O politólogo André Freire considerou esta terça-feira que o descontentamento dos eleitores no funcionamento do sistema político provocou a grande votação no Chega em todo o país, e particularmente no Algarve, onde este partido foi o mais votado.

“Eu penso que no Algarve, como no resto de Portugal, estaremos aqui perante um voto de protesto de grande volume”, disse à agência Lusa o professor catedrático do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), numa reação aos resultados do ato eleitoral de domingo no distrito de Faro.

Para André Freire, o descontentamento com o funcionamento do sistema político “traduziu-se agora neste voto enorme” no partido liderado por André Ventura, que obteve no Algarve 27,19% dos votos, e elegeu três dos nove deputados, o mesmo número de mandatos obtidos pelo PS e também pela Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM).

A nível nacional, o Chega passou de 12 deputados nas eleições anteriores, em 2022, para 48 (18,06%) nas legislativas de domingo, reforçando a sua posição de terceira maior força na Assembleia da República, atrás da Aliança Democrática (79 deputados) e do PS (77).

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Sobre as razões que levaram a esta grande votação no partido na região, André Freire afirma não ter “informação específica”, mas arriscou dizer que pode estar relacionado, entre outras, com as condições de aquisição de habitação gravosas e a presença de muitos estrangeiros, tanto turistas como trabalhadores precários mal pagos.

“É uma mistura, mas confesso que também não tenho dados para lhe responder a isso de uma forma cabal”, confessou, acrescentando que é “fundamental” tentar perceber quais são as razões e dar uma resposta “a algumas das razões desse descontentamento”.

Por outro lado, o politólogo não arrisca dar conselhos sobre o que deve ser feito, mas acha “correta” a posição do PSD de fazer aquilo que na gíria se chama um “cordão sanitário”, que se traduz no compromisso feito anteriormente pelo líder dos sociais-democratas de não formar governo com o Chega.

“Eu acho que a manutenção do compromisso político assumido pelo Luís Montenegro [presidente do PSD] parece-me fundamental”, afirmou André Freire, que alerta para a existência de “pressões” no sentido de se realizar um acordo com aquele partido, nomeadamente por parte do PPM, um dos parceiros do PSD na AD.

O politólogo insistiu na importância de Montenegro “cumprir a sua promessa”, apesar de esta dificultar a governabilidade do país, “para a AD e para o conjunto do sistema político”.

O PS, que tinha conseguido eleger cinco deputados em Faro nas últimas legislativas, passou nas eleições de domingo para segundo lugar, com 25,46% dos votos, perdendo dois deputados para o Chega, que em 2022 tinha elegido um deputado por este círculo eleitoral.

Já o PSD, que nestas eleições concorreu em coligação com o CDS e o PPM, obteve no Algarve 22,39% dos votos, mantendo os três mandatos que tinha conseguido sozinho em 2022.