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A viúva de um soldado russo acusou militares do exército de terem espancado e assassinado o seu marido, membro de uma unidade a combater na Ucrânia. “Foi morto pelos seus próprios camaradas porque confrontou os seus superiores, que extorquíam dinheiro às tropas”, acusou Svetlana Bulavina num relato ao jornal espanhol El Mundo.

Segundo Svetlana Bulavina, o marido, Ilya Bajarev, alistou-se no ano passado no exército russo e foi enviado para uma localidade de Novoaidarsky, na região de Lugansk. Ávido consumidor das notícias do canal estatal Rossiya 1, e tendo alegadamente cumprido de forma injusta uma pena de prisão por posse de droga, decidiu assinar um contrato com o Ministério da Defesa na esperança de apagar o seu passado.

“Tenho um filha de 12 anos do meu primeiro casamento e ele também tem uma filha com essa idade. Além disso temos um filho juntos que tem um ano. Foi por isso que ele foi para Lugansk. Se o teu pai esteve na prisão, é melhor encontrares um forma de apagar essa parte do seu passado“, explicou ao jornal espanhol. O El Mundo reconhece que Svetlana Bulavina não estava ciente de que estava a falar com jornalistas, mas não esclarece o contexto em que decorreu a conversa, apenas que se prolongou durante várias horas e que uma transcrição completa ocuparia 40 páginas.

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A mulher explicou que os confrontos de Ilya Bajarev com os superiores terão começado quando Ilya, a servir na localidade de Grechishkino sob as ordens do comandante Rasuljon Majmudov, foi promovido a chefe de guarda. Por essa altura, e determinado a garantir a ordem na unidade a seu cargo, implementou uma espécie de “lei da seca” para garantir que não havia soldados embriagados dentro ou fora do serviço — algo que tem sido relatado nos mais de dois anos de guerra.

Descontentes com as novas medidas, uma vez que estavam a impor pesadas multas, de cerca de 100.000 rublos, aos soldados embriagados, acabaram por enviá-lo para outra posição. “Ilya estava a pôr fim ao negócio deles. Também não gostaram do cuidado com que geria a unidade e isso provocou confrontos com os comandantes”, recordou Svetlana Bulavina.

Na nova posição, mais perto da frente de combate, os confrontos com os superiores só se agravaram depois de tentar instalar medidas semelhantes. “O álcool é um problema muito sério no exército e aquele local era complicado porque os soldados eram completamente descontrolados“, afirmou.

Ilya ainda regressaria a Grechishkino, depois de entrar em confronto direto com o comandante Konstantin Borolenko. Este foi, segundo Svetlana, o responsável pela morte do marido, tendo enviado dois soldados — Nikolai Alexandrovich Sazhin e Dmitry Mikhailovich Semenijin — para o matarem.

Ao El Mundo, a mulher relatou que os dois soldados espancaram o marido quando estava a dormir num abrigo subterrâneo, na noite de 29 de novembro. Pelos resultados da autópsia, foi possível determinar que perfuraram um dos seus pulmões e que acabou por morrer sem assistência. O médