São brilhantes e iluminam o céu antes de um terramoto. Cientistas acreditam que o fenómeno, que também pintou o céu de azul momentos antes do sismo de Marrocos, que matou perto de 3.000 pessoas, já acontece há vários séculos.

Uma luz azul invadiu os céus dos arredores de Marraquexe antes de, na noite da passada sexta-feira, a terra começar a tremer a uma magnitude de 6.8. O estranho fenómeno causou a curiosidade a quem assistiu e foi partilhado nas redes sociais — há vários vídeos do momento. Segundo a CNN, e outros media, não é a primeira nem a última vez que acontece. Sempre antes de um sismo. Daí ser estudado pelos especialistas.

Os relatos dos últimos anos avançam que, por vezes, estas luzes podem surgir como relâmpagos, faixas luminosas semelhantes a auroras boreais, pequenas chamas ou esferas brilhantes que flutuam no ar.

A sua causa não é, contudo, ainda conhecida e há anos que intriga os cientistas. De acordo com a revista científica The Science Times, o Serviço Geológico dos EUA tem dúvidas sobre a veracidade destas luzes, chamadas de EQL. A organização refere que os geofísicos têm opiniões diferentes: há quem acredite que nenhum dos relatórios fornece fortes evidências de EQL, enquanto outros acreditam que pelo menos alguns estudos poderiam ser usados para apoiar a existência deste estranho fenómeno.

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Apesar de não haver consenso, para John Derr, geofísico reformado do Serviço Geológico dos EUA, as luzes são “definitivamente reais”. “A observação de EQL [sigla em inglês para ‘luzes de terramoto’] depende da escuridão e de outros fatores favoráveis“, explicou Derr, citado pela CNN.

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O geofísico e os seus colegas estudaram informações de 65 terramotos, americanos e europeus, registados desde 1600 para melhor compreenderem estas luzes. O trabalho foi publicado em 2014 na revista cientifica Seismological Research Letters.

Para Friedemann Freund, um dos colaboradores de John Derr, estas luzes explicam-se devido à eletricidade. O antigo investigador do Centro de Investigação Ames da NASA explicou que, quando certos defeitos ou impurezas nos cristais das rochas são submetidos a tensões mecânicas, que acontecem antes ou durante um grande terramoto, estas quebram-se e geram eletricidade.

“Antes dos terramotos, grandes volumes de rocha estão a ser sujeitos a tensões e essas tensões provocam o deslocamento de grãos, de grãos de minerais, uns em relação aos outros”, explicou Freund. “É como ligar uma bateria, gerando cargas elétricas que podem fluir das rochas sob tensão para as rochas sem tensão e através delas. As cargas viajam rapidamente, até cerca de 200 metros por segundo”, acrescentou.

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Apesar de a procura por respostas concretas continuar, os relatos destas luzes vem de longe. O registo mais antigo remonta ao ano de 869, quando foram vistas “luzes estranhas no céu” antes do terramoto em Sanriku, no Japão. Segundo o canal norte-americano, mais recentemente o fenómeno foi registado nos terramotos de 1975 em Kalapana, no Havai, de 1930 em Idu, no Japão, de 2007 em Pisco, no Peru. As luzes deste último, para John Derr, são semelhantes àquelas vistas em Marrocos.

Mas também foram observadas mais recentemente, antes dos também mortíferos sismos da Turquia.

Cerca de 80% das ocorrências estudadas foram registadas em terramotos com magnitudes superiores a 5.0 na escala de Richter. Na maioria dos casos, as luzes surgem momentos antes ou durante o sismo, e são visíveis até 600 quilómetros de distância do epicentro.