Os lucros da Endesa caíram para 742 milhões de euros em 2023, menos 71%, devido à decisão arbitral que a obriga a pagar 530 milhões de euros a um produtor de gás natural liquefeito (GNL) e à queda da margem do negócio de gás.

Segundo informou, esta quarta-feira, a empresa ao regulador espanhol, a CNMV — Comisión Nacional del Mercado de Valores, o resultado líquido ordinário, que serve de base para a distribuição do dividendo, caiu 60% para 951 milhões de euros, e o resultado bruto de exploração (Ebitda) foi de 3.777 milhões, menos 32%.

O Ebitda dos negócios liberalizados (produção e comercialização) caiu 19% devido à menor margem da geração convencional, depois da obtenção de um resultado extraordinário em 2022 devido aos preços altos, enquanto o do negócio de distribuição regulada melhorou para 1.757 milhões de euros, em comparação com 1.703 milhões de euros em 2022.

As receitas da Endesa caíram 23% em 2023, para 25.459 milhões de euros.

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Apesar da queda no resultado de 2023, o presidente executivo da Endesa, José Bogas, disse que esperam voltar a crescer em 2024 com a normalização das margens nos negócios de gás e geração convencional.

O responsável confirmou os objetivos anunciados no último Capital Markets Day de alcançar um Ebitda entre 4.900 milhões e 5.200 milhões de euros, o que representaria um aumento entre 11% e 18%; e de aumentar o resultado líquido ordinário em 60% a 70%, para entre 1.600 milhões e 1.700 milhões de euros.

A redução do lucro em 2023 foi influenciada pela queda dos preços da energia, com o preço médio do gás (índice TTF) a cair 64% em relação ao ano anterior e o preço médio diário do mercado grossista de eletricidade (pool) a cair 48%, para 87 euros/megawatt-hora (MWh), combinados com uma queda de 2,1% na procura.

Os resultados da Endesa também foram afetados pela redução introduzida pelo ‘clawback‘ (mecanismo para corrigir as distorções na formação do preço médio da eletricidade) aprovado pelo governo espanhol para limitar o preço de venda da energia produzida por centrais que não utilizam gás, bem como pelo imposto extraordinário temporário de 1,2% sobre os rendimentos das empresas com um volume de negócios superior a 1.000 milhões de euros.

Entretanto, o Ebitda foi afetado pela decisão arbitral que obrigou a Endesa a pagar 530 milhões de euros a um produtor de gás natural liquefeito pela revisão de um contrato de fornecimento, bem como por uma provisão para digitalização de 165 milhões de euros, além do facto de este ano a Endesa não ter tido os ganhos extraordinários que resultaram em 2022 da venda de 51% do seu negócio de mobilidade eléctrica à sua empresa-mãe, a Enel.

A empresa também sofreu maiores depreciações e perdas por imparidade em 2023, e um aumento dos custos financeiros, com um impacto de 256 milhões, também afetados por uma reposição financeira negativa de provisões.

A Endesa investiu 2.304 milhões em 2023, menos 2% do que em 2022, quando atingiu o recorde histórico de investimento, dos quais 38% foram para a rede de distribuição, 34% para as energias renováveis, 15% para a geração convencional e 12% para a venda de eletricidade, gás e serviços de valor acrescentado.

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A empresa terminou 2023 com 6,9 milhões de clientes no mercado livre, mais 1% do que em 2022, e as vendas de eletricidade a preço fixo a clientes domésticos e empresariais cresceram 3% para 53 terawatts hora (TWh).

A Endesa também aumentou o número de pontos de carregamento de veículos elétricos em 39% em 2023, para 19.300, e aumentou a capacidade instalada para clientes em novas instalações de autoconsumo em quase cinco vezes, para 184 megawatts (MW).

O custo médio da dívida situou-se em 3,2% em 2023, em comparação com 1,4% no ano anterior, devido a taxas de juro mais elevadas.