Não era a primeira esta temporada que o Al Nassr tinha uma sequência de três encontros consecutivos sem ganhar, a grande diferença era mesmo o peso de cada uma dessas séries. Quando no final de novembro e no início de dezembro o conjunto de Riade somou dois empates na fase de grupos da Liga dos Campeões asiática e uma derrota frente ao principal rival na luta pelo Campeonato saudita, o Al Hilal, tudo se mantinha aberto incluindo o Campeonato e a qualificação na prova continental para os oitavos. Agora, pelo contrário, todos os deslizes estão a ter um redobrado peso e, mais um, poderia quase finalizar a temporada em março.

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Depois do empate a quatro com o Al-Hazm num encontro de loucos com dois golos nos descontos onde o Al Nassr perdeu pontos contra o último classificado, a recente derrota caseira com o Al-Raed acabou de vez com a escassa esperança da conquista do título face à campanha digna de Guinness Book do Al Hilal, que leva 27 vitórias consecutivas em todas as provas. Ainda assim, esses 12 pontos de atraso tiveram prolongamento na Champions, com uma derrota na primeira mão dos quartos nos EAU frente ao Al Ain. Em Riade, a equipa de Cristiano Ronaldo tinha 90 minutos para virar a eliminatória e encontrar um tábua de salvação numa época onde ganhou a Taça dos Campeões Árabes e a imprensa colocava em risco o lugar de Luís Castro.

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“Há quanto tempo o Al Nassr não ganha um título? Não me façam sentir que a equipa ganha todos os anos… Sabemos que os erros defensivos aumentam quando avançamos para o ataque, é muito claro que o Al Nassr tem problemas defensivos e não escondi os mesmos. Sempre disse que marcamos mais golos, a verdade é a verdade. Assumo a minha responsabilidade. Disse aos jogadores que o nosso caminho é na próxima segunda-feira [na Liga dos Campeões asiática]. Temos de olhar para frente e esquecer o passado. Estou triste mas estou a olhar para o futuro”, tinha referido o técnico depois da última derrota caseira na Liga saudita.

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“Estamos prontos para este segundo jogo com o Al Ain. Quem joga ou quem vive no futebol e tem medo da pressão é porque não entende onde está. Existe uma grande confiança nos jogadores e nos adeptos. Por isso, entraremos com uma mentalidade vencedora. Mudar a defesa? Não vou defender com cinco. Sou um treinador ofensivo e tenho jogadores de enorme qualidade atacante. Seria um crime contra o futebol jogar defensivamente com eles”, apontara agora antes da “final” em Riade com a formação dos EAU. Esta ideia acabou por ser o segredo para a remontada mas não de forma automática, tendo em conta que esse cenário abriu a porta ao Al Ain para chegar ao 3-0 antes das recuperações nos 90 minutos e no prolongamento que levaram tudo para o desempate por grandes penalidades, onde o Al Nassr perdeu e caiu da Champions.

O encontro começou com um primeiro aviso do Al Ain logo na bola de saída, com Soufiane Rahimi a ganhar as costas da defesa do Al Nassr para atirar às malhas laterais, mas foi a equipa da casa que conseguiu depois estabilizar um pouco o jogo e criar a primeira oportunidade num cabeceamento de Abdulelah Al-Amri após livre de Alex Telles que saiu ao lado (6′). Apesar da necessidade de ter de anular a vantagem que trouxe dos EAU, a equipa de Riade enfrentava dificuldades diante de um Al Ain comandado pelo ex-avançado argentino Hernán Crespo que voltava a mostrar grande organização coletiva e complicava ainda mais as contas com o 1-0, num lançamento para Rahimi que disparou para a área, marcou e viu o VAR validar o golo (28′).

Apesar do golpe, o Al Nassr conseguiu reagir. Ghareeb, num lance em que procurava cruzar mas que quase fez golo, acertou na trave da baliza de Khalid Eisa (34′) e Ronaldo também obrigou o guarda-redes do Al Ain a uma defesa mais apertada (39′), mas os problemas defensivos sobretudo pelo eixo central voltaram a trazer mais dificuldades, com Rahimi a bisar e a deixar os muitos adeptos visitantes presentes em delírio numa festa quase antecipada (45′) que sofreu uma pequena atenuante no quinto e penúltimo minuto de descontos, com Sadio Mané a aproveitar uma má saída da baliza da Eisa para rematar rasteiro e ver Ghareeb desviar de forma oportuna na área para o 2-1 que colocava o empate da eliminatória a “apenas” dois golos.

“Apenas” porque, no segundo tempo, o Al Nassr entrou de forma completamente diferente. Mais intenso, mais rápido, mais subido, mais pragmático. Ronaldo teve um remate à trave logo a abrir que seria anulado por fora de jogo (48′), Otávio também se deixou antecipar na área quando tinha tudo para marcar mas o empate chegou mesmo com o médio internacional português a fazer um cruzamento/remate para o desvio de Khalid Eisa para a própria baliza (54′). A eliminatória estava em definitivo reaberta e com Ronaldo a fazer o que não é normal, falhando uma recarga na pequena área quando estava sozinho (61′), mas o jogo inclinara de vez para o Al Nassr, que chegou ao 3-2 na sequência de um livre lateral de Alex Telles que passou por toda a gente na área e surpreendeu Eisa (72′). Era a altura do Al Nassr mas os sauditas não aproveitaram.

O encontro seguiu mesmo para prolongamento, onde havia ainda muita história para contar: Ayman Yahya saiu em lágrimas após ver um vermelho direto num lance em que teve uma entrada imprudente (98′), um erro crasso do guarda-redes Raghed Al-Najjar permitiu que Sultan Al-Shamsi colocasse de novo o Al Ain na frente da eliminatória (103′), uma grande penalidade sofrida e convertida por Cristiano Ronaldo manteve tudo em aberto a dois minutos do final do tempo extra. A decisão iria para o desempate por penáltis, onde o que podia correr mal, correu ainda pior: Brozovic permitiu a defesa a Khalid Eisa, Alex Telles acertou na trave, Ronaldo marcou mas Otávio atirou ao lado, dando a vitória ao conjunto dos EAU por 3-1.