“É o que é… Agora seguimos, esperamos um bocadinho e se tudo correr normalmente, não estou a ver a Eslovénia, com tudo o que se passou até aqui, com capacidade de ganhar à Dinamarca. Mas tudo pode acontecer. É sempre o nosso fado, temos que esperar, de depender de outros às vezes. Esperaremos tranquilamente e o que tiver de ser, é”. No final da partida diante dos Países Baixos, Paulo Jorge Pereira, o selecionador nacional de andebol, encarava de forma pragmática aquele que foi o falhar do primeiro match point de Portugal para alcançar dois grandes objetivos de uma só assentada. Em caso de vitória, tudo estava arrumado; com o empate, tudo ficou adiado. E agora não havia mesmo outra forma de encarar o futuro a não ser esperar com a esperança de que as mexidas dos dinamarqueses não tirassem competitividade à equipa.

Os Heróis do Mar que sem forças não param de Rêmar: Portugal empatam com Países Baixos e ficam à espera no Europeu de andebol

Rebobinando o filme, apesar da derrota de Portugal diante da Suécia e do triunfo da Eslovénia com os Países Baixos, a Seleção dependia apenas de si para alcançar o terceiro lugar do grupo 2 da main round e assim ter entrada não só no torneio pré-olímpico mas também na partida de quinto e sexto lugares do Campeonato da Europa. No entanto, a partida com os Países Baixos não correu da melhor maneira. Aliás, se não fosse o jogo monstruoso na baliza de Diogo Rêma na primeira parte (13 defesas e eficácia de quase 45%), a diferença ao intervalo seria bem maior do que apenas dois golos. Aos poucos, mesmo com o desgaste físico a ser notório nas unidades com mais utilização na defesa e no ataque, Portugal recuperou, passou para a frente, chegou aos dois golos de vantagem mas não “matou” a partida, sofrendo o 33-33 em 7×6 na última posse sem conseguir ainda reagir. A decisão teria de ficar adiada e todos os olhos se centravam no jogo seguinte.

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“Isto é o que pode acontecer quando duas equipas competem e uma não tem nada para jogar e a outra tem muita coisa para jogar. Se a isso juntarmos o facto de estarmos já no sétimo jogo, alguns atletas têm feito um esforço excecional. Como sabem são jogos com um dia de descanso apenas e nós temos alguns atletas completamente sobrecarregados. O caso do Leo [Leonel Fernandes] e mesmo o próprio [Luís] Frade, os irmãos Costa… É normal que se chegue a um jogo em que a pressão é relativamente alta, quando se joga contra uma equipa que não tem nada a perder… Normalmente quem não tem nada a perder joga sempre melhor. Depois foram ali alguns detalhes”, explicou Paulo Jorge Pereira no final da partida.

“Na primeira parte faltou-nos mais energia, perceber que os Países Baixos podiam ganhar-nos se não jogássemos bem, acho que não percebemos isso na primeira parte. Na segunda parte percebemos isso claramente. Mais uma vez recuperámos um jogo, creio que a segunda parte foi espetacular, chegámos outra vez perto do que podemos fazer. Na parte final foi nos detalhes que as coisas aconteceram. Ainda tenho de ir ver o lance final, não entendi algumas coisas, nomeadamente não terem parado o jogo quando o Kiko [Francisco Costa] estava no chão ou não terem assinalado sete metros. Não sei se é, ainda tenho de ir ver. É o que é…”, lamentou ainda o selecionador, esperando por boas notícias do Eslovénia-Dinamarca.

Para quem pensava que seriam “favas contadas”, a primeira parte mostrou o contrário. Até agora, a equipa dinamarquesa mostrou que é de longe a melhor neste Europeu a par da França e em condições normais teria uma vitória mais ou menos tranquila com a Eslovénia. Problemas? 1) os eslovenos sabiam que dependiam apenas de si e que uma vitória ainda podia valer a terceira melhor participação em Europeus apenas atrás da final perdida de 2004 e da quarta posição em 2020; 2) os nórdicos optaram para gerir os principais atletas tendo em conta as meias-finais com um adversário ainda por apurar, o que não deixando de constituir uma grande equipa mostrava algumas faltas de rotinas. Ainda houve uma reação ao 17-14 para a Eslovénia que se registava ao intervalo, inclusive com uma passagem para a frente, mas os dez minutos finais chegaram com os eslovenos na frente por 23-22. Como diz o tal “fado português” nestes momentos, seria mesmo até à última mas com os dinamarqueses a quebrarem onde costumam ser fortes para uma derrota por 28-25.

Deesta forma, Portugal fica de vez afastado da possibilidade de discutir o quinto lugar e fica na sétima posição, que é a segunda melhor participação na prova. Em paralelo, continuará particularmente atento à última jornada do grupo 1, com os jogos Áustria-Islândia, França-Hungria e Alemanha-Croácia, para saber se pode garantir o apuramento para o torneio pré-olímpico. Nesta altura, a França lidera com oito pontos e já está apurada, seguindo-se Alemanha (cinco), Hungria (quatro), Áustria (quatro), Islândia (dois) e Croácia (um, já sem objetivos possíveis por atingir). Neste caso, e na ótica do melhor resultado para a Seleção, a Áustria, que tem sido a grande sensação da prova, terá de perder a partida com os islandeses.

De referir que este é o melhor Campeonato da Europa a nível de resultados de Portugal, que nunca tinha conseguido somar quatro vitórias e um empate em sete jogos como aconteceu até aqui: triunfos diante de Grécia, Rep. Checa, Noruega e Eslovénia, empate com os Países Baixos, derrotas com Dinamarca e Suécia. Até agora, nesse parâmetro, a melhor participação tinha sido em 2020 (que acabou com um inédito e histórico sexto lugar) com quatro vitórias e outras tantas derrotas em oito encontros. A maior percentagem de sucessos numa grande competição regista-se no Campeonato do Mundo de 2021, onde quatro triunfos e duas derrotas valeram a Portugal a melhor participação de sempre na competição com um décimo lugar.