Foi a mais de 1200 milhas da terra que um helicóptero que acompanhava uma traineira de atum ao largo da costa do México avistou uma pequena mancha na imensidão do Oceano Pacífico. Um pequeno catamarã branco, com mastro mas sem vela, seguia o movimento das ondas sem uma rota planeada. Lá dentro, estavam Tim Shaddock e a cadela Bella.

Era o primeiro sinal humano que a dupla via em cerca de três meses. Quando em abril partiram da cidade costeira de La Paz, no México, com destino à Polinésia Francesa nunca pensaram que pudesse acontecer aquilo que, semanas depois, se tornou real: uma forte tempestade atingiu o catamarã Aloha Toa danificando todo o sistema eletrónico. Nos meses seguintes, sobreviveram à deriva no Pacífico a comer apenas o peixe cru que Tim pescava e a beber água da chuva.

Australiano e cadela sobrevivem dois meses à deriva no mar a comer peixe cru e a beber água da chuva

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Quando avistaram Tim e Bella, rapidamente os pilotos do helicóptero entraram em contacto com a embarcação que seguiam. A Maria Delia aproximou-se com cuidado do catamarã, dando primeiro várias voltas ao seu redor para se certificar de que não havia perigo – e antes perguntarem ao tripulante se falava inglês. “Sim, senhor, muito obrigada”, respondeu Tim, com a sua longa barba e dois chapéus para se proteger do sol, como conta o jornal El País.

Depois de as autoridades se certificarem que não havia nem drogas nem armas no barco, Tim e Bella puderam, por fim, ser resgatados do Aloha Toa. Já a bordo do Maria Delia, o homem, engenheiro informático australiano na reforma e com 51 anos, mostrava sinais de confusão.

Ele [estava] incrédulo com a nossa presença, sinto que se sentiu perdido: virou-se, olhou para nós, a sua reação nem sequer foi emocional”, disse um dos tripulantes. Apenas quando se apercebeu que estava são e salvo, começou a chorar.

Aos dois foi-lhes prestada assistência médica. Bella estava saudável. Tim estava desidratado, desnutrido e apresentava sinais de insolação. No entanto, para alguém que ficou meses à deriva no mar, a sua forma física estava “extraordinariamente boa”. Segundo os especialistas, a companhia de Bella terá sido uma grande ajuda para a sobrevivência de Tim.

A 18 de julho, o dia esperado chegou. Maria Delia atracou no porto de Manzanillo, no México, com a dupla a bordo. Em terra, Antonio Suárez, presidente da Grupomar — a empresa proprietária da traineira de atum —, aguardava ansiosamente a chegada.

“Cheguei de manhã, fui ao barco e encontrei o Timothy. Ele abraçou-me. Estava preocupado porque não tinha dinheiro e perguntou-me quanto é que ia custar salvá-lo. Nada, estamos a salvá-lo de graça“, contou Suárez, citado no El País.

“Estou muito agradecido. Estou vivo, e pensei mesmo que não ia sobreviver. Por isso, obrigado. Muito obrigado”, disse Tim num vídeo publicado no Twitter pela AFP. “Vejam, eu sinto-me muito bem. Tenho tido dificuldades, a minha saúde esteve muito mal durante um tempo. Tive muita fome e pensei que não ia sobreviver à tempestade, mas agora estou mesmo bem“, acrescentou.

Quando questionado se vai voltar ao alto mar, Tim respondeu entre risos: “Provavelmente não”. Já sobre a refeição da qual estava mais ansioso por comer, respondeu com piada: “Sushi de atum.”