O regime pró-russo da Sérvia liderado por Aleksandar Vucic poderá beneficiar de uma potencial reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, afirmou esta segunda-feira o antigo embaixador norte-americano Cameron Munter.

“Do ponto de vista da política externa, a eleição de Donald Trump irá alinhar-se com [o presidente russo, Vladimir] Putin em muitos aspetos e mostrará o tipo de enfoque e de abordagem para a resolução dos problemas dos Balcãs que vimos na sua primeira presidência, quando Vucic foi convidado para a Casa Branca”, afirmou Munter, durante um debate organizado pelo centro de estudos britânico Henry Jackson Society, esta segunda-feira.

O antigo embaixador dos EUA na Sérvia (2007-2009) acredita que o presidente sérvio vai manter a política de querer aderir à UE e, ao mesmo tempo, manter a estreita relação com a Rússia.

Ele calcula que pode jogar nos dois lados e esperar uma vitória de Trump“, afirmou.

A opinião é partilhada pelo professor em Estudos de Segurança na Universidade de Belgrado, Filip Ejdus, que também calcula que o regime “reforce a sua parceria estratégica com Moscovo e Pequim nos próximos tempos e, potencialmente, com Washington, especialmente se Donald Trump regressar à Casa Branca em novembro”.

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“O regime tentará simultaneamente neutralizar algumas das críticas europeias e apelos a uma investigação internacional das eleições, fazendo algumas aberturas ao Ocidente no que diz respeito, por exemplo, à extração de lítio, à venda de mais armas que vão acabar na Ucrânia ou a alguns passos simbólicos no alinhamento com a Política Externa e de Segurança Comum da UE”, afirmou.

Porém, este académico salienta que Vucic quer manter as boas relações com Moscovo, “de modo a poder compensar as pressões do Ocidente relativamente ao regime cada vez mais autoritário no país e às políticas revisionistas na região”.

O interesse estratégico da Rússia é preservar o regime de Aleksandar Vucic, porque sabe que, sob o seu comando, a Sérvia nunca vai aderir às sanções ocidentais contra a Rússia e não fará parte nem da UE nem da NATO”, explicou.

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O Partido Progressista Sérvio (SNS), do Presidente Aleksandar Vucic, venceu as eleições legislativas e locais de 17 de dezembro, cujos resultados foram contestados pela oposição.

Observadores internacionais, incluindo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), também relataram “irregularidades”, nomeadamente “compra de votos” e “enchimento de urnas”.

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A Sérvia está no centro de tensões na região dos Balcãs, que sofreram a dissolução sangrenta da antiga Jugoslávia na década de 1990.

As tensões giraram principalmente em torno da antiga província sérvia do Kosovo, que declarou independência em 2008, o que a Sérvia e os seus mais próximos aliados — Rússia e China — não reconhecem.

A NATO mantém tropas de manutenção da paz no Kosovo desde 1999, quando a aliança militar ocidental interveio para impedir a repressão sangrenta de Belgrado contra os separatistas albaneses do Kosovo.

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Mas o Exército sérvio também tem laços estreitos com a Rússia, de onde tem adquirido a maior parte das suas armas, incluindo aviões de caça e tanques de guerra. Embora procure formalmente a adesão à União Europeia, a Sérvia recusou-se a introduzir sanções contra a Rússia pela sua agressão à Ucrânia.