Para uma equipa grande, uma daquelas equipas que luta por praticamente todas as competições em que está inserida, a melhor solução para uma escorregadela é o jogo seguinte. Não há melhor cura para uma desilusão que uma vitória, um triunfo, uma alegria — e era precisamente tudo isso que o Benfica procurava esta quinta-feira, contra o Toulouse, depois de ter empatado em Guimarães no fim de semana.

Os encarnados perderam a liderança isolada do Campeonato, ainda que provisória, e permitiram que o Sporting conquistasse o conforto de ter os mesmos pontos e menos um jogo disputado. Motivos mais do que suficientes para que a Liga Europa e o respetivo playoff de acesso aos oitavos de final, contra o Toulouse, servisse como um autêntico analgésico para a dor de uma ferida que está aberta desde domingo.

Ficha de jogo

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Benfica-Toulouse, 2-1

Playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Donatas Rumsas (Lituânia)

Benfica: Trubin, Fredrik Aursnes, António Silva, Otamendi, Álvaro Carreras (Alexander Bah, 59′), João Neves, Kökçü, Di María, Rafa, João Mário (David Neres, 59′), Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 88′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, André Gomes, Morato, Tengstedt, Benjamín Rollheiser, Tomás Araújo, Tiago Gouveia, Florentino

Treinador: Roger Schmidt

Toulouse: Guillaume Restes, Mikkel Desler, Logan Costa, Rasmus Nicolaisen, Moussa Diarra (Christian Mawissa, 70′), Stijn Spierings (Frank Magri, 77′), Vincent Sierro, Aron Dønnum (Shavy Babicka, 70′), Yann Gboho (Naatan Skyttä, 86′), Gabriel Suazo, Thijs Cristian Cásseres Jr., 77′)

Suplentes não utilizados: Álex Domínguez, Justin Lacombe, Ibrahim Cissoko, César Gelabert, Warren Kamanzi

Treinador: Carles Martínez Novell

Golos: Di María (gp, 68′ e gp, 90+8′), Mikkel Desler (75′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Stijn Spierings (37′), a Mikkel Desler (43′), a Guillaume Restes (58′), a Naatan Skyttä (90+2′), a Kökçü (90+2′), a Christian Mawissa (90+3′ e 90+6′); cartão vermelho por acumulação a Christian Mawissa (90+6′)

“Não interessa qual é a competição: quando começamos damos sempre o nosso melhor em cada jogo e tentamos vencer cada um deles. Antes dos 90 minutos, o nosso objetivo é sempre vencer, não interessa qual é a competição. Damos o nosso melhor no Campeonato, demos o nosso melhor na Taça da Liga, nos jogos internacionais e também na Taça de Portugal. Damos sempre tudo. E claro, se fizermos isso e vencermos, estamos nas finais e podemos tentar ganhar os títulos. Mas não faz muito sentido pensar nas próximas rondas. A este nível, também na Liga Europa, tens de respeitar sempre cada adversário e precisas de foco completo para ter sucesso nestes jogos. Daremos o nosso melhor a cada ronda”, explicou Roger Schmidt na antevisão, não deixando de sublinhar que o Benfica deveria estar ainda na Liga dos Campeões.

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Assim, na Luz, o treinador alemão lançava Álvaro Carreras no onze inicial e deixava Morato no banco, com Aursnes a manter a titularidade mas na direita da defesa, em detrimento de Alexander Bah, e Arthur Cabral a voltar naturalmente à condição de referência ofensiva. Do outro lado, num Toulouse que está um ponto acima da zona de despromoção da Ligue 1 mas que cumpriu uma boa fase de grupos da Liga Europa, Carles Martínez Novell tinha no avançado neerlandês Thijs Dallinga o grande abono de família da equipa.

O jogo começou sem grande ritmo e intensidade e com um ligeiro ascendente do Toulouse, que ia procurando ter bola no meio-campo e explorar a profundidade nas costas da defesa do Benfica. Dallinga teve o primeiro momento de maior perigo da partida, ao aparecer a rematar já na área para um corte atento de António Silva (9′), e os encarnados responderam com um pontapé forte de Kökçü que passou ligeiramente ao lado da baliza (15′).

O médio turco estava particularmente inspirado e foi o principal obreiro da evolução exibicional do Benfica, percebendo que seria difícil criar oportunidades de golo através do futebol aéreo face à estatura elevada dos centrais franceses. Kökçü funcionava como um verdadeiro pivô de distribuição de jogo, com vários passes verticais que rasgaram a organização defensiva adversária, e ia assinando uma das melhores exibições desde que chegou à Luz.

O Benfica começou a controlar as ocorrências principalmente a partir da meia-hora, assentando arraiais no meio-campo oposto e construindo lances de perigo de forma recorrente. João Mário rematou por cima (28′), Otamendi falhou o alvo de cabeça depois de um canto (29′), João Neves também tentou a sorte com um cabeceamento na sequência de um grande passe de Kökçü e Rafa ameaçou o golo em duas ocasiões, com um pontapé à malha lateral (36′) e outro que acertou em cheio na trave da baliza de Guillaume Restes (38′).

Ao intervalo, apesar de ter tido várias oportunidades para abrir o marcador e de não ter permitido grandes aventuras ao Toulouse, o Benfica estava ainda empatado sem golos na Luz e teria de implementar muito mais eficácia, critério e assertividade nas aproximações à baliza contrária. A teoria estava lá toda — faltava a prática. 

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a primeira ocasião de maior perigo pertenceu ao Benfica, com Álvaro Carreras a rematar forte e rasteiro para Restes encaixar (51′). A parca intensidade da primeira parte manteve-se, ainda assim, e até era o Toulouse quem procurava ter mais posse de bola e estar recorrentemente mais perto da baliza de Trubin. As oportunidades, porém, não apareciam — tanto pela escassa qualidade ofensiva dos franceses como pela boa organização defensiva dos portugueses.

Roger Schmidt decidiu mexer à passagem da hora de jogo e trocou Carreras e João Mário por Alexander Bah e David Neres, passando Aursnes para a esquerda da defesa para o dinamarquês assumir o lado contrário — numa clara busca por inspiração e criatividade, dois fatores que estavam completamente desaparecidos na segunda parte dos encarnados. Já dentro dos últimos 25 minutos, porém, o azar de uns foi a sorte de outros.

Logan Costa tocou a bola com a mão no interior da área do Toulouse, o VAR alertou o árbitro da partida e as imagens ofereceram uma grande penalidade ao Benfica, com Di María a converter o penálti e a colocar o Benfica a vencer (68′). Carles Martínez Novell respondeu com uma dupla substituição, lançando Shavy Babicka e Christian Mawissa, Arthur Cabral poderia ter aumentado a vantagem num lance em rematou em esforço e viu Restes ter uma grande intervenção (73′) e os franceses acabaram por conseguir chegar ao empate.

Lance de muita insistência do Toulouse, lance de muita cerimónia do Benfica e Desler apareceu completamente sozinho nas costas de Aursnes, na grande área, a atirar forte para bater Trubin (75′). Roger Schmidt lançou Marcos Leonardo nos últimos minutos e o avançado brasileiro acabou por estar diretamente ligado à jogada que tudo mudou: na área francesa, Christian Mawissa chegou atrasado e pisou o jogador encarnado, com o árbitro a assinalar grande penalidade de imediato a expulsar o francês por acumulação de amarelos. Na conversão, Di María não falhou, bisou na partida e garantiu a vitória (90+8′).

No fim, o Benfica venceu o Toulouse e colocou-se em vantagem no playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa — apesar da exibição apagada e desinspirada que só teve salvação nos dois penáltis convertidos por Di María. Afinal, há dias em que a pintura a rolo sabe a uma verdadeira obra de arte.