O sindicato dos bancários afeto à CGTP (Sintaf) considerou esta sexta-feira “vergonhosos” os 2% de aumentos salariais propostos pelos bancos acusando-os de não reconhecerem os obreiros dos lucros recorde de 2023.

Em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira (Sintaf) disse que os bancos têm apresentado lucros recorde referentes a 2023 sem que as “administrações façam referência ao empenho dos seus trabalhadores” e propondo “uns vergonhosos 2%” de aumentos para este ano. O Sintaf reivindica um aumento de 15%, com o mínimo de 150 euros.

“As administrações da banca estão muito satisfeitas e dão bons bónus a elas próprias, mas e aos restantes obreiros desses bons resultados? Nada”, refere o Sintaf, que considera que, com a constante falta de reconhecimento pessoal e remuneratório, a banca já não é hoje um setor atrativo para trabalhar como foi no passado.

Sobre os lucros do setor em 2023, o Sintaf afirma que a maioria dos bancos são detidos por estrangeiros, pelo que “estes lucros recorde vão para fora do país, a riqueza gerada em Portugal, mas que vai para outras economias”.

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Esta sexta-feira à tarde há uma manifestação em Lisboa de trabalhadores bancários frente à sede da Associação Portuguesa de Bancos (APB) por aumentos salariais dignos, convocada pelos sindicatos afetos à UGT (que exigem aumentos de 6% e consideram a contraproposta de 2% da banca “miserável e indecorosa”).

Segundo Mais Sindicato, SBN e SBC, depois de durante o período difícil da troika e anos seguintes os bancários terem sido os “pilares fundamentais” do setor financeiro, hoje são “tratados como escravos da banca” enquanto “os lucros extraordinários fluem para as mãos dos acionistas, muitos dos quais são estrangeiros”.

Dos cinco grandes bancos que operam em Portugal, já apresentaram as contas relativas a 2023 o Santander Totta, o Novo Banco e o BPI com crescimento dos lucros para 1.030 milhões de euros, 743 milhões de euros e 524 milhões de euros.

Caixa Geral de Depósitos (CGD, o banco público) e BCP ainda não apresentaram os resultados, mas os dados até setembro (a CGD lucrou 987 milhões de euros e o BCP 651 milhões de euros) permitem antever que 2023 deverá ultrapassar o recorde de 2007. Nesse ano, os cinco grandes bancos (Caixa Geral de Depósitos, BCP, Banco Espírito Santo, Santander Totta e Banco BPI) lucraram quase 2.900 milhões de euros.

Em 2023 os lucros do setor beneficiaram do aumento das taxas de juro (que leva os bancos a cobrarem mais nos juros dos créditos enquanto os juros pagos nos depósitos sobem mais devagar) e da redução de custos feita no passado (em anos anteriores os bancos fizeram severos programas de reestruturação, designadamente com cortes no quadro de pessoal).

Os lucros da banca têm sido falados nesta pré-campanha eleitoral, mas sem dominar o debate. Nos seus programas eleitorais, entre outras propostas, o PCP quer a taxação extraordinária dos lucros da banca, a Iniciativa Liberal defende o fim do imposto adicional de solidariedade e a privatização da CGD e o Bloco de Esquerda quer que o banco público (CGD) intervenha para a banca baixar os juros no crédito à habitação.

Em debate esta terça-feira com o líder da Aliança Democrática (coligação que integra PSD, CDS-PP e PPM), a líder do BE, Mariana Mortágua, propôs que a CGD baixe o ‘spread’ dos empréstimos em 1,5 pontos percentuais, o que levaria a poupar dinheiro às famílias (estimando que, num empréstimo de 150 mil euros, cada família pouparia 1.600 euros anuais) e criaria concorrência entre bancos.

A AD, o PS, o Chega e o PAN ainda não apresentaram os seus programas eleitorais, o que vai acontecer nos próximos dias.

Em entrevista à CMTV esta quarta-feira, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, admitiu olhar para a hipótese temporária de usar os lucros da banca para pagar parte dos encargos do crédito à habitação. “Se houver uma proposta boa, nós temos que olhar para ela”, afirmou.

Também esta sexta-feira decorrem em Espanha manifestações de bancários convocadas pelas confederações sindicais Comisiones Obreras, UGT e FINE. Aliás, a manifestação de bancários foi concertada entre os sindicatos dos dois países.

O Sindicato dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) disse esta sexta-feira que esteve presente na manifestação em Madrid. Em Portugal há cerca de 40 mil bancários.