A Comunidade Israelita do Porto (CIP) diz ter informado o gabinete do primeiro-ministro, bem como os antigos ministros da Economia e da Justiça, sobre a possibilidade de Roman Abramovich investir em Portugal. Segundo uma carta que a CIP enviou ao comissário europeu da Justiça, Didier Reynders na passada quinta-feira, a informação foi passada a Costa a 30 de agosto de 2020, ou seja, oito meses antes de o milionário ter recebido a nacionalidade portuguesa, segundo noticia o Público.

O gabinete de António Costa dissera ao jornal que tinha tido “apenas conhecimento do processo de Roman Abramovich pela comunicação social”. Ao antigo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, a informação foi comunicada a 16 de setembro numa reunião com a CIP. O ex-governante disse agora ao Público que “foi uma visita de cortesia, sem nenhuma menção de investimentos em concreto ou a processos de nacionalidade”. Numa ata desta reunião, remetida pela CIP, que integra o processo de naturalização de Abramovich, pode ler-se que invoca motivos de “interesse nacional” que “envolvem o próprio Governo” com o objetivo de acelerar o processo de naturalização do milionário. A ex-ministra Francisca van Dunem terá sido informada a 19 de outubro, mas agora não respondeu ao contacto do jornal sobre este tema.

Comunidade Israelita do Porto pressionou Registos Centrais para darem nacionalidade a Abramovich com urgência

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A CIP terá solicitado ao membro do Governo para a área da Justiça na Conservatória dos Registos Centrais de Lisboa uma “declaração de urgência por razões de interesse nacional”, destacando a “recuperação da economia” e o “prestígio das instituições”, a 3 de fevereiro de 2021. O processo viria a desenvolver-se em poucos meses.

Reynders esteve em Portugal a 23 de maio e disse que a Comissão Europeia falou com o Governo português sobre a nacionalidade atribuída a pessoas russas, destacando nomes conhecidos como o de Abramovich, e alertou para a necessidade de parar, visto algumas estarem em listas de sanções. A CIP enviou uma carta ao comissário, em resposta a estas declarações, onde afirmou que o empresário “é português, não por ser russo, mas por ser judeu”, cita o jornal, ao abrigo de uma alteração à Lei da Nacionalidade de 2013 que permite a naturalização a descendentes de sefarditas que foram expulsos da Península Ibérica no século XV.

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