O Belcanto, do chef José Avillez, subiu até à 25.ª posição do ranking The World’s 50 Best, a melhor classificação de sempre para um chef português — na anterior edição ficou em 46.º lugar. “Trabalhamos muito todos os dias e sentimos que estamos cada vez melhores, mais criativos, mais consistentes, mais unidos como equipa, mas subir mais de 20 posições na mais importante lista de restauração do mundo, é algo incrível. Ser o 25.º melhor restaurante do mundo, nem sei bem o que isso quer dizer”, comentou o chef no final da cerimónia, lendo uma breve nota escrita que partilhou com a imprensa. “Reflete também a relevância crescente que Portugal  e a sua gastronomia e os chefs têm tido. Como sempre, é uma distinção de toda a minha equipa, da minha cidade, do meu país, e de todos os cozinheiros portugueses pelo mundo”, rematou.

O primeiro lugar do pódio foi para o peruano Central, restaurante em Lima, seguindo do Disfrutar, em Barcelona, e ainda do Diverxo, também uma Espanha (Madrid).

Estivemos no Palau des Arts, em Valência, para assistir à 21ª edição deste ranking, da responsabilidade de um painel de centenas de votantes anónimos, composto por cozinheiros, jornalistas especializados e outros agentes do setor da restauração do mundo inteiro.

É uma estreia absoluta: pela primeira em 21 anos de listagens do The World’s 50 Best Restaurants, um restaurante da América Latina alcançou o tão desejado primeiro lugar. O restaurante Central, que fica em Lima (Peru) e é gerido por Virgílio Martinez e Pía León (que em 2021 foi galardoada pelo mesmo 50 Best enquanto Melhor Chef Feminina do Mundo), substitui assim o dinamarquês Geranium, de Rasmus Kofoed, que arrecadou o topo do pódio na lista de 2022.

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Abençoada por uma espetacular noite de verão, a gala trouxe finalmente a glória ao Central, que desde 2013 faz parte da lista – ocupando várias posições mas mantendo-se quase sempre no top cinco nos últimos anos – e que já por quatro vezes foi considerado número um mas da listagem do 50 Best dedicada em exclusivo à América Latina (a mais recente foi no ano passado).

“São imensa emoções ao mesmo tempo, uma felicidade imensa. Mas vamos levar esta distinção com uma responsabilidade enorme, significa muito para a América Latina”, afirmou Pía León, no rescaldo do grande anúncio. “O que fazemos tem de ser especial porque é um reflexo da cultura e biodiversidade do nosso país”, rematou Virgílio ao demonstrar a tal responsabilidade que a sua mulher e colega chef tinha destacado. “Não queremos ser só o melhor restaurante do mundo, queremos também ser o melhor restaurante para se trabalhar no mundo. Esforçamo-nos muito para ser sempre melhores em todos os aspetos, há sempre mais por fazer e não vamos baixar os braços”, acrescentou o cozinheiro peruano. “Acima de tudo isto é uma grande motivação para continuarmos o nosso caminho”, afirmou Malena Martínez, irmã de Virgílio que também se juntou à conferência de imprensa por ser a responsável pela investigação e desenvolvimento de todo o universo que envolve o Central.

The World’s 50 Best. Geranium é o novo melhor restaurante do mundo. Belcanto, de José Avillez, no 46.º lugar

O Central junta-se então ao Olimpo dos anteriores números uns, os chamados “The Best of The Best”, onde se faz acompanhar de outros astros como Noma (chef René Redzepi, Dinamarca), o Mirazur (chef Mauro Colagreco, França) e ou a Osteria Francescana (chef Massimo Bottura, Itália), todos eles antigos números um. Todos estes felizes vencedores – apesar de Virgilio ser uma pessoa muito calma, não conseguiu esconder a felicidade ao subir ao palco – são excluídos da listagem ao ganharem o número um, regra implementada pela organização já há três anos para tornar as movimentações dentro da lista mais dinâmicas, evitando que fosse sempre um grupo de quatro ou cinco restaurantes a “monopolizar” o lugar cimeiro.

