A ideia é a mesma que já se viu tantas vezes no futebol, a imagem utilizada pelo The Times este sábado difere mas diz o mesmo: “O técnico está a pisar gelo muito fino”. O técnico é Erik ten Hag, o clube é o Manchester United, a realidade é conhecida de todos. Se olharmos apenas os números, falamos de uma equipa que fez os primeiros 15 jogos da temporada com mais derrotas do que vitórias (8-7) como não acontecia há 61 anos (e a realidade em casa é pior ainda, com cinco desaires em dez jogos como não havia desde 1930/31). Se virmos aquilo que se passa à volta do neerlandês, aquela imagem de todos os adeptos a olharem na bancada central de forma atónita para o treinador quando o Newcastle marcou o terceiro golo e último golo da recente vitória em Old Trafford resume de igual forma o que se passava em campo como toda uma temporada. Quando se pensava que não havia mais fundo, os red devils desciam um pouco mais sem melhorias à vista.

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“Sou um lutador. Sei que nem sempre é a subir e tivemos muitos contratempos esta temporada até agora mas também tenho de lidar com isso e nunca é desculpa. Já disse que quando há contratempos, as rotinas e a forma de jogar não são parecidas, não são iguais, mas é preciso conseguir os resultados. Temos de fazer as coisas certas, num certo nível, um nível mínimo para vencer jogos. Já fiz isso em todos os meus clubes e também no ano passado aqui. Neste momento, estamos numa situação má. Assumo a responsabilidade por isso. Vejo isso como um desafio. Sou um lutador, estou na luta e tenho de ter a certeza de que divido a responsabilidade com os jogadores, que nos mantemos juntos, lutamos juntos. Todos viram que isto está abaixo dos padrões que esperam do Manchester United. Temos de consertar as coisas. É a minha equipa e eles não estão a ter um bom desempenho”, defendeu o neerlandês após novo desaire com o Newcastle.

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Erik ten Hag é um lutador sem escudo para tantas críticas: goleada agrava momento negativo do Manchester United

Não se pode dizer que Ten Hag não tenha encontrado condições para dar o salto depois de um arranque no Manchester United onde ganhou a Taça da Liga, foi à final da Taça de Inglaterra, chegou aos quartos da Liga Europa e terminou a Premier League, regressando assim à Champions. Aliás, além de ficar com todos os habituais titulares, reforçou a dedo o plantel com um investimento acima dos 200 milhões de euros em nomes como Höjlund, Mason Mount, Onana, Reguilón ou Amrabat. Problema? Em termos coletivos, a equipa perdeu-se por completo em erros que entroncam quase sempre na falta de ligação de setores que deixa a defesa exposta, faz com que o meio-campo se perca e isola o ataque. No plano individual, nenhum jogador está melhor do que era antes de trabalhar com o neerlandês. Nem um. Por mais abordagens que se possam ir fazendo, e têm sido muitas (no The Athletic há mais um exemplo), dificilmente poderia pior.

Após todas as notícias que davam conta do início da procura de um sucessor para Erik ten Hag, os donos do Manchester United e respetiva administração fez um comunicado onde negou todas essas informações, algo “categoricamente falso”. No entanto, a pressão era mais do que muita. “Nos últimos quatro dias [jogos com City e Newcastle] vi à frente dos meus olhos onde vai tudo acabar depois de uma década de más decisões. Uma fortuna desperdiçada, raiva transformada em apatia, a nossa reputação destruída em casa e na Europa, infraestruturas abaixo dos padrões. Mal podemos esperar por uma mudança total na liderança”, dizia o antigo capitão Gary Neville, tocando num outro ponto importante em todo o contexto: a contestação aos atuais donos, numa altura em que um consórcio liderado por Jim Ratcliffe se prepara para comprar 25% do United. Se os resultados e as exibição não ajudavam Ten Hag, a realidade do clube adensava o cenário.

Depois das derrotas consecutivas em casa para a Liga e para a Taça da Liga, restava “apenas” regressar aos triunfos na Premier League como tinha acontecido antes do desaire com o City frente a Brentford e Sheffield United. E pela frente estava o Fulham de Marco Silva, que apesar do 14.º é uma das equipas mais habituadas a complicar as contas dos principais candidatos. No final, em mais uma exibição muito aquém do esperado e onde até foram os londrinos a beneficiar de mais e melhores oportunidades, veio mais uma vez ao de cima a qualidade de Bruno Fernandes. Podem criticar atitudes que tem como capitão, como aconteceu com Roy Keane, podem criticar algumas coisas que faz em campo mas não há ninguém que dê tanto a cara e se mostre neste tipo de contextos como ele e foi assim que, ao 200.º jogo pelo clube, marcou o 67.º golo em cima do minuto 90, num total de 122 participações em golos desde que chegou pelas 55 assistências.

Por lesão e não “castigo” após as palavras de Ten Hag por ter ido festejar o aniversário após a derrota com o City tendo treino na manhã seguinte, Rashford ficou de fora das opções mas Antony manteve-se na equipa a par de Garnacho, o que permitia a Bruno Fernandes jogar mais ao meio no apoio a Höjlund. Apesar de na teoria ser algo melhor para o coletivo, na prática não mexeu assim tanto. McTominay ainda foi feliz logo a abrir, desviando ao segundo poste uma assistência de Garnacho após livre lateral, mas o golo acabou anulado por fora de jogo de Maguire com interferência na jogada (8′). A partir daí, e mesmo com mais bola, nenhuma oportunidade, pouca criatividade e um par de susto de novo por transições defensivas mal feitas, com Willian a atirar ao lado e Harry Wilson a obrigar Onana a uma defesa apertada num jogo onde Palhinha dava cartas a “varrer” por completo o meio-campo mas com melhor capacidade de passe e de remate. Só Bruno Fernandes tentou marcar num remate à entrada da área mas Bernd Leno defendeu de forma segura (33′).

A segunda parte ainda começou com Garnacho a deixar um primeiro aviso mas o Manchester United esteve ainda pior do que na metade inicial quando precisava de fazer algo diferente para ganhar. Aliás, se não fosse Onana o Fulham estaria (e mereceria estar) na frente, com o camaronês a travar com uma fantástica defesa um remate de Harry Wilson (60′) antes de tirar também o merecido golo a João Palhinha num remate forte na área (61′). Também Rodrigo Muniz, avançado escolhido por Marco Silva em vez de Raúl Jiménez, teve uma ameaça de cabeça mas por cima (65′). Só mesmo nos minutos finais houve um pouco mais de red devils, com Bruno Fernandes a obrigar Leno a uma intervenção apertada para canto antes do momento que definir a partida, numa jogada do português que acabou com o remate à entrada da área para o 1-o (90′).