Em atualização

Mais de 1.700 agricultores franceses protestavam, na tarde desta segunda-feira, em 25 pontos de bloqueio em todo o país, um número inferior aos registados na sexta (113) e no sábado (38) nas ações para exigir alterações no setor.

Segundo dados da televisão BFMTV, que cita fontes oficiais regionais, estão envolvidos nos bloqueios cerca de 1.206 veículos agrícolas, tendo a polícia confirmado, por seu lado, 30 departamentos afetados e quase 800 tratores mobilizados na região de Paris.

Em torno de Paris, dos oito pontos de bloqueio planeados, foram instalados seis, no âmbito das mobilizações da Federação Nacional dos Sindicatos da Exploração Agrícola e da associação de Jovens Agricultores da Grande Bacia de Paris.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Entretanto, o governo francês prometeu esta segunda-feira apresentar, no prazo de 48 horas, novas medidas a favor dos agricultores. À saída de um conselho de ministros extraordinário, a porta-voz do governo anunciou que a resposta do executivo às reivindicações dos agricultores “não se vai ficar” pelas decisões anunciadas na sexta-feira, confirmando que na terça-feira serão conhecidas mais medidas para o setor.

Para os protestantes, o governo agora liderado pelo novo primeiro-ministro, Gabriel Attal, ficou aquém das suas exigências. “Viemos para defender a agricultura francesa”, disse Christophe Rossignol, um agricultor de pomares orgânicos e outras culturas, lamentando que o setor está a “ir de crise em crise”. Alguns veículos carregavam cartazes declarando “não há comida sem agricultores” e “O nosso fim significaria fome para vocês”.

O governo anunciou um contingente de 15 mil agentes da polícia no âmbito dos protestos, a maioria para a região de Paris, para impedir qualquer esforço dos manifestantes para entrar na capital. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, tinha advertido domingo que se, por um lado, as forças da ordem não vão impedir os bloqueios de estradas em redor de Paris, desde que sejam respeitadas “as propriedades e as pessoas”, por outro lado vão intervir se os tratores tentem entrar ou bloqueiem Paris ou ainda se cercarem os aeroportos Orly e Charles de Gaulle.

Segundo a AP, elementos policiais e veículos blindados também estavam estacionados no centro de abastecimento de alimentos frescos de Paris, o mercado de Rungis, para onde foi anunciada a ida de uma coluna de protestantes.

ANTRAM: “Neste momento a situação é muito preocupante”

Os protestos estão a reter vários camiões portugueses em toda a França. “Não conseguimos quantificar, mas há muitos camionistas portugueses retidos devido ao bloqueio dos agricultores em França. Neste momento a situação é muito preocupante, não apenas por ser uma situação que se arrasta há vários dias, mas porque não há visibilidade sobre quando poderá terminar”, disse à Lusa o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM).

“A afetação quer das vias na sua circulação quer nas entradas para outras vias que poderiam ser alternativas às autoestradas encontram-se bloqueadas. Hoje (…) temos cerca de 20 autoestradas bloqueadas em toda a França, o que tem afetado muito a importação e exportação das empresas portuguesas”, contou o porta-voz da ANTRAM.

O porta-voz da ANTRAM sublinhou que, para já, ainda não há problemas no abastecimento de bens de primeira necessidade, mas desta vez as empresas portuguesas estão a ser muito afetadas.

Protesto dos agricultores em França motiva “importante dispositivo defensivo” em Paris

De acordo com André Matias de Almeida, não tem sido possível contornar estes bloqueios dos agricultores. “Hoje [esta segunda-feira] há um decreto legislativo francês que vem levantar restrições na circulação dos veículos, mas permitindo apenas que possam regressar ao local de origem, à empresa mãe, ou concluir o trajeto que estiver mais perto do destino, o que significa que há uma afetação clara do que é o mercado de abastecimento”, disse.

André Matias de Almeida lembrou que as empresas portuguesas não foram tão afetadas quando há uns meses em Espanha houve um protesto de camionistas. “Mesmo em Espanha aquilo de que nos recordamos há uns meses atrás com protestos de camionistas, desta vez não são camionistas, mas é um protesto similar, não houve paralelo com o que está a acontecer em França, não apenas pela dimensão que atinge, mas pelo número de dias que se mantém. Temos um país bloqueado”, contou.

André Matias de Almeida disse ainda à Lusa que a ANTRAM está em permanente contacto com a congénere francesa, fazendo atualizações à hora para os mais de dois mil associados.

Macron vai propor mudanças na política agrícola dos 27

O protesto decorre ao mesmo tempo que se regista uma crise alimentar global agravada pela guerra da Rússia na Ucrânia, um grande produtor de alimentos. Os agricultores franceses afirmam que os preços mais elevados dos fertilizantes, da energia e de outros fatores de produção para o cultivo e alimentação do gado prejudicaram os seus rendimentos. Os manifestantes também têm argumentado que o setor agrícola francês está excessivamente regulamentado e prejudicado pelas importações de alimentos provenientes de países onde os produtores agrícolas enfrentam custos mais baixos e menos restrições.

Para quinta-feira está previsto que o presidente francês, Emmanuel Macron, proponha à presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, várias mudanças na política agrícola dos 27, em particular nas regras de pousio e na entrada de produtos ucranianos. “O contexto leva o presidente a esta discussão com a presidente da CE” na cimeira da próxima quinta-feira em Bruxelas, explicaram esta segunda-feira fontes do Eliseu, que se escusaram em dar mais pormenores. As fontes insistiram na rejeição da França em avançar com o acordo de comércio livre assinado em 2020 entre a União Europeia e o Mercosul.

Os agricultores da vizinha Bélgica também montaram barricadas para impedir o tráfego de chegar a algumas das principais autoestradas, incluindo a capital, Bruxelas.

Protestos de agricultores franceses ameaça bloquear acessos a Paris