De que adianta apostar em veículos 100% eléctricos se, para produzi-los, não se faz um esforço para diminuir a pegada de carbono, nomeadamente reduzindo a dependência de combustíveis fósseis no transporte marítimo que assegura a chegada às fábricas das matérias-primas necessárias para produção de automóveis e, depois, os leva para os diferentes destinos onde esses modelos são comercializados? Para a Volvo, está na hora de trocar os combustíveis fósseis nos navios porta-contentores por alternativas mais sustentáveis, razão pela qual a marca sueca acaba de anunciar que, a partir de agora, a maioria das viagens marítimas que sustentam a sua actividade industrial “será efectuada com energia resultante de combustíveis provenientes de fontes renováveis em vez da origem fóssil tradicional”.
Significa isto que, doravante, os milhares de contentores com materiais para abastecer as fábricas da marca passarão a ser transportados, via marítima, em barcos que queimam FAME, ésteres metílicos de ácidos gordos. Segundo a Volvo, este combustível “baseia-se em fontes renováveis e sustentáveis, principalmente óleo alimentar usado”, estando completamente descartado o recurso a matérias-primas relacionadas com o óleo de palma ou com a produção deste.
O construtor nórdico estima que esta sua decisão – “a primeira” do género tomada por um fabricante de automóveis global – se irá saldar num corte anual de 55.000 toneladas de CO2 nas emissões resultantes do transporte marítimo intercontinental, ou seja, uma diminuição de 84% comparativamente aos combustíveis fósseis. “Esta redução é equivalente às emissões de CO2 de um camião a conduzir 1200 vezes à volta do mundo”, explica a marca para fornecer uma ideia mais imagética da poupança do planeta.
A medida enquadra-se no compromisso assumido pela Volvo de alcançar a neutralidade carbónica na esfera produtiva já em 2025 e, até lá, reduzir a pegada de carbono associada ao ciclo de vida de cada automóvel em 40%, o que implica baixar em 25% as emissões operacionais. A logística, naturalmente, não está imune ao esforço transversal.
O chief operating officer da Volvo Cars, Javier Varela, admite que a preferência por combustíveis de fontes renováveis não é a derradeira medida para acabar com a emissão de CO2 no transporte marítimo de mercadorias, mas realça que é melhor do que nada. Baixar os braços e ficar à espera da panaceia não está, aparentemente, nos planos da Volvo. “Esta iniciativa mostra que podemos actuar já e implementar soluções que obtenham resultados significativos, enquanto esperamos alternativas tecnológicas de longo prazo. Não encaramos esta iniciativa como uma vantagem competitiva. Pelo contrário, queremos que os outros fabricantes de automóveis também entrem em acção, para aumentar a procura de transportes marítimos eficientes e estabelecer os combustíveis de fontes renováveis como uma solução a médio prazo que funcione”, desafia Varela.