A equipa vencedora © Diogo Lopes

Pìa e Virgílio não só orientam este novo número um mas também são responsáveis pelo projeto de investigação Mater Iniciativa, que estuda e promove o ecossistema único dos Peru com enfoque especial não só em questões de fauna e flora mas também em traços culturais únicos desta nação sul americana. O trabalho de pesquisa e divulgação que aqui fazem alimenta não só o Central mas também outros dois restaurantes seus, o Mill e o Kjolle, ambos também no Peru. Recentemente abriram também um restaurante em Tóquio chamado Maz.

O melhor resultado para o português Belcanto

Em 2019, o Belcanto estreou-se no top 50 da lista (a contagem, na verdade, vai até ao 100º lugar, só os cinquenta primeiros são mais mediatizados) ocupando a 42.ª posição, 33 números acima daquele que ocupava na listagem de 2018, onde se ficou pelo 75.º lugar. Um ano depois, em 2021, o restaurante lisboeta trepou até à 42ª posição e em 2022 ficou-se pelo 46º lugar. Não sendo o melhor resultado de sempre para um espaço em solo nacional — o Vila Joya do austríaco Dieter Koschina ficou em 22.º em 2014 — esta é a melhor classficiação até à data para um chef português.

O Belcanto de José Avillez cresceu e mudou (para a porta ao lado)

Entre os 50 representantes de cada restaurante da lista encontravam-se também os vencedores dos prémios paralelos da organização. Um a um, com o já icónico cachecol vermelho aos ombros, subiram ao imponente palco do Palau das Arts os vencedores do: prémio de jovem promessa (“One to Watch”) para o Tatiana (em Nova Iorque, do chef Kwame Onwuachi); do prémio de melhor chef pasteleiro para Pía Salazar (do restaurante Nuema, em Quito); do prémio “Arte da Hospitalidade” para o Alchemist (do chef Rasmus Munk,, em Copenhaga); prémio para a melhor chef feminina para Elena Reygadas (chef do restaurante Rosetta, na Cidade do México); prémio para melhor sommelier do mundo para Miguel Ángel Milan (do Diverxo, em Madrid); prémio para a melhor entrada na lista para o Table by Bruno Verjus (em Paris, do chef Bruno Verjus); prémio “Icone” para Andoni Luis Aduriz (do irónico Mugaritz, no País Basco); o prémio “Escolha dos Chefs” para Julien Royer (do resataurante Odette, em Singapura); o prémio para maior subida dentro da lista para o Atomix (do casal JP Park e Ellia Park, que fica em Nova Iorque) o prémio dos “Campeões pela Mudança”, atribuído a projectos de cariz social, foi para Nora Fitzgerald Belahcen (do Amal center, em Marraquexe, que ensina mulheres desfavorecidas a cozinhar) e à dupla Damián Diaz e Othón Nolasco (do norte-americano No Us Without You, que apoia imigrantes em situação de fragilidade com comida e apoio legal); e finalmente o prémio de sustentabilidade, que foi entregue Fyn (na Cidade do Cabo, do chef Peter Tempelhoff).

A habitual foto de grupo no final da cerimónia © Diogo Lopes

Consulte em baixo a lista completa do top 50 e top 100 do “The World’s 50 Best Restaurants”:

1 – Central (Lima)
2 – Disfrutar (Barcelona)
3 – Diverxo (Madrid)
4 – Assador Etxebarri (Atxondo)
5 – Alchemist (Copenhaga)
6 – Maido (Lima)
7 – Lido 84 (Gardone Riviera)
8 – Atomix (Nova Iorque)
9 – Quintonil (Cidade do México)
10 – Table by Bruno Verjus (Paris)*
11 – Trèsind Studio (Dubai)*
12 – Casa do Porco (São Paulo)
13 – Pujol (Cidade do México)
14 – Odette (Singapura)
15 – Le Du (Banguecoque)*
16 – Reale (Castel Di Sargo)
17 – Gaggan Anand (Banguecoque)
18 – Steirereck (Viena)
19 – Don Julio (Buenos Aires)
20 – Quique Dacosta (Dénia)
21 – Den (Tóquio)
22 – Elkano (Getaria)
23 – Kol (Londres)
24 – Séptime (Paris)
25 – Belcanto (Lisboa)
26 – Schloss Schausenstein (Fürstenau)
27 – Florilège (Tóquio)
28 – Kjolle (Lima)*
29 – Boragó (Santiago)
30 – Frantzén (Estocolmo)
31 – Mugaritz (San Sebastian)
32 – Hisa Franko (Kobarid)
33 – El Chato (Bogotá)*
34 – Uliassi (Senigallia)
35 – Ikoyi (Londres)
36 – Plénitude (Paris)*
37 – Sézanne (Tóquio)*
38 – The Clove Club (Londres)
39 – The Jane (Antuérpia)
40 – Restaurant Tim Raue (Berlim)
41 – Le Calandre (Rubano)
42 – Piazza Duomo (Alba)
43 – Leo (Bogota)
44 – Le Bernardin (Nova Iorque)
45 – Noblehart & Schmutzig (Berlim)
46 – Orfali Bros Bistro (Dubai)
47 – Mayta (Lima)
48 – La Grenouillère ( La Madelein-Sur-Montagne)*
49 – Rosetta (Cidade do México)*
50 – The Chairman (Hong Kong)

51 – Narisawa (Tóquio)
52 – Hof Van Cleve (Kruisem)
53 – Brat (Londres)
54 – Alcalde (Guadalajara)
55 – Ernst (Berlin)
56 – Sorn (Banguecoque)
57 – Jordnær (Copenhaga)
58 – Lasai (Rio de Janeiro)
59 – Mérito (Lima)*
60 – La Cime (Osaka)
61 – Chef’s Table at Brooklyn Fare (Nova Iorque)
62 – Arpège (Paris)
63 – Neolokal (Istambul)**
64 – Aponiente (Cádiz)**
65 – Burnt Ends (Singapura)
66 – Turk Fatih Tutak (Istambul)*
67 – Le Clarence (Paris)
68 – SingleThread (Healdsburg)
69 – Zén (Singapura)
70 – Sud 777 (Cidade do México)
71 – Core by Clare Smyth (Londres)**
72 – Sühring (Banguecoque)
73 – Cosme (Nova Iorque)
74 – Nusara (Banguecoque)*
75 – Fyn (Cidade do Cabo)
76 – Oteque (Rio de Janeiro)
77 – Tantris (Munique)
78 – Alléno Paris au Pavillon Ledoyen (Paris)
79 – Nuema (Quito)*
80 – Flocons de Sel (Megéve)
81 – Azurmendi (Larrabetzu)
82 – Enigma (Barcelona)**
83 – Sazenka (Tóquio)
84 – Meta (Singapura)
85 – Enrico Bartolini (Milão)*
86 – Lyle’s (Londres)
87 – Ossiano (Dubai) *
88 – Potong (Banguecoque)*
89 – Mingles (Seoul)
90 – Wing (Hong Kong)
91 – Kadeau (Copenhaga)**
92 – Neighborhood (Hong Kong)
93 – Kei (Paris)*
94 – La Colombe (Cidade do Cabo)
95 – Ceto (Roquebrune-Cap-Martin)*
96 – Ricard Camarena Restaurant (Valência)*
97 – Labirynth (Singapura)*
98 – Saison (São Francisco)**
99 – Fu He Hui (Xangai)
100 – Muito (Cidade do Panamá)*

O “” assinala as novas entradas na lista e o “*” assinala os restaurantes que já estiveram na lista, saíram e agora voltaram a entrar.