A Amazon recorreu a uma série de práticas que são consideradas ilegais para aumentar os lucros do seu negócio de comércio eletrónico, considera o regulador FTC, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos. Em setembro, a FTC já tinha avançado com um processo contra a gigante norte-americana mas, na altura, muita da informação não foi divulgada.

Esta quinta-feira, o tribunal de Seattle divulgou mais dados, incluindo a informação de que a empresa criou um “algoritmo secreto, internamente chamado ‘Projecto Nessie’ para identificar produtos específicos para prever se outras lojas online seguiriam os aumentos de preços da Amazon”, diz a FTC. De acordo com a informação apurada, através do ‘Nessie’, a Amazon conseguiu encaixar mais de mil milhões de dólares nos EUA.

A FTC acusa a Amazon de ter ligado e desligado o algoritmo várias vezes, uma prática que terá tido início nos primeiros anos da década de 2010. Quando estava ativo, “o algoritmo aumentava preços para determinados produtos e, quando outras lojas seguiam o aumento, mantinha os preços mais elevados”. Internamente, o projeto Nessie era visto “como um sucesso incrível”, argumenta o regulador norte-americano. A FTC explica que o algoritmo era desativado quando a Amazon passava “por períodos de escrutínio externo intenso e que era reativado quando pensava que ninguém estava a ver”. Atualmente, o algoritmo está desativado.

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Apesar do risco, nota a FTC, a Amazon tirou partido em muitos casos da subida de preços – até porque, “em 20% dos casos”, os concorrentes acompanhavam a subida. O regulador indica que, só em abril de 2018, a Amazon usou o ‘Nessie’ para “estabelecer preços em mais de 8 milhões de artigos comprados pelos clientes”. E, em várias situações, o aumento de preços foi feito em produtos em que a Amazon já tinha uma margem de lucro. “O único propósito do ‘Projecto Nessie’ era o de aumentar ainda mais os preços, ao manipular outras lojas online a subir os seus preços”, é possível ler na documentação.

Ainda assim, havia algumas exceções no recurso ao algoritmo. Embora estivesse “tipicamente ativo 24 horas por dia, sete dias por semana”, havia duas alturas em que era desligado – a época de compras de Natal e no Prime Day, já que são habitualmente alturas em que o público está mais atento a variações de preços. A FTC considera, assim, que o recurso ao algoritmo era “um método injusto de concorrência”.

Além do algoritmo secreto, a FTC acusa a Amazon de ter eliminado diversas comunicações internas enquanto já estava a ser investigada. Terão sido “destruídos mais de dois anos” de comunicações, entre junho de 2019 e “pelo menos até ao início de 2022”.

A Amazon reagiu à divulgação da informação através de um porta-voz. “A FTC alega que um antigo algoritmo de preços da Amazon chamado ‘Nessie’ é um método injusto de concorrência que levou ao aumento de preços para os consumidores”, disse Tim Doyle, porta-voz da companhia. “Isto descaracteriza grosseiramente esta ferramenta. O ‘Nessie’ era usado para tentar impedir que a nossa ferramenta de correspondência de preços tivesse resultados invulgares em que os preços se tornassem tão baixos que eram insustentáveis”, argumentou a empresa.