A história tinha um lugar reservado para Mark Cavendish, só lhe faltou encontrá-lo. A não ser que volte atrás na decisão de deixar de correr no final de 2023, vai ficar para sempre estacionado nas 34 vitórias em etapas do Tour. Parece pouco, mas ninguém até ao dia de hoje — que marca o abandono do britânico da Volta a França — conseguiu fazer melhor. O ciclista da Astana Qazaqstan Team é que teve que pedalar até Eddy Merckx, belga que vai ficar permanentemente ao seu lado na lista dos ciclistas que mais venceram na competição e de quem não conseguiu largar a mão. Quando Cavendish procurava o inigualável, uma queda trouxe um cenário em que ninguém ainda tinha pensado: não chegar a Paris, onde um Arco o esperava com o triunfo que o ciclismo lhe vai ficar a dever.

Cavendish seguia tranquilo na traseira do pelotão. O mal fez-lhe por isso um ataque pelas costas. O ciclista caiu e estilhaçou as esperanças de chegar à 35.ª vitória. Foi à ambulância, mas não há remédio para um coração partido. Deixou o Tour com o ombro ligado e com as lágrimas escondidas por trás da porta do carro em que deixou o ponto que marcava os 60 quilómetros que faltavam até Limoges.

Tudo isto depois de um grande quase. Uma etapa pacífica que não trouxe nenhuma mudança no top-10 da classificação geral quase mereceu um capítulo especial nos livros de memórias. Na chegada a Bórdéus, ao sprint, no dia anterior, Mark Cavendish ficou a meros centímetros de se tornar no corredor com mais vitórias na Volta a França. Em vez disso, Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck) conquistou a terceira etapa na edição de 2023 do Tour.

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A vitória do belga suscitou de novo algum debate. “Imagino que possa haver algumas equipas a protestar contra o Philipsen, mas ele não me impediu [de sprintar], então não há nada de errado com isso. Ele veio da esquerda para a direita, mas não me obstruiu de forma alguma, então não me cabe a mim discutir”, disse Cavendish no final da etapa, revelando também que teve problemas nas mudanças, nos metros finais, que o impediram de estar ao melhor nível. “Estou muito desapontado.”

O mais prejudicado com o movimento de Philipsen foi Biniam Girmay (Intermarché-Circus-Wanty), que foi empurrado contra a barreira de segurança, algo que o ciclista da Alpecin-Deceuninck já tinha feito a Wout van Aert numa disputa anterior. “Em sprints perigosos é importante que todos respeitem as regras e pedalem em linha reta. Senti-me em perigo quando bati nas barreiras com o pé. Poderia ter acabado mal para mim e para todos os corredores atrás.”

Jasper Philipsen demonstrou porque é que lidera a classificação por pontos com 88 de vantagem sobre o segundo classificado, Bryan Coquard (Cofidis). “O homem na frente determina a linha, então saltei para a traseira dele. O Mark também começou ao meio e depois desviou-se para a direita. É lógico que o Girmay fique um pouco preso, mas é assim que funciona o sprint.

Tour: Philipsen vence pela terceira vez ao bater Cavendish na sétima etapa

Este sábado, a etapa 8 era a última hipótese para uma chegada em conjunto, visto que a subida ao Puy de Dôme, no domingo, antes do primeiro dia de descanso do Tour, levava a esperar um grau de exigência elevado. Já depois de Torstein Traaen (Uno-X Pro Cycling Team) ter caído pela segunda vez na Volta a França, Tim Declercq (Soudal-Quick Step), Anthony Delaplace (Arkea) e Anthony Turgis (TotalEnergies) colocaram-se em fuga a caminho de Limoges. O caminho não era particularmente duro, mas era irregular, com uma subida de terceira categoria e duas de quarta.

Bastante antes de o pelotão entrar na zona mais difícil do percurso, havia um sprint intermédio. Os três da fuga levaram o grosso dos pontos. No grupo principal, atrasado 5′ 12”, a BORA-hansgrohe e a Alpecin-Deceuninck trabalharam para colocar Jordi Meeus e Jasper Philipsen na melhor posição possível para conquistarem as sobras. A luta entre os dois belgas acabou por correr melhor ao camisola verde que somou mais 13 pontos.

O pelotão seguia a grande velocidade o que permitiu diminuir a distância para a fuga. Apesar de tudo, não havia cortes. Cavendish terminou por ali o Tour. Kasper Asgreen não se ficou lamentar e tentou, sozinho, apanhar o grupo da frente. O perfil do final da etapa podia não ser propício aos sprinters. No entanto, o pelotão conseguiu anular o espaço para os líderes e garantir uma chegada em compacto.

Com a Jumbo-Visma a dar a cara pelo pelotão, a sete quilómetros do fim, Victor Campenaerts (Lotto Dstny) tentou libertar-se da concorrência. Entretanto, Simon Yates, quarto da geral, e Mikel Landa, 11.º caíram. Perdendo o rasto ao grupo principal.

Jasper Philipsen voltou a estar na luta pela vitória, mas, desta vez, teve que se contentar com o segundo lugar. Mads Pedersen foi o vencedor da oitava etapa. O ciclista da Lidl-Trek estava desacompanhado dos colegas de equipa e com Philipsen na sua rota. Mesmo assim, conseguiu ser o mais rápido na chegada à meta. Wout van Aert era dos poucos sprinters que contava com a presença de colegas de equipa nos metros finais, mas não foi além do terceiro lugar. Simon Yates acabou por perder apenas dois lugares na classificação geral, que continua a ser liderada por Jonas Vingegaard, e Mikel Landa três.