria PSD/CDS-PP, que suporta o executivo em coligação, “esconder a verdade aos madeirenses”.

“Desde o primeiro momento dissemos que iríamos até às últimas consequências e a formalização desta queixa é precisamente isso, porque entendemos que existem indícios de várias práticas que podem ser consideradas crimes”, declarou Sérgio Gonçalves.

O socialista sublinhou que “compete agora ao Ministério Público deduzir as acusações e aos tribunais julgar aquilo que tiver de ser julgado”.

No âmbito da comissão de inquérito foram ouvidos o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (por escrito), os empresários Miguel de Sousa (Grupo Sousa) e Avelino Farinha (Grupo AFA), e o ex-deputado do PSD Sérgio Marques.

Em causa estavam acusações de Sérgio Marques, em declarações ao Diário de Notícias, publicadas em 15 de janeiro, de “obras inventadas a partir de 2000”, quando Alberto João Jardim (PSD) era presidente do executivo madeirense, e de grupos económicos que cresceram com o “dedo do Jardim”.

O social-democrata, que fez também parte do primeiro Governo de Miguel Albuquerque (PSD) como secretário regional do Assuntos Europeus e Parlamentares, entre 2015 e 2017, e à data das declarações era deputado do PSD à Assembleia da República pelo círculo da Madeira, afirmou ainda que foi afastado do cargo por influência de um grande grupo económico da região.