“A todos os que perguntaram, não irei à tomada de posse no dia 20 de janeiro”. Desde 8 de janeiro de 2021, nas vésperas da chegada oficial de Joe Biden à Casa Branca, que Donald Trump não publicava nada na rede social Twitter (agora denominada X). Dois anos e meio depois, regressou para publicar a já famosa “mugshot”, a fotografia que lhe foi tirada na prisão de Fulton, nos EUA, onde se entregou no âmbito de um processo criminal em que é acusado de conspiração para tentar alterar os resultados das eleições presidenciais de 2020.

A fotografia é acompanhada pela expressão “interferência eleitoral”  — numa alusão à campanha presidencial para regressar à Casa Branca em 2024 — e pelo link para o site oficial de Trump em que a “mugshot” é usada para angariar fundos que o ajudem a tirar Joe Biden da Casa Branca e a “salvar a América durante este capítulo negro na história da nossa nação”.

“Hoje, na prisão notoriamente violenta de Fulton County, na Geórgia, fui DETIDO apesar de não ter cometido NENHUM CRIME”, lê-se, repetindo a ideia de que há interferência no processo até às eleições em que tentará a reeleição.

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Em 20 minutos, o agora prisioneiro P011350809 chegou, tirou fotografia, pagou fiança e saiu. Trump entregou-se às autoridades da Geórgia

Trump insiste na tese de perseguição política. “Hoje, entrei na cova do leão com uma mensagem simples em nome de todo o nosso movimento: NUNCA RENUNCIAREI À NOSSA MISSÃO de SALVAR A AMÉRICA”. E termina pedindo uma contribuição a quem possa fazê-la. Os valores propostos vão dos 24 aos 3.300 dólares, mas outros montantes são permitidos.

O republicano regressa, assim, à rede social que o baniu a 8 de janeiro de 2021 “devido ao risco de novos incitamentos à violência”, depois da invasão ao Capitólio, que aconteceu no dia 6 do mesmo mês. Quando Elon Musk comprou o Twitter (agora denominado X), mudou a política da empresa e, alegando o direito à liberdade de expressão, reverteu a suspensão do ex-presidente dos EUA.

Musk restabelece conta de Donald Trump no Twitter após sondagem de 24 horas

A conta de Trump foi reativada em novembro do ano passado, após uma sondagem de 24 horas feita por Musk na rede social — em que o “sim” ao regresso do magnata ganhou por uma curta margem —, mas só agora o republicano voltou a publicar nela. O empresário tinha, aliás, dito que não queria voltar porque preferia a Truth Social, a rede social que criou depois de ter sido banido do Twitter.

Não vou voltar ao Twitter. Gosto do Elon Musk, gosto muito dele. É um indivíduo excelente. Fizemos muito pelo Twitter enquanto eu estava na Casa Branca. Fiquei desiludido pela forma como fui tratado pelo Twitter”, disse, em abril do ano passado. Quando a sua conta foi reativada, repetiu a ideia: “Não vejo qualquer motivo para voltar”.

O regresso à rede social onde já foi feliz acontece um dia após ter ido para o ar uma entrevista a Tucker Carlson, que foi afastado da Fox News em abril, enquanto decorria o primeiro debate das primárias republicanas, em que não quis participar. Na entrevista, criticou as quatro acusações criminais de que é alvo.

As “mugshots” de outros arguidos

O registo da prisão de Fulton indica as 13 acusações do preso número P011350809 e descreve um homem branco, com 1 metro e 90, 97,5 quilos cabelo “loiro ou morango”, olhos azuis. Mas Trump não foi o único a ter direito a uma “mugshot”. Ao longo da semana, outros arguidos no processo entregaram-se e as suas fotografias também foram tornadas públicas. Foi o caso de Rudy Giuliani, ex-advogado de Trump, acusado de liderar os esforços do ex-Presidente para obrigar legisladores estaduais na Geórgia e noutros estados a nomear ilegalmente eleitores favoráveis ao republicano.

Outros antigos advogados do ex-Presidente, como Sidney Powell, Jenna Ellis e John Eastman, também já se apresentaram na prisão de Fulton, assim como Mark Meadows, antigo chefe de gabinete de Trump.