Durante o funeral, os cartazes a dizer “Armita, a tua alma está feliz” e “Esta flor é um presente para o país” não foram tocados. O pior aconteceu depois, quando as autoridades iranianas detiveram várias pessoas que tinham ido prestar uma homenagem à jovem, de 16 anos, que morreu no sábado, alegadamente agredida pelas forças de segurança por não estar a usar o véu islâmico. Uma delas foi a advogada e ativista Nasrin Sotoudeh, que tinha algo em comum com a vítima nesse dia.

Vários detidos após funeral de adolescente iraniana alegadamente agredida por não usar hijab

Segundo a Fars news agency, fonte próxima das forças de segurança iranianas, citado pelo Times of Israel, a advogada, de 60 anos, foi detida no passado domingo, por estar a “violar a lei que obriga o uso de hijab”. E não foi a única a ser punida por isso.

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“A minha mulher foi detida no funeral de Armita Garavand, juntamente com outras pessoas”, contou o marido, Reza Khandan, à AFP, citado pelo The Guardian. O homem acrescentou ainda que a ativista, que venceu o prémio Sakharov em 2012, foi “agredida violentamente” durante a sua detenção, depois de ter alegadamente gritado que a morte da jovem era “outro homicídio do Estado”.

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Armita Geravand esteve 28 dias em coma, por ter desmaiado no metropolitano

Além de Nasrin Sotoudeh, que já tinha sido detida, em 2018, acusada de propaganda contra os governantes do Irão — tendo sido condenada a 38 anos de prisão e a 148 chicotadas —, diversos manifestantes foram detidos e agredidos pelas autoridades fora do cemitério Behesht-e-Zahra, segundo reportaram jornalistas locais.

“Espancaram as pessoas com cartazes de protesto. Não consegui aproximar-me do local do funeral“, revelou Negin, jornalista do Teerão, acrescentando ainda que as autoridades tinham “erguido vedações à volta do cemitério e bloqueado as saídas”.

Outros jornalistas, que preferiram manter o anonimato, sublinharam ainda que havia agentes da polícia à paisana no meio da multidão, durante o funeral.

Fui violentamente empurrado para trás e vi-os espancar os que tinham cartazes de protesto. Eu próprio contei, pelo menos, oito pessoas que foram violentamente espancadas e detidas. Não faço ideia para onde foram levadas”, acrescentou outro.

Estas detenções e cenas de confronto com a polícia surgiram um dia depois da morte da adolescente de 16 anos, que esteve 28 dias em coma, na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do hospital Fajr. Armita Geravand deu entrada no dia 1 de outubro, após desmaiar no metropolitano da capital iraniana.

Morreu a jovem iraniana que não usava véu islâmico, após quase um mês em coma

As câmaras de videovigilância da estação mostraram a jovem a entrar no transporte e, segundos depois, a ser retiradas pelas amigas da carruagem, aparentando estar já inanimada. Já o que se passou lá dentro, ainda não foi esclarecido.

As autoridades alegaram que a adolescente foi vítima de um “colapso” e negaram qualquer “altercação verbal ou física” entre a adolescente e passageiros ou elementos ligados ao metro.

Já as organizações não governamentais, sugerem que ficou gravemente ferida durante um ataque por parte de membros da polícia moral, responsável por fazer cumprir a obrigação das mulheres iranianas de usarem o véu islâmico em público.