No fim da cerimónia dos Óscares faz-se a contagem de estatuetas para cada um dos filmes concorrentes. Por aqui, trata-se de moda, por isso fazemos a contabilidade de tendências vistas na passadeira vermelha. Havia uma certa expectativa para ver se as divas se rendiam aos looks vintage, mas muitas preferiram ser sustentáveis com vestidos justos, sem longas caudas ou amplas saias. Brilho não faltou, ou não fosse esta a grande noite do cinema. Houve duas Barbies e uma surpresa cor de rosa. Aos vestidos pretos perdemos a conta, mas vamos destacar alguns mais à frente. Glamour “old school” diriam uns, apostas demasiado seguras diriam outros.

O filme sensação deste ano “Barbie” abriu um capítulo de arrojados vestidos cor de rosa na época de prémios de cinema 2024. Na passadeira vermelha vimos dois, protagonizados por America Ferrera com um vestido Atelier Versace cheio de brilho, e por Ariana Grande, que compensou a sua delicada figura com um volumoso casaco “marshmellow”. A autêntica Barbie, entenda-se Margot Robbie, optou por um vestido preto. O momento “pink power” da noite só chegaria durante a cerimónia, quando Ryan Gosling vestiu um fato rosa-choque com brilhantes e ainda luvas a condizer, tudo com assinatura Gucci, para interpretar a música “I’m just Ken”. A performance teve clara inspiração no vídeo “Diamonds are a girl’s best friend” de Marylin Monroe, pôs o cenário de cor de rosa e o público divertido.

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Ryan Gosling na sua performance da música “I ‘m just Ken”, nomeada para o Óscar de melhor canção, durante a cerimónia

Entram ainda para a contabilidade quatro vestidos em deliciosos tons pastel, porque embora a primavera esteja à porta, nestas festas costumam reinar os tons fortes. O vestido de Emma Stone em verde-água com assinatura Louis Vuitton tanto deu nas vistas na passadeira vermelha como quando a atriz subiu ao palco para receber o prémio de protagonista feminina e mostrou que uma das costuras nas costas não resistiu à emoção do momento. Hailee Steinfeld usou um vestido Elie Saab que também se destacou pela vaporosa saia. Da’Vine Joy Randolph vestida por Louis Vuitton e Lupita Nyong’o por Armani Privé preferiram frescos tons de azul carregados de brilho.

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Vamos então aos vestidos pretos, porque manda a máxima de mademoiselle Chanel que “com um vestido preto nunca me comprometo”, mas a cor não inibe o design. E a elegância sóbria com poder de statement tanto se nota no vestido Schiaparelli de Sandra Huller e no recatado Dolce & Gabbana de Jamie Lee Curtis, como nos fatos de calça e blazer de Kate McKinnon e de Justine Triet. Uma nota de destaque para as diferentes abordagens de Carey Mulligan vestida em Balenciaga e Greta Lee em Loewe ao chamado eterno binómio preto/branco. Ente a elegância clássica de uma e o design contemporâneo de outra, a verdade é que é difícil escolher. Mas a primeira tem uma história para contar, o vestido de Carey Mulligan é uma recriação de um vestido de 1951 e uma homenagem à sua personagem no filme “Maestro”, que lhe valeu a nomeação para estes prémios. “Acho que é o meu vestido preferido de sempre”, disse a atriz à Vogue.

Ficam para a história desta festa as pintas do vestido Dior de Jennifer Lawrence, a pincelada cor de laranja de Regina King e o vestido Louis Vuitton de Cynthia Erivo que parece ter tido inspiração réptil. Falta ainda fazer referência ao vestido de Suleika Jaouad, protagonista do documentário “American Symphony”, criado por Angelina Jolie. Os cavalheiros apostaram na elegância clássica e não há surpresas a reportar, à exceção talvez do look Yohji Yamamoto de Wim Wenders que o realizador já tinha usado no desfile do designer em janeiro, ou mesmo um Roger Federer em modo James Bond.

Este ano a passadeira vermelha foi desenrolada cedo. Pelas 20h00 em Lisboa já começava o desfile de moda a caminho da entrega dos Óscares. Veja os melhores looks da passadeira vermelha dos prémios da Academia na galeria em cima.

A tendência vintage na passadeira vermelha

Parece que anda por aí uma verdadeira caça à moda vintage com assinatura de designer e se for um modelo icónico ainda melhor. Laverne Cox, apresentadora do E! Channel, chegou à passadeira destes Óscares com um vestido de Thierry Mugler de 1986, que a Vogue diz ser da loja Tab Vintage, em Los Angeles. O look aguça-nos a curiosidade para saber sobre a tendência vintage.

Já Zendaya tinha conseguido uma verdadeira peça de museu, com o fato metálico de Thierry Mugler de 1995 que usou na estreia de “Dune: Parte II”. Mas não foi a primeira a chegar ao precioso e mediático arquivo de Mugler, que morreu em janeiro de 2022. Em 2019, Cardi B já tinha conseguido uma parceria com o designer ( com a ajuda do seu stylist Kollin Carter) para usar criações tão especiais que até tiveram lugar numa exposição dedicada à obra de Mugler.

A lição de Emma Stone

Cate Blanchett deu a ideia e começou, já nos últimos anos, a percorrer passadeiras vermelhas com vestidos com os quais já a tínhamos visto. Nos BAFTA de 2023 a iniciativa conquistou o selo real quando Kate Middleton usou o mesmo vestido com que assistiu à cerimónia em 2019.

Escolher usar peças vintage mostra uma atitude alinhada com um espírito de sustentabilidade e pode até dar uma história extra para quem está atento aos looks da passadeira vermelha e nas cerimónias de entregas de prémios de 2024 a moda parece ter encontrado novos fãs.

Os stylists das estrelas não deixam passar uma tendência e já terão começado uma busca por criações antigas e as lojas de moda de luxo vintage são paragem obrigatória. Para os Óscares deste domingo o The Guardian dava conta que as lojas de moda vintage em Los Angeles registaram uma série de pedidos. Alexis Novak da loja Tab Vintage disse ao jornal que teve “dezenas e dezenas” de pedidos para provas, algumas na véspera da cerimónia, e que notou uma tendência para “peças realmente opulentas”.

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Nos Globos de Ouro, que marcaram o arranque de mais uma época de passadeiras vermelhas, já assistimos a esta tendência. Elle Fanning usou um vestido vintage Pierre Balmain da década de 1960, Carey Mulligan optou por um vestido Schiaparelli de 1949, duas verdadeiras preciosidades de Alta Costura. Mulligan tomou-lhe o gosto e nos BAFTA mostrou um vestido Dior de 1951. Nos Emmys voltamos a ver um Balmain saído do baú usado por Claire Danes e um Yohji Yamamoto datado de 1999 e vestido por Lizzy Caplan. Brie Larson também proporcionou uma memória emotiva ao usar um vestido de Christian Lacroix, uma antiga glória da Alta Costura cuja marca fechou em 2009, nos Producers Guild Awards. Nos prémios SAG, Anne Hathaway também foi ao armário, mas para trazer um vestido Atelier Versace de 2015.

No que toca à moda na passadeira vermelha, o vintage chama-se “moda de arquivo”, escreve Vanessa Friedman no New York Times, e acrescenta que é do “arquivo” tudo o que não é novo. A editora de moda do jornal deu conta da tendência na mais recente edição dos prémios Grammy. Entre as várias convidadas que usaram looks antigos, destacam-se Olivia Rodrigo e um vestido Versace de 1995, Laverne Cox com um look Comme des Garçons de 2015, Oprah Winfrey com um vestido Valentino seu de 2004/5 e Miley Cyrus brilhou num peça criada por Bob Mackie quando cantou “Flowers” em palco.

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