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“Criminal Record” e a bela arte do drama policial

O velho e o novo em confronto na nova série policial da Apple TV+. “Criminal Record” tem o que se quer de um drama do género à maneira britânica: denso, tenso, curto e resolvido. Estreia-se dia 10.

Em "Criminal Record", dois polícias, de dois tempos diferentes, entram em confronto por causa de um caso antigo
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Em "Criminal Record", dois polícias, de dois tempos diferentes, entram em confronto por causa de um caso antigo

Em "Criminal Record", dois polícias, de dois tempos diferentes, entram em confronto por causa de um caso antigo

O fim de Succession despertou nas expectativas de muitos seguidores da ficção televisiva o alarme do ”e agora, que série vou ver agora, que série vai estar nas bocas de toda a gente?”. Aconteceu o mesmo com Guerra dos Tronos. Talvez tenha acontecido o mesmo (ou algo parecido) com Perdidos, The Wire ou Os Sopranos. Porque, como quase sempre acontece, no momento em que algo termina, ganha protagonismo um certo vazio com pouca memória, incapaz de lembrar que esta conversa não é nova e que a “natureza” das coisas — sejam elas quais forem — costuma encontrar caminho. Esse “vazio” gera frases como “as coisas nunca mais voltarão ser as mesmas” (spoiler alert: não serão e ainda bem), um pensamento que muitas vezes rouba protagonismo a coisas que merecem atenção. Coisas como Criminal Record, que se estreia esta quarta-feira, 10 de janeiro, na Apple TV+.

Se inicialmente a Apple quis formar um serviço com dream teams de criadores e intérpretes, agora perceberam que podem ser isso e, também, instigadores da melhor forma de apresentar um género no presente. Pensemos nas séries de espionagem (Slow Horses), na redecoração das séries de adolescentes que são City On Fire e Monarch (ambas ótimas para adultos também, como as boas séries de adolescentes devem ser), o thriller (Hijack), o estudo de personagem de Lessons In Chemistry, o terror de The Changeling e, agora, o drama policial com Criminal Record.

Oito episódios (os dois primeiros estreiam-se em simultâneo) que saíram da mente de Paul Rutman (Vera, Five Days ou Indian Summers) em volta de uma trama simples. Dois polícias, de dois tempos diferentes, entram em confronto por causa de um caso antigo. De um lado está Daniel Hegarty (Peter Capaldi), em final de carreira, com um bom cargo e com todos os vícios que uma carreira de muitos anos na polícia carrega; do outro June Lenker (Cush Jumbo), sedenta por uma ideia de justiça, mulher e negra e, por isso, alvo de um escrutínio — e preconceito — diferente por colegas mais velhos. June desconfia que há um caso de Hegarty que talvez tenha colocado na prisão a pessoa errada.

[o trailer de “Criminal Record”:]

A essência de Criminal Record está na forma como vai beber ao melhor que a televisão britânica produziu nos últimos tempos dentro do género, seja Happy Valley ou Line Of Duty (se não as viu, veja, são duas das melhores séries policiais da última década) e o aperfeiçoa dentro de uma cápsula. Criminal Record concentra-se na ideia de um único caso a resolver em oito episódios e tudo o que se expande para lá dele faz-se pela consequência e com tempo. Não há casinhos paralelos nem coisas surpreendentes a acontecer a cada episódio. Rutman tem a missão de contar uma história e usa na perfeição todo o tempo ao seu dispor.

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A narrativa acontece em Londres, mas não na Londres total. Hackney é o cenário, um microclima numa grande cidade que vai sendo explicado nas entrelinhas ao longo dos episódios através de gerações diferentes que viveram (e vivem) no bairro, diferentes tipos de crimes que vão acontecendo (ou que fazem uma ligação com o passado), diferentes tipos de pobreza e, também, tipos de exploração em volta dessa pobreza. Isso explica, por exemplo, porque é que uma das possíveis vítimas apresentadas logo no início é portuguesa.

Rutman demonstra isto tudo, de um modo brilhante, na primeira cena. Capaldi está a conduzir um carro, como uma espécie de motorista de luxo, pelas ruas de Londres. Diz que é polícia e logo aí são levantadas suspeitas: porque é que um polícia precisa de fazer outro trabalho? À medida que a cena decorre, vai falando da problemática do bairro (através de um caso que teve de resolver em tempos) e a dado momento passa por uma cabine telefónica, onde entra a tal portuguesa, a ligar para o 112 local a reportar os abusos do companheiro. No relato que faz reporta que ele gosta de se gabar que em tempos matou uma mulher e que mandaram para a prisão o tipo errado. Lançado o caso, simples, escorreito e em constante movimento; apresentadas todas as dimensões e razões de suspeita por uma personagem que representará uma ideia do antigo sistema.

Criminal Record concentra-se na ideia de um único caso a resolver em oito episódios e tudo o que se expande para lá dele faz-se pela consequência e com tempo

Ross Ferguson

O telefonema chega no dia seguinte à secretária de Lenker, que através dos poucos detalhes fornecidos, começa a investigar outro homicídio, na altura fechado por Hegarty. Desde o início que se instala um jogo de poder entre o velho e o novo. Criminal Record diverte-se com isso, aproximando e afastando as personagens conforme lhe convém. Isso faz-nos ficar ligados, agarrados à espera do que vem a seguir e, sobretudo, a querer saber como se concretizará a evolução dos acontecimentos. Cada episódio vê-se como um desenrolar desse novelo, meticuloso e paciente, claramente concretizado por quem tem enorme prazer em contar uma boa história.

Os dois últimos episódios são um luxo. Não por serem particularmente bons (os oito episódios são equilibrados em termos de qualidade e quantidade de informação que dão à audiência), mas como traduzem bem o que se pode fazer quando há tempo para contar uma história, sem se perder em trivialidades para encher a cabeça do espectador. O mesmo já tinha acontecido com Hijack (coincidência ou não, também tem toda uma equipa britânica por detrás), a sensação repete-se em Criminal Record e, mais uma vez, resolve-se bem, sem pontas soltas que indiquem questões ou problemas por amanhar. Sabe bem ver televisão assim, preocupada em apenas ser muito boa no que faz e no que propõe ao espectador.

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