Rodeado de militantes, Rui Tavares admite que já não sabe o nome de todos os que marcaram presença na ação de campanha desta terça-feira, no centro de Lisboa. Vê-o como bom sinal, já que significa que muita gente nova entrou no partido e aponta o momento da crise política como ponto de viragem para muitos dos recém-chegados. “É bom chegar a casa cansado no fim de um dia campanha e ver que em Castelo Branco, nos Açores, em Aveiro e Bragança, todos os dias, há gente do Livre a fazer contactos com as populações”.

Junto à embaixada da Rússia, o porta-voz do Livre defende que um voto no partido “faz uma enorme diferença”, menos nos distritos em que é improvável conseguir eleger. “Se fizermos a média das sondagens que têm estado a sair, essa média apontaria o Livre para 3%. A diferença de 1% para cima ou para baixo é substancial”. Para Rui Tavares esta é a diferença “entre ter um grupo substancial que pode ir a todas as comissões e que pode ter uma influência grande no virar o jogo destas eleições e garantir ao país uma governação de progresso e ecologia”.

Ana Augusto, de 19 anos, uma das várias estudantes que abordou Rui Tavares na arruada entre o Jardim do Arco do Cego e a embaixada da Rússia (alguns chamaram-lhe “professor”), parou para dizer que já tinha votado no Livre no domingo. É de Évora, votou em mobilidade, e reconhece que não sabe quem lidera a candidatura pelo círculo eleitoral a que pertence. A resposta certa é Glória Franco. “O voto serve sempre para marcarmos a nossa posição. Não acredito no voto útil, voto naquilo que me representa e no que acho que é melhor para o futuro de Portugal”, justifica.

Rui Tavares também nega que o voto da estudante e dos que pensam como ela seja desperdiçado. “Há cada vez mais gente, nos vários distritos, que quer dar um grito de protesto contra esta situação absolutamente intolerável de um país de dois sistemas que viola o princípio da igualdade da constituição”, assegura. “Quem vota em Lisboa e no Porto vota numa democracia multipartidária, quem vota em Portalegre vive numa democracia bipartidária, isto acontece porque o PS e o PSD não querem introduzir um círculo de compensação nacional”, acrescenta.

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O deputado único garante que “não muda nada votar nos dois partidos que não querem mudar nada”. “Se a chantagem do voto útil no interior resultar significa que vai ficar tudo na mesma e o voto no Livre é o voto na esquerda que não deixa tudo na mesma”, destaca.

Rui Tavares recorda que Vox divulgou mapa da Península Ibérica sem fronteiras. “Onde está o patriotismo [do Chega]?”

Em declarações aos jornalistas, junto ao memorial de Alexei Navalny, em Lisboa, Rui Tavares apelou à libertação de Vladimir Kara-Murza, ativista russo condenado a 25 anos de prisão pelo regime de Vladimir Putim. Gabou-lhe a coragem e tomou-a como exemplo. “A ideia é marcar qual é que é o sentido de futuro na luta pela democracia na Rússia, pelo fim da guerra na Ucrânia e pela paz na Europa. Esse sentido de futuro é apelar à libertação de Kara-Murza após o assassinato de Navalny”, apelou. “Ele tem coragem hoje porque antes dele outros tiveram coragem”, garantiu.

Ainda sobre o cruzamento da política internacional com a portuguesa, reagiu à presença de Santiago Abascal no comício do Chega em Olhão. “O Chega já tem o apoio de Viktor Órban que é o político mais corrupto da União Europeia segundo várias organizações internacionais. O pai de Órban tornou-se um dos homens mais ricos da Hungria, o genro, o filho e os amigos de infância e nenhum deles o era antes dele ser primeiro-ministro”, acusou o deputado único, recordando que este é “um dos líderes que apoia o Chega que diz que vem limpar Portugal da corrupção”.

E recorda uma história antiga. “Aqui há uns tempos o Vox mostrou um mapa da Península Ibérica onde as fronteiras de Portugal tinham desaparecido, porque há muito dentro do nacionalismo espanhol quem ache que o nosso país é um equívoco e que a Espanha una seria a península ibérica toda”. No dia seguinte ao episódio, lembra Tavares, Ventura “foi para Espanha encontrar-se com Santiago Abascal”. “Onde é que está o patriotismo e o brio?”, questiona.

Rui Tavares falou ainda sobre o “farseamento” de um tweet de um membro do Livre por Ventura. “Eu trouxe o dito tweet já que Ventura gosta de mostrar tweets. Claro que é piada, óbvio, trata-se de uma pessoa que não está nem nunca esteve escalada pelo Livre para estar nas contagens e nas mesas de voto”, defendeu. “Percebia-se que o Chega estava a tentar insuflar esta história e houve muita gente que ironizou com a história”, acrescentou. E assegurou que Ventura “nunca se responsabilizou por coisas ditas muito mais graves do que estas, como uma pessoa que disse que era fascista no seu congresso e que na altura disseram que era ironia”.