Os 33 deputados do Vox abandonaram a sessão plenária, esta terça-feira, quando José Ramón Gómez Besteiro, do partido socialista PSOE, começou a falar em galego. A sessão plenária pretendia discutir e aprovar a utilização de outras línguas oficiais espanholas no hemiciclo, mas o Vox não concordou que o deputado o tivesse feito antes da votação. A proposta acabou mesmo por ser aprovada, com 179 votos a favor e 171 contra, noticiou o jornal El País.

O momento em que os deputados do Vox deixaram o hemiciclo:

José Ramón Gómez Besteiro foi o primeiro a falar sobre a proposta de alteração ao regulamento do Congresso para oficializar, além do castelhano, a utilização do catalão, galego e basco (euskera). O deputado de Lugo fez parte da sua intervenção em galego, a porta-voz do Vox Pepa Millán tentou interromper, mas a presidente do Congresso, Francina Armengol, não lhe deu a palavra. Os deputados do Vox saíram todos, deixando os auriculares no lugar do ainda presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, que se encontra em Nova Iorque para a Assembleia Geral das Nações Unidas.

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A reforma ainda não foi aprovada e, no entanto, a presidente permitiu que as pessoas falassem outra língua que não o espanhol. O que estamos a assistir, em suma, é uma exaltação da divisão, uma exaltação do confronto com o dinheiro de todos os espanhóis, e não vamos ser cúmplices desta rutura da nossa convivência”, disse Pepa Millán em declarações aos jornalistas nos corredores da Câmara dos Deputados.

A posição do Partido Popular, porém, é um pouco menos clara a julgar pela intervenção desta terça-feira. À semelhança do Vox, a porta-voz do PP, Cuca Gamarra, também criticou a utilização de outras línguas que não o espanhol antes de aprovada a alteração ao regulamento, porque se já fosse legal usar outras línguas, então aquela sessão plenária não teria qualquer função. Mas quem discursou no hemiciclo foi Borja Sémper, que usou tanto o castelhano como o basco na sua intervenção, embora tivesse criticado a alteração do regulamento. Ao ouvirem as palavras em basco, os deputados do Vox, que entretanto tinham voltado, tornaram a sair.

Aqueles que saíram são os mesmos que anteriormente nos expulsaram das aulas, nos multaram ou nos colocaram na prisão por falarmos basco. Agora, saíram eles. Fizemos alguns progressos”, disse Joseba Andoni Agirretxea Urresti, deputado do Partido Nacionalista Basco (PNV).

Marta Lois, que representa o grupo parlamentar do partido de esquerda Sumar, disse que as “línguas, tal como os direitos, não competem entre si e a possibilidade de falar uma língua não anula as outras”. A deputada, que também fez parte da intervenção em galego, acrescentou: “É um mau argumento recorrer também à questão dos custos, aos custos da tradução simultânea. Estamos a referir-nos a uma gota de água no oceano dos orçamentos, o que invalida o argumento.”

O orçamento implica o gasto 53 mil euros para que, até ao Natal, 650 auriculares — para parlamentares, convidados nas bancadas e jornalistas — e 12 intérpretes possam garantir que se fala e ouve, não só em castelhano, mas também em catalão, galego e basco (euskera). O sistema estará em funcionamento no Congresso, pelo menos, até ao final do ano e espera-se que um sistema fixo esteja em funcionamento a partir de fevereiro.

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Os auriculares dos 33 deputados do Vox foram empilhados no lugar do líder do governo, Pedro Sánchez, que se encontra em Nova Iorque — Eduardo Parra/Europa Press via Getty Images

Também esta terça-feira se discute a integração do catalão, galego e basco como línguas oficiais na União Europeia — uma exigência do partido catalão Junts para apoiar a investidura de Pedro Sánchez, líder do PSOE, que não teve a maioria dos votos. Os representantes dos Estados-membros, no entanto, disseram, antes da reunião, que ainda era cedo para se aprovar essas três línguas, que três de uma vez era demasiado e que precisavam de um estudo jurídico. Espanha decidiu, assim, dar prioridade ao catalão neste processo junto da União Europeia.