A dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade, boa conduta e menos ainda a suspeita de prática de ato criminal.”
António Costa, 7 de novembro de 2023

O primeiro-ministro português António Costa resistiu a muitos abalos no Governo, aos “casos e casinhos”, mas demitiu-se esta terça-feira depois de saber que era visado num inquérito autónomo do Supremo Tribunal de Justiça relacionado com projetos ligados à transição energética: uma central de hidrogénio verde e um centro de dados em Sines e duas explorações de minas de lítio em Trás-os-Montes.

Naturalmente que as agências de notícias internacionais não ficaram indiferentes à situação em Portugal. Além das buscas, as agências e jornais internacionais acabaram por noticiar a demissão de António Costa e o potencial envolvimento num caso de corrupção. Citando agências como a AP, Reuters, Bloomberg, Efe ou AFP, a notícia da demissão foi destaque nas páginas ‘online’ dos norte-americanos Politico, Washington Post, Financial Times, Los Angeles Times ou New York Times, dos britânicos The Guardian, Times ou BBC, dos franceses Le Monde, Le Liberation ou Le Fígaro, dos espanhóis ABC ou El Pais, ou do Bild (Alemanha), Corriere della Sera (Itália), La Nacion (Argentina) ou La Libre (Bélgica).

[Costa demitiu-se] devido à investigação contra si por possível prevaricação, corrupção ativa e passiva e tráfico de influências nos negócios do lítio e do hidrogénio, embora tenha garantido que não cometeu qualquer irregularidade”, escreveu a agência espanhola EFE.

À hora da publicação deste artigo, o El País destacava no topo da página inicial a demissão de António Costa. No interior do artigo, o jornal explicava que o primeiro-ministro de Portugal se tinha demitido depois de se ver envolvido numa investigação relacionada com tráfico de influências, corrupção e prevaricação em projetos energéticos. O jornal espanhol relembrava também o início da investigação a este caso, em 2019, e os desenvolvimentos desde aí, incluindo um chamada gravada entre António Costa e o antigo ministro do Ambiente, José Matos Fernandes, sobre a possibilidade de os negócios de lítio e hidrogénio verde poderem trazer muitos fundos comunitários e investidores.

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No jornal espanhol El Mundo, a investidura do Presidente do Governo e os tumultos associados mereciam o destaque da primeira página, mas a fotografia de António Costa surge em primeiro lugar nas notícias de atualidade. O jornal espanhol ressalvava que António Costa foi apontado por outros suspeitos como tendo “desbloqueado procedimentos”.

Logo abaixo da manchete dedicada ao conflito em Gaza, o jornal britânico The Guardian noticiava a demissão de António Costa num alegado caso de corrupção. O jornal também destacava que o Ministério Público revelou que o “nome e autoridade” do primeiro-ministro tinham sido referidos pelos suspeitos durante a investigação. A notícia também aparecia no britânico The Telegraph, mas com um destaque muito reduzido.

Manchado por um escândalo de corrupção que levou à acusação de um dos seus ministros e do seu chefe de gabinete, o primeiro-ministro português, o socialista António Costa, anunciou a sua demissão”, escrevia a AFP, um tom que era repetido por vários ‘media’, nomeadamente de língua francesa.

No jornal francês Le Monde, António Costa aparecia imediatamente ao lado da manchete dedicada à guerra na Faixa de Gaza: “O primeiro-ministro António Costa demite-se desonrado por um escândalo de corrupção”, lê-se no título. O jornal Le Monde, como outros, lembrava o recente escândalo da TAP que envolveu João Galamba, assim como a autorização da mineração do lítio, apesar da contestação das organizações não governamentais.

OLeFígaro, outro jornal francês, não dava destaque de primeira página ao primeiro-ministro português, mas começava o artigo com o acidentado percurso do governante: “Após a sua grande vitória eleitoral em 30 de janeiro de 2022, que supostamente garantiria a estabilidade do seu governo, António Costa viu a sua popularidade despencar devido a repetidos escândalos”.

O primeiro-ministro português António Costa demitiu-se no âmbito de uma investigação sobre eventuais crimes de corrupção relacionados com projetos de lítio e hidrogénio”, escreveu a Bloomberg.

A AP referia que o governante português “anunciou a sua demissão após ter sido envolvido numa investigação de corrupção generalizada”. Por seu turno, a Reuters referia que Costa se demitiu “no meio de uma investigação sobre alegadas irregularidades cometidas pela sua administração maioritariamente socialista na gestão de projetos de mineração de lítio e hidrogénio no país”.

No jornal The New York Times, Portugal aparecia entre as notícias em destaque na página internacional: “O primeiro-ministro português demite-se inesperadamente”. O jornal norte-americano recordava ainda como António Costa perdeu as eleições de 2015, mas acabou por se sentar na cadeira de primeiro-ministro graças à geringonça.

O jornal The Washington Post puxava logo para o título da notícia não só a demissão do primeiro-ministro, mas o envolvimento de outros membros do Governo: “O primeiro-ministro de Portugal apresenta a demissão enquanto o seu Governo está envolvido numa investigação de corrupção”.

A Folha de São Paulo dava destaque à notícia portuguesa logo abaixo da manchete, dedicada ao quinto dia de apagão em São Paulo devido a uma tempestade. Entre o que se sabe das buscas e da acusação, o jornal destacava também que os outros partidos já pediram a demissão do Executivo socialista, uma decisão que será tomada pelo Presidente da República, provavelmente, nos próximos dias.

António Costa faz a manchete do G1, o portal de notícias da rede Globo. Apesar de dar nota da demissão, o jornal refere que “pela legislação portuguesa, o primeiro-ministro não precisaria de renunciar mesmo sendo alvo de uma investigação. Apenas se ele fosse formalmente acusado pelo Ministério Público, a sua demissão seria avaliada pelo Parlamento”. Mas Costa demitiu-se e já disse que não iria recandidatar.