A Polícia Judiciária vai investigar a passagem por Portugal de Abdeslam Lassoued, autor do atentado que matou duas pessoas e feriu uma terceira em Bruxelas. Além das diligências pedidas pela Bélgica, as autoridades portuguesas vão passar a pente fino o percurso e possíveis contactos mantidos pelo autor do ataque terrorista no tempo em que viveu em território nacional.

Ao Observador, uma fonte conhecedora deste processo explicou que a investigação vai acontecer no âmbito de um inquérito-crime que será aberto. “É evidente que os contactos e o percurso serão investigados, [parte desse trabalho está já] a ser feito”. Além do que foi pedido por Bruxelas, por questões de segurança nacional, a polícia precisa despistar quaisquer eventuais ligações.

O Observador questionou a Procuradoria-Geral da República sobre se  já foi aberto algum inquérito-crime para investigar a trajetória de Abdeslam Lassoued em Portugal, que não respondeu até à publicação desta notícia.

A permanência em território nacional

Quando o homem, natural da Tunísia, foi detido na Guarda, em 2015, por permanência ilegal no país, conforme revelou a revista Sábado, não recaíam sobre si quaisquer suspeitas de terrorismo, pelo que na altura não terá havido “qualquer falha de segurança”, explica a mesma fonte, adiantando que depois do que aconteceu na Bélgica tudo “tem de ser explorado, reequacionado, visto numa outra perspetiva”.

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Autor de atentado terrorista em Bruxelas foi detido em Portugal em 2015 mas conseguiu fugir

Quando foi detetado em Portugal há sete anos, no decurso de uma operação da GNR numa exploração agrícola, foi pedida pelo SEF a sua expulsão do país, segundo a mesma revista, dado existir uma ordem de interdição de entrada na Suécia à data. Mas o tribunal acabou por decidir por uma medida de coação não privativa de liberdade — Termo de Identidade e Residência e apresentações semanais. Após a primeira semana, no entanto, terá desaparecido dos radares das autoridades, tendo depois sido localizado na Bélgica, no ano seguinte, país onde permaneceu, não legalizado, até ao atentado terrorista.

O ataque aconteceu no dia 16, já passava das 19h, durante o jogo entre a Bélgica e a Suécia. Na altura, Lassoued, munido com uma arma, atirou sobre várias pessoas, tendo feito duas vítimas mortais — dois cidadãos suecos — e um ferido. Logo após o ataque, em vários vídeos que publicou nas redes sociais — onde se identificava como Slayem Slouma –, disse fazer parte do auto-proclamado Estado Islâmico.

As horas até ligar o atacante da Bélgica ao homem identificado em Portugal

Qualquer pesquisa que pudesse ser feita logo na noite do ataque, apenas com o nome do suspeito, não seria suficiente para encontrar a informação da sua passagem por Portugal. Isto, porque, sabe o Observador, o nome que consta no registo belga, Abdeslam Lassoued, não é exatamente o mesmo que foi registado em Portugal, Abdesslem Laswad.

Uma fonte ligada à investigação explica que esta é uma dificuldade muito comum. Neste caso, a informação da passagem do autor do ataque por Portugal acabaria por ser confirmada já no dia seguinte, com disponibilização de informação adicional, como por exemplo impressões digitais e fotografias.

O que se sabe sobre o ataque a tiro em Bruxelas que matou duas pessoas

Este detalhe não significa por si só que um dos nomes seja falso. Dadas as semelhanças entre nomes e apelidos podem ser várias as explicações. “No caso dos árabes, às vezes escrevem de formas diferentes o mesmo nome, sem que se possa falar de uma deturpação. E também pode depender do intérprete”, conclui uma outra fonte.