Carles Puigdemont, ex-presidente da Catalunha, anunciou em conferência de imprensa, em Bruxelas, as suas reivindicações para que a Junts apoie uma investidura no parlamento espanhol: uma amnistia, o abandono da via judicial e um mediador para negociar. Nas suas exigências, Puigdemont não diferenciou entre Partido Popular e Partido Socialista como seus interlocutores e deixou claro que estas apenas garantem o início da negociação e não dão garantias de um acordo de governo, sublinha o jornal El Mundo.

Uma das três condições que Puigdemont considera imprescindíveis para continuar as negociações que poderão levar à formação de um governo é uma lei de amnistia para os políticos alvo de processos judiciais abertos na sequência da convocação do referendo ilegal sobre a independência da Catalunha de 2017, conhecido por 1-O. “O 1 de outubro não foi um delito, nem a declaração de independência, nem as manifestações posteriores”, disse o ex-presidente da Catalunha que considera ainda que “o abandono da repressão do independentismo democrático” é uma “exigência ética”, cita o El País. Puigdemont pede uma amnistia imediata que cubra todos os acontecimentos políticos desde 2014 na comunidade autónoma.

Outra condição imposta pelo ex-presidente da Catalunha é o reconhecimento da legitimidade democrática do independentismo e dos independentistas.

A terceira das três condições que Puigdemont reclama é a criação de um mecanismo de mediação e supervisão para obrigar os interlocutores a cumprirem as promessas, ou seja, a criação de um “mecanismo de garantia” para o cumprimento dos acordos, cita o El País. Um referendo ficará para uma segunda fase, escreve o jornal espanhol.

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Estas serão as “condições que não existem e se devem criar” para que o Junts se sente à mesa e comecem as negociações para a formação de um novo governo, cita o El Mundo.

A conferência de imprensa aconteceu em Bruxelas, 24 horas depois de se ter reunido com a vice-presidente do Governo, Yolanda Días, um encontro que levou Feijóo a elevar o tom das críticas.

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As aguardadas declarações do eurodeputado aos jornalistas tiveram lugar num hotel muito próximo das instituições europeias, segundo dá conta o El Mundo. Puigdemont deu a entender ter dúvidas sobre a formação de um governo de direita. “Estamos num momento especial. Dentro de dias o parlamento espanhol começará os trâmites e não parece que o candidato da direita tenha apoios nem para a primeira nem para a segunda ronda e nem o presidente nem os seus parceiros”, afirmou citado no El Mundo.

O ex-presidente da Catalunha não deixa certezas de um acordo, mas afirma que se tal acontecer será “histórico”. “Estejam preparados para que haja eleições, mas também para uma negociação que pode culminar com um acordo histórico. A pergunta não é se nós estamos prontos para negociar, mas se estão os dois” disse Puigdemont referindo-se tanto a populares como a socialistas, segundo o diário espanhol.

Enquanto Puigdemont falava em Bruxelas, Alberto Nuñez Feijóo e Santiago Abascal reuniam-se também na manhã desta terça-feira, no âmbito da ronda de contactos que o líder do PP está a ter para conseguir apoios a uma investidura nos dias 26 e 27 deste mês de setembro. Santiago Abascal, líder do Vox, assegurou um apoio do seu partido a uma investidura de Feijóo. “Comuniquei ao senhor Feijóo que o Vox vai apoiar a sua investidura, como alternativa ao constrangimento de ver os partidos separatistas leiloarem a nação”, afirmou Abascal, citado no El País.

Feijóo reagiu às exigências de Puigdemont para dizer que o ex-presidente da Catalunha propõe que “não haja igualdade entre os cidadãos perante a lei e que se beneficie quem não a cumpriu através de uma amnistia como requisito para a investidura”. O líder do PP classifica a proposta de Puigdemont como “inaceitável e inassumível” e afirma: “Gostaria que Sánchez dissesse o mesmo”, cita o El País.

Depois de ouvir as exigências do ex-líder catalão, Feijóo fechou a porta a uma reunião com Puigdemont, segundo relata o jornal El Mundo.

Também esta terça-feira, Felipe González, ex-presidente de governo espanhol e líder histórico do PSOE, deu uma entrevista onde deixou um alerta a Sánchez. O antigo primeiro-ministro socialista firmou que “na Constituição não cabem nem a amnistia em a autodeterminação”. González, que se manteve afastado da mais recente campanha eleitoral, confessou sentir “orfandade” perante o “projeto de uma maioria que se diz progressista” e disse ainda ter votado no PSOE com dificuldade: “Custou-me mais do que das outras vezes”, cita o El Mundo.