Luís Marques Mendes diz que António Costa não será cabeça de lista do PS às eleições Europeias de 9 de junho. “Acho que terá sido convidado, mas ele não quis e a decisão está tomada e é definitiva”, afirmou no seu habitual espaço de comentário, este domingo, no Jornal da Noite da SIC. Sobre o atual cenário político, entende que o PSD, assim que assumir o Governo, terá que dialogar “à esquerda e à direita”, com o PS e o Chega. Alerta ainda para a “primeira impressão” positiva que o Executivo de Luís Montenegro tem de deixar nos primeiros “60 a 100 dias de governação“, definindo uma lista de prioridades, nas quais se incluem a revisão do programa “Mais Habitação” e a “melhoria das pensões mais baixas”.

Defendeu ainda que a localização do aeroporto e o plano de emergência para a Saúde têm de ser implementados no imediato e que no Conselho de Ministros devem estar sentados quadros “com experiência governativa” e que possam prescindir do período de “estágio”, já que a ação é urgente e irá definir o tom da governação da direita. O social-democrata entende ainda que será “afrontoso” para o um milhão de eleitores que votaram no Chega, que o partido não tenha lugar na vice-presidência da Assembleia da República.

Sobre o que ainda falta apurar das Legislativas que decorreram há exatamente uma semana, Marques Mendes entende que ainda pode “haver duas surpresas” na atribuição dos mandatos dos círculos eleitorais da emigração. “A primeira é que o Chega consiga ter um resultado muito forte, até mais forte em termos proporcionais do que em território nacional”, dando o exemplo dos eleitores que estão no Brasil e na Suíça.

A segunda “surpresa” seria Augusto Santos Silva, cabeça de lista do PS pelo círculo de fora da Europa,  não ser eleito, o que, a acontecer, seria “inédito” e “irónico”. “Que eu saiba nunca aconteceu a segunda figura do Estado ser candidato a deputado e não ser eleito. Se isso acontecer será o Chega que lhe tira o lugar e será irónico”. Lembrou os momentos em que o Presidente da Assembleia da República “censurou” o Chega e refere  que o partido consegue, desta forma, “a desforra” em relação ao socialista.

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Santos Silva defende abertura do PS para acordos com a AD na Justiça, União Europeia e finanças públicas

Na senda das críticas, Marques Mendes apontou ao Bloco de Esquerda, que acusa de parecer querer “ultrapassar” o PS na reunião da esquerda numa tentativa de entendimento que classifica de “ridícula”. Estende o desagrado ao PCP, que mesmo sem Governo ou programa do mesmo anunciou uma moção de rejeição. Para Marques Mende esta é uma das provas do tipo de ações que faz com que os comunistas “saltem de derrota em derrota”.

No futuro Governo, o antigo presidente do PSD diz que “ainda está tudo em aberto”, mesmo a hipótese de a Iniciativa Liberal (IL) ter cargos executivos. “No princípio da semana a IL disse que não estaria disponível para estar no Governo, a partir de meio da semana foi noutra direção e isso pode ter acontecido porque a meio da semana houve uma reunião entre Montenegro e Rocha e o cenário foi abordado”, afirmou, admitindo também a hipótese de a AD governar na solução original com um a dois ministros do CDS. Refere ainda a possibilidade de existir um acordo, não só no Governo, mas “próximas eleições europeias” entre PSD e IL.

Mas independentemente do Governo indigitado, é claro para Marques Mendes que o caminho será “estreito” e que “as condições de governação são talvez as piores de sempre“. Aponta, no entanto, a única vantagem — o facto de “partir com baixas expectativas”, fazendo com que possa “surpreender”. Para tal, são precisos ministros que “além de competentes devem ser experientes”. O social-democrata defende mesmo que os futuros ministros com as principais pastas — Assuntos Parlamentares, Finanças, Economia, Saúde, entre outras —  já tenham tido até experiência governativa, mesmo que não avance, para já, nomes concretos.

“Alguém que não tenha experiência precisa de bastante tempo para estagiar e este Governo tem de começar a trabalhar logo na primeira semana”, avisa e pede muito espírito de iniciativa logo nos primeiros 60 dias. “Há muitas matérias que o Governo pode decidir sem ir ao Parlamento”, diz, e dá o exemplo da localização do novo aeroporto. “A primeira impressão é que vai contar e vai haver eleições em junho e Montenegro quererá chegar à campanha desta eleição a mostrar obra”, aponta.

“Seria afrontoso para os seus eleitores que o Chega não tenha vice-presidência no Parlamento”

Marques Mendes apela a um “grande espírito de diálogo à esquerda e à direita”. O PSD Tem de dialogar com o maior partido da oposição — o PS — e até “fazer dois ou três acordos”, nos quais se inclui o novo aeroporto, a escolha do próximo Procurador Geral da República e algumas reformas na área da Justiça.

“Tem que dialogar também à direita e com o Chega, que tem um milhão de votos que contam. Seria afrontoso e provocador aos eleitores que o partido não tenha um vice presidente na Assembleia”, defende o comentador que diz que estes entendimentos são indispensáveis para que o Governo tenha sucesso. Admite ainda que o partido liderado por André Ventura “tem um mérito grande”, por ter ido “buscar abstencionistas”. “O povo normalizou o Chega no Parlamento e deu-lhe na prática todos os direitos e deveres que até agora só o PS e o PSD tinham”, acrescenta, notando a representação no Conselho de Estado e liderança nas comissões parlamentares que estão agora ao acesso do terceiro partido mais votado.

Marques Mendes entende, no entanto que Montenegro tem de manter o compromisso eleitoral de não colocar o Chega no Governo. A fazê-lo, “seria a sua morte política”. Numa definição do eleitorado do Chega, diz que este milhão de pessoas “não são racistas ou xenófobas, mas sim zangadas com a política, com as condições de vida e com a sensação de que a corrupção não é combatida a sério”. É da meridiana inteligência que o Governo governe bem para dar resposta a muitos destes problemas destas pessoas que estão zangadas. “A melhor maneira de combater os populismos é governar bem e com eficácia”, defende.

Marques Mendes versou sobre uma potencial crise política “se o PS e o Chega chumbarem o Orçamento do Estado para 2025”, em novembro. Nesse caso, instalava-se uma crise política e o mais provável seria o país voltar a ir a eleições, entende. “Também pode não acontecer, mas para o OE passar é preciso que o Governo esteja com uma boa imagem e a tomar boas decisões”, diz, referindo que a oposição não vai querer ser responsável pela crise política, já que normalmente acaba penalizada.

O social-democrata recordou ainda que “Marcelo Rebelo de Sousa, quando foi presidente do PSD nos anos 90 viabilizou três orçamentos de António Guterres“. “As circunstâncias eram diferentes, mas o partido não se desuniu e não deixou de fazer oposição, até ganhou credibilidade por estar a ajudar na estabilidade do país”, acrescentou, aconselhando Pedro Nuno Santos a “refletir nestas questões”.

Orçamento em vigor tem margem para acomodar planos de novo Governo para 2024. Algumas medidas já tiveram o teste parlamentar

Ainda sobre um possível orçamento retificativo, o comentador diz que se este for preciso será apresentado em outubro ou novembro, “em conjunto com o OE para 2025”.E lembra que esta “não é uma questão política essencial, já que o Parlamento não irá negar o aumento da despesa social”. Portanto, diz que se trata de uma  “falsa questão”.