Karim Benzema nasceu em Lyon, fez praticamente toda a formação no clube da cidade onde se apresentou aos principais palcos europeus mas não mais voltou a jogar na Ligue 1 a partir de 2009, quando se juntou a Cristiano Ronaldo e companhia no Real Madrid. Até mesmo a relação com a seleção francesa não foi a mais fácil depois do afastamento durante quase seis anos, neste caso não por motivos desportivos mas sim pelas suspeitas de envolvimento no caso de extorsão ao compatriota e companheiro de equipa Valbuena (sendo que foi mesmo condenado a um ano de prisão com pena suspensa além da multa), a que se juntou ainda a lesão que motivou a saída da lista final para o último Campeonato do Mundo. Agora, a ligação conturbada com o país onde nasceu chegou a outro ponto, tendo como contexto o conflito israelo-palestiniano.

O mundo nunca quis saber dele. Agora, o mundo é dele: Benzema, o bad boy que chegou à Bola de Ouro

Este “filme” começou no fim de semana, quando o agora avançado do Al-Ittihad do técnico português Nuno Espírito Santo escreveu nas redes sociais uma mensagem de apoio à Palestina. “Todos as nossas preces vão para os habitantes de Gaza, que voltaram a ser vítimas destes bombardeamentos injustos, que não pouparam mulheres ou crianças”, escreveu o jogador de 35 anos. As respostas não demoraram, sendo que a mais contundente (e mediática) acabou por surgir do antigo guarda-redes israelita Dudu Aouate, que jogou na Liga espanhola ao longo de mais de uma década em equipas como o Racing Santander, Deportivo da Corunha e Maiorca, chamando o nome “filho da p***” a Karim Benzema em cinco línguas diferentes.

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Agora, as reações chegaram ao patamar político. Tendo como contexto não só esse apoio manifestado à Palestina mas também o assassinato de um professor com uma faca numa escola francesa por um indivíduo sinalizado por suspeitas de radicalização islamista, Gérald Darmanin, ministro do Interior gaulês, visou o internacional numa entrevista à CBNews. “Fechámos mais de 1.100 centros islâmicos mas refiro-me especificamente ao senhor Karim Benzema, que tem ligações notórias, como todos sabemos, com a Irmandade Muçulmana”, acusou o político em relação ao alegado apoio do avançado à organização islâmica mais antiga do mundo árabe que é encarada como um grupo terrorista em vários países.

O tema não ficou por aí e, menos de 24 horas, Valérie Boyer, senadora francesa por Bouches-du-Rhône pelo partido liberal-conservador, foi mais longe nas considerações sobre o tema caso se confirme a acusação feita por Gérald Darmanin. “Se, como afirma o Ministro do Interior, Karim Benzema tem ligações com a Irmandade Muçulmana, exijo sanções, incluindo a perda da sua nacionalidade. É urgente tomar medidas contra aqueles que ameaçam constantemente o nosso país. Uma sanção inicialmente simbólica seria retirar-lhe a Bola de Ouro. Por último, teremos de pedir a perda da nacionalidade. Não podemos aceitar que um francês com dupla nacionalidade, conhecido internacionalmente, possa desonrar e até trair o seu país desta forma”, pediu a senadora num comunicado que partilhou na sua conta oficial na rede X.

https://twitter.com/valerieboyer13/status/1714582261163606501

Também esta quarta-feira, numa informação que começou por ser difundida pelo Le Parisien, algumas pessoas próximas de Karim Benzema negaram as acusações e avançaram mesmo com a possibilidade de haver uma queixa crime por parte do jogador contra o ministro do Interior de França, pelas declarações que teve na entrevista à CBNews que desencadeou depois um sem número de reações. Em paralelo, os processos chegarão também à deputada Nadine Morano, que falou do avançado como “agente da propaganda do Hamas”, e o anunciante Franck Tapiro, que disse que o jogador era “um cúmplice do terrorismo”.