As jogadoras da seleção espanhola não têm prescindido da intervenção cívica mesmo no desempenho da sua profissão. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque até a um certo limite que as internacionais por La Roja não se têm importado de pisar, derrubando barreiras em prol dos valores que escolheram defender. Os profissionais de futebol vivem atolados em convenções que tanto os impedem de dar cara por certas lutas mas a Espanha não podia estar mais imune a tais dogmas.
As campeãs mundiais voltavam a entrar em campo pela primeira vez desde que Luis Rubiales beijou Jenni Hermoso de forma não consentida na final disputada na Austrália frente à Inglaterra. A partida era com a Suécia, em Gotemburgo, na primeira jornada do grupo 4 da Liga das Nações. Se fosse preciso, as suecas disseram que alinhavam no eventual boicote ao jogo, caso as espanholas considerassem que essa era uma forma de protesto adequada no combate à violência de género.
O jogo acabou por decorrer. As jogadoras espanholas entraram em campo com a chamada cara de poucos amigos, mas a verdade é que ali tinham muita gente a apoiá-las. Na bancada do Estádio Gamla Ullevi, os adeptos da casa juntaram-se à manifestação das internacionais espanholas que, no momento da foto de equipa, ergueram o punho e mostraram a mensagem que traziam escrita no pulso: #SeAcabó. Em alguns casos, o número 10 de Jenni Hermoso também foi visível. De seguida, as duas equipas tiraram uma foto conjunta junto da mensagem “A nossa luta é a luta global”.

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A Espanha tem vivido dias agitados devido a todo o debate em torno da melhoria das condições de trabalho da equipa que, reivindicam as jogadoras, não se pode limitar à saída de Luis Rubiales da Real Federação Espanhola de Futebol (além de Jorge Vilda). Mapi León e Patri Guijarro, duas das jogadoras convocadas pela nova selecionadora Montse Tomé contra a própria vontade, abandonaram a concentração da equipa.
El apoyo a Hermoso de las jugadoras de la Selección.
???? Todas las futbolistas de España llevan unas vendas en las muñecas con el número 10 de Jenni y el mensaje #SeAcabó.
???? @SandraRiquelme_ pic.twitter.com/GweNMc92Dh
— Relevo (@relevo) September 22, 2023
Athenea del Castillo, titular no jogo contra a Suécia, explicou publicamente que estava satisfeita com as condições oferecidas pela seleção neste momento e que, por isso, estava disponível para representar Espanha. Na véspera do jogo contra as suecas, a jogadora do Real Madrid teve que vir a público explicar que não tinha sido chamada de traidora pelas colegas, tal como chegou a ser noticiado no programa televisivo El Chiringuito. “Adotei uma postura diferente da maioria das minhas colegas”, escreveu Athenea nas redes sociais. “Expressei-lhes isso e tornei público através de um comunicado no qual deixei clara a minha opinião. Além dessa declaração, nem eu nem ninguém do meu círculo de confiança falámos sobre esta situação com alguém fora dele. Por esse motivo, peço que não se especule sobre o meu estado emocional”.
Sweden fans show their support for the Spanish players during today's game. ????
???? @SandraRiquelme_ pic.twitter.com/BkHLqvaCmo
— Attacking Third (@AttackingThird) September 22, 2023
Por obra do acaso, foi Athenea del Castillo quem marcou o primeiro golo da Espanha frente à Suécia. Antes disso, Magdalena Eriksson, homenageada antes do encontro por ter alcançado as 100 internacionalizações, tinha inaugurado o marcador a favor das nórdicas. Na reedição da meia-final do Mundial, Eva Navarro acabaria por, com um remate em jeito ao ângulo, colocar a Espanha na frente. Lina Hurtig respondeu ao marcar dentro dos dez minutos finais, deixando o encontro empatado, mas Amanda Ilestedt acabaria por cometer grande penalidade no último dos quatro minutos de compensação. A central do Arsenal viu o cartão vermelho e ofereceu a Mariona Caldentey o 3-2 final a favor da Espanha.