A etapa 14 da Vuelta não ia deixar ninguém no pelotão fazer a recuperação ideal face ao desgastante dia anterior. Depois do Tourmalet, a corrida deste sábado tinha duas contagens de montanha de categoria especial e uma de primeira categoria na chegada a Larra-Belagua. Provavelmente, quem sofreu na véspera ia continuar a sofrer. Era o caso de João Almeida.

O português da UAE Team Emirates caiu para décimo na classificação geral após uma etapa de sofrimento. “Estive mal desde os primeiros quilómetros. Estou doente há uns dias, sabia que não estou bem. Continuei a lutar. É assim no ciclismo. Estou doente, dores no corpo, no nariz, febre. É frustrante, porque as coisas estavam a correr bem”, recordou João Almeida no final da corrida em que chegou 6’47” atrasado em relação ao vencedor Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma). “Foi o pior dia na bicicleta. Deixei de ouvir o rádio, porque não havia nada a fazer. Vamos continuar a lutar. Não sei como consegui fazer esta parte final e só perder o que perdi. Vou ajudar o Ayuso e procurar o melhor possível”, lamentou.

João Almeida não foi à montanha, nem a montanha foi ao João Almeida: português sofre no Tourmalet e cai na classificação da Vuelta

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Se João Almeida, mesmo muito limitado, conseguiu salvar-se de uma queda ainda maior na geral, Remco Evenepoel (Soudal-QuickStep), tombou para 19.º, a 27’50” do camisola vermelha, Sepp Kuss. O belga que foi um dos mais resistentes na primeira semana, mas admitiu que ficou “com o tanque vazio” na etapa 13, enquanto que o diretor desportivo da Soudal-QuickStep, Klaas Lodewyck, confirmou que o vencedor da Vuelta em 2022 “não está doente ou lesionado”.

Jonas Vingegaard tinha, até aqui, adotado uma postura de mera reação (estratégia com que ganhou o Tour, sobrevivendo aos ataques de Pogacar). No entanto, o dinamarquês jogou ao ataque no Tourmalet e, no final, explicou porquê. “Estou muito feliz e não podia ter escolhido um dia melhor. É o aniversário da minha filha e queria muito ganhar por ela.” A partir de agora, a Jumbo-Visma tem que resolver o bom problema de ter três corredores — Sepp Kuss, Primoz Roglic e Jonas Vingegaard — colados no topo da classificação geral.

A etapa 14 começou de maneira movimentada. Na frente, formou-se um grupo de mais de 20 elementos, cujo número de membros foi variando muito devido à dureza do traçado. De qualquer modo, numa fase inicial estavam por lá os portugueses Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty), Nelson Oliveira (Movistar) e André Carvalho (Cofidis). Mais tarde, juntou-se Rui Oliveira, um dos grandes responsáveis pela única vitória que a UAE Team Emirates tem na Vuelta.

Se a descer todos os santos ajudam, Rui Oliveira fez a sua aparição: Sebastián Molano vence 12.ª etapa da Vuelta

A presença mais notada nesse lote foi a de Remco Evenepoel, que parecia ter recuperado energia de um dia para o outro e comandou a fuga numa manobra de enorme risco. Sabendo do poderio do belga, inicialmente, poucos corredores colaboraram com o líder da Soudal-QuickStep para que este não chegasse ao final da etapa com folgo para atacar a vitória.

A UAE Team Emirates encarregou-se de marcar o ritmo no grupo principal e rapidamente dizimou o pelotão, possivelmente para que Juan Ayuso pudesse aspirar a subir ao pódio na geral. De qualquer modo, Remco Evenepoel vinha mesmo para limpar a imagem do dia anterior e atacou, levando por arrasto Romain Bardet (Team dsm-firmenich). A dupla distanciou-se 1’30” dos perseguidores e 4’10” do grupo dos líderes da geral, vantagem que aumentou até se tornar irrecuperável.

As apostas da UAE Team Emirates estavam mesmo todas em Juan Ayuso. O espanhol, com a camisola branca do líder da juventude, testou a concorrência a 50 quilómetros do fim, mas não obteve grande vantagem com isso, visto que a concorrência respondeu. Remco Evenepoel, depois das duas contagens de montanha de categoria especial, tinha já ultrapassado Jonas Vingegaard e era o líder virtual da classificação dos trepadores.

A 8’20” do camisola de vermelha e com seis quilómetros para percorrer, Remco Evenepoel e Romain Bardet sabiam que um deles ia ser o vencedor. O belga esteve quase sempre na frente, o que fazia prever que fosse o francês a ter mais energia na ponta final. No entanto, Evenepoel atacou a quatro quilómetros do fim e Bardet ficou estancado. Assim, o campeão do mundo de contrarrelógio arrancou para a segunda vitória (já tinha triunfado na terceira etapa) nesta edição da Vuelta. Mal cruzou a meta, e mesmo sabendo que, ao nível da geral, o resultado não ia ajudar, o ciclista da Soudal-QuickStep chorou de alívio. No grupo dos favoritos, onde, quase heroicamente, permanecia João Almeida, não houve mexidas e todos os candidatos chegaram em conjunto. 

Sepp Kuss conseguiu defender a camisola vermelha, mas a grande surpresa talvez tenha sido João Almeida conseguir defender o décimo lugar (+8’39”). De restou, não se verificou mais nenhuma mexida no top 10.