Uma porta que se fechou, duas janelas de oportunidade que continuaram abertas. As vitórias de Portugal a abrir a main round com Noruega e Eslovénia tinham colocado a Seleção numa posição de desafiar aquilo que parecia impossível e chegar pela primeira vez na história às meias-finais de um Campeonato da Europa de andebol, sempre com essa memória viva de um triunfo em Malmö frente à Suécia no Euro-2020 que foi um dos encontros mais memoráveis do conjunto nacional em grandes competições. Não aconteceu. Quatro anos depois, os nórdicos voltaram ao patamar habitual e acabaram por aproveitar o desgaste físico de uma equipa portuguesa que desta vez não conseguiu disfarçar as ausências de peso por lesão de nomes como Daymaro Salina, Victor Iturriza, Fábio Magalhães ou André Gomes. Imperou a normalidade, com um resultado a ter números demasiado elevados para o que se passou (40-33). No entanto, havia mais por conquistar.

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Com Portugal na terceira posição do grupo B da main round com os mesmos pontos do que a Eslovénia, que conseguiu um importante triunfo na primeira fase da prova diante da Noruega, os resultados “normais” na última jornada quase colocavam a Seleção não só no torneio pré-olímpico como no encontro de atribuição do quinto e sexto lugares, onde teria a oportunidade para melhorar a sexta posição na prova de 2020. Porquê? Porque a Eslovénia jogava com uma Dinamarca que tem sido de longe a melhor formação e só contava com vitórias e porque a Noruega defrontava uma Suécia já apurada para as meias que queria manter o bom nível apresentado na competição. O que poderia fechar praticamente as contas? Um triunfo de Portugal com os Países Baixos, que só tinha derrotas na main round mas nem por isso deixa de ser um dos conjuntos que maior crescimento teve nos últimos anos, como se percebeu nos derradeiros confrontos com a Seleção.

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“Estamos a jogar fora de casa, quase sempre, contra uma seleção que tem dos melhores atletas do mundo, nas melhores equipas do mundo. Estou muito orgulhoso dos meus atletas, que estão a fazer um Campeonato da Europa acima das previsões. Se nos tivessem dito, logo no início da competição, que iríamos à Lanxess Arena [Colónia], provavelmente chamariam-nos de malucos. Eu gosto que me chamem maluco muitas vezes, é sinal de que estou no bom caminho. O nosso objetivo primordial é ir ao pré-olímpico e estamos quase lá. Só se acontecer uma catástrofe qualquer mas não creio que vá acontecer. Temos agora o jogo com os Países Baixos e vamos concentrar-nos nesse encontro, frente a uma equipa que disputa todos os jogos. Temos que jogar bem mas creio que estamos muito perto de atingir esse objetivo”, apontara Paulo Jorge Pereira após a derrota com a Suécia, visando o pré-olímpico mas também um dos seis primeiros lugares.

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No plano histórico, os duelos entre os dois conjuntos não poderiam estar mais equilibrados com três vitórias para cada lado mais um empate. Olhando para os mais recentes, os Países Baixos ganharam a Portugal na fase final do último Europeu por 32-31 mas a Seleção “vingou” esse desaire com uma fantástica recuperação no playoff de qualificação para o Mundial de 2023, superando uma derrota por 33-30 em Portimão com um triunfo fora por claros 35-28. Ponto comum a todos os jogos? Quanto maior disponibilidade física para travar o jogo intenso, agressivo e sempre ligado à corrente dos neerlandeses, maiores possibilidades de vitória a formação nacional teria. Não foi isso que aconteceu. No entanto, sendo certo que as pernas muitas vezes não tinham aquilo que sobrava de coração, Portugal empatou a partida depois de ter estado grande parte do tempo atrás e fica agora à espera do resultado da Eslovénia frente à Dinamarca esta terça-feira.

Os minutos iniciais foram talvez os menos conseguidos de Portugal nesta competição em termos ofensivos, algo que só não ficou tão exposto no resultado porque Diogo Rêma fez quatro defesas fantásticas nos sete minutos iniciais. Só nos primeiros cinco minutos Martim Costa teve três remates não concretizados, sendo que nem os ressaltos e segundas bolas pareciam querer ter grande ligação com a equipa nacional, sobretudo nas ações de ataque dos neerlandeses. Com isso, mesmo sem terem a capacidade de “disparar” no marcador, os Países Baixos chegaram aos dois golos de vantagem com 4-2 e 5-3, o que fez com que Paulo Jorge Pereira parasse o encontro numa fase em que Salvador Salvador cumpria a primeira exclusão da partida. “Temos de fechar os laterais, estão a marcar tudo entre o último e penúltimo”, advertia o selecionador. Teve resultados quase imediatos: mesmo com menos uma unidade, Portugal conseguiu recuperar e empatar.

Os posicionamentos mais adiantados de Leonel Fernandes iam conseguindo complicar os movimentos de Luc Steins mas se o ataque conseguia começar a chegar a níveis mais “normais”, a defesa continuava a sentir dificuldades que Diogo Rêma ia tentando disfarçar dentro do possível (40% de eficácia nos primeiros 12 remates feitos, 44% com 16 tentativas). Portugal ainda chegou ao empate através da eficácia de António Areia nos sete metros e do bom jogo com os pivôs, Luís Frade e Fábio Silva, mas os “tiros nos pés” não pararam, entre falhas técnicas, remates falhados e erros incomuns para a equipa que é a principal revelação da prova a par da Áustria, no grupo 1. Era isso que colocava o resultado em 12-11 na primeira paragem dos Países Baixos, com o guarda-redes nacional já com 50% de eficácia com 11 defesas. E se entretanto havia mais Martim Costa em jogo com três golos, as saídas rápidas dos neerlandeses valeram o 17-15 ao intervalo.

António Areia levava seis golos marcados com uma eficácia de 100% nos livres de sete metros, Diogo Rêma impediu 13 dos 29 remates dos neerlandeses mas era no plano coletivo que as coisas estavam a falhar. Muita precipitação, muitas falhas técnicas, muitos erros de posicionamento que davam golos fáceis, muitos remates falhados sem que Ravensberger estivesse a fazer uma exibição do outro mundo. Era isso que Portugal teria de tentar contrariar no segundo tempo, com maior eficácia no ataque e outras variações defensivas que tivessem o condão de colocar mais problemas ofensivos aos neerlandeses (com três trocas defesa-ataque a abrir). No entanto, o reinício da partida não trouxe tantas alterações como era desejável apesar do 23-21 aos 40′ numa fase em que os Países Baixos tinham volta a jogar com sete e Miguel Martins tinha sido excluído.

Chegava a altura das decisões, com Martim Costa a começar a subir e Luís Frade a fazer finalmente o empate a 24 depois de uma boa ação defensiva que motivou nova paragem técnica de Staffan Olsson, antigo lateral de referência das melhores gerações suecas que tem liderado a subida dos neerlandeses. O mais “difícil” estava feito, com a aproximação que funcionava quase como um aditivo mental para um último esforço a não chegar para a passar para a frente pouco depois porque um remate de Martim Costa bateu com estrondo na trave. Qualquer desconcentração defensiva estava a dar golo, sendo que o efeito Rêma foi-se “esfumando” depois de uma exibição fabulosa e deu lugar a Gustavo Capdeville na baliza, com Pedro Portela a colocar a Seleção na frente com 29-28 a nove minutos do final. Esse seria o momento decisivo para dar a volta de vez à partida, com Martim Costa e Luís Frade em destaque antes da quebra na parte final com os Países Baixos a jogar 7×6 que permitiu o empate final a 33 e o adiar de todas as decisões na competição.