Cerca do meio-dia desta sexta-feira, dois jovens do grupo ambientalista Climáximo cobriram de tinta a obra Femme dans un fauteuil (métamorphose) (1929), de Pablo Picasso, em exibição no museu do CCB, em Belém, peça da Coleção Berardo na exposição permanente, e colaram-se à parede, segundo um comunicado do grupo.

“A obra não sofreu danos porque estava totalmente protegida com um acrílico”, assegurou Delfim Sardo, vogal do conselho de administração do CCB, contactado pela agência Lusa sobre a ação, que também não deixou estragos no museu, a não ser a tinta derramada.

No comunicado, os ativistas escreveram: “Quando soldados alemães entraram no estúdio de Picasso em Paris, onde vivia durante a II Guerra Mundial, e viram o Guernica (a famosa obra-prima que retrata os horrores da guerra), perguntaram-lhe “fizeste isto?”. Ele respondeu ‘não, tu fizeste isto’. As instituições culpadas pelo colapso climático declararam guerra às pessoas e planeta. Temos de parar aceitar esta normalidade”.

De acordo com Delfim Sardo, os jovens, que aproveitaram um momento em que a sala se encontrava sem visitantes, foram detidos pela PSP. Segundo comunicado entretanto enviado pelo CCB às redações, a obra já foi retirada do espaço expositivo e encontra-se em segurança nas reservas do museu. Será em breve recolocada em exposição.

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O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, já reagiu ao incidente. “Quero aproveitar para lembrar que o património artístico é a expressão mais alta da liberdade criativa de que uma comunidade dispõe e que, portanto, em circunstância alguma a arte deve ser encarada como um inimigo da preservação do planeta e da vida”, declarou num texto partilhado na conta de Instagram do Ministério da Cultura, depois de sublinhar que a obra não sofreu danos e que será devolvida à mesma exposição.

Numa nota nas redes sociais, Adão e Silva defende que a arte não deve ser “encarada como um inimigo da preservação do planeta”

No FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, onde o ministro da Cultura marcou presença esta sexta-feira, voltou a deixar uma “mensagem de tranquilidade” em relação à obra de arte que “não foi danificada”, assegurando que, desde que a gestão do museu passou para a tutela do CCB, em janeiro deste ano, as medidas de segurança e vigilância foram reforçadas. ” Foi uma intervenção mesmo muito rápida, aquilo passou-se num período muito rápido e todos os mecanismos foram acionados no momento”, declarou.

Voltando à carga sobre a arte como um “reduto inviolável da liberdade”, reforçou: “Tenho muita dificuldade em perceber como é que estas lutas, por mais justas que sejam, em torno do clima e da vida no nosso planeta, possam colocar em causa a natureza inviolável da criação artística e da arte. Acho que isso deve ser sempre salientado e sublinhado.”