Não é todos os anos que alguém consegue ser campeão nacional sem derrotas. Vítor Pereira conseguiu fazê-lo no FC Porto, clube onde arrecadou dois Campeonatos. Era impossível alguém ficar indiferente a um treinador que, em dois anos, perdeu apenas um jogo na Primeira Liga. Em 2013, o técnico decidiu deixar os dragões e a expectativa era de que o registo vencedor fosse compensado com uma oportunidade condizente com o nível apresentado nos azuis e brancos.

Em entrevista ao jornal espanhol Marca, Vítor Pereira admitiu que a ideia era deixar Portugal e rumar ao Everton. Apesar de tudo, o plano acabou por não correr como previsto. Em vez de continuar a carreira em Inglaterra, o treinador de 55 anos foi parar ao Al-Ahli. “Saí por decisão minha. Não quis renovar porque estava no FC Porto há oito anos, cinco na formação e três na equipa principal. A minha intenção, quando não renovei, era ir para a Inglaterra treinar o Everton, mas, no final, isso não aconteceu e fui para a Arábia Saudita, porque queria garantir financeiramente o futuro da minha família”.

Depois da experiência no Médio Oriente, o percurso continuou no Olympiacos, no Fenerbahçe, no 1860 Munique, no Shanghai SIPG, no Corinthians e no Flamengo. Ficaram de fora experiências nas grandes ligas europeias, situação na qual Vítor Pereira diz ter culpa. “Não tenho paciência para esperar que a oportunidade certa chegue até mim. Para mim, o futebol é como respirar e, quando começo a ficar com falta de ar, tenho que voltar ao relvado. Agora estou um pouco mais calmo, mas sei que voltarei em breve. Se surgir um projeto de grande nível, tudo bem, mas, se não, não vou esperar”, admitiu o treinador que foi despedido do Flamengo antes se estrear no Brasileirão após perder a final do Carioca, a Supertaça do Brasil, a Supertaça Sul-Americana e ter falhado o acesso à final do Mundial de Clubes para o Al Hilal. “O mau é que no Brasil não há projetos. Vives à espera do que acontece no próximo jogo”, afirmou.

Vítor Pereira diz adeus ao Flamengo: treinador português deixa cargo que assumiu em janeiro

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A experiência na Arábia Saudita deu a Vítor Pereira contexto sobre um campeonato que acabaria por, dez anos mais tarde, se tornar num fenómeno desencadeado por Cristiano Ronaldo. “Acho que para o Cristiano foi uma forma de se justificar, de continuar a sentir-se importante. Jogadores que tiveram uma carreira de destaque, independente da idade, precisam de continuar a ter atenção. O Cristiano foi muito inteligente: antecipou o futuro. Ele entendeu que na Arábia continuaria a ser importante e recuperou a alegria de jogar, inclusive pela seleção. Já fazia muito tempo que não via Cristiano tão feliz. Às vezes precisas de um espaço onde sejas amado e te sintas importante e foi isso que Arábia lhe deu, além do dinheiro, obviamente”, destacou.

A aposta da Arábia Saudita no futebol suscitou comparações com o que a China fez há alguns anos. Vítor Pereira conhece as duas realidades e diz que são precisas cautelas antes de se considerar o Médio Oriente como uma potência da modalidade. “Se pensa que basta contratar jogadores e treinadores de qualidade para ter uma liga forte a longo prazo, engana-se. Para mim, foi o que correu mal na China. Na China, o objetivo era a seleção nacional e começaram a pensar que iriam criar uma equipa forte nacionalizando jogadores estrangeiros veteranos, mas, como os resultados não apareceram, fecharam a torneira e deixaram de investir.

Depois de ter deixado o Flamengo em abril, Vítor Pereira encontra-se sem clube numa fase em que o Brasileirão, campeonato onde esteve nos últimos dois anos, está na reta final. A última passagem pela Europa aconteceu no Fenerbahçe, clube turco com o qual acabou por rescindir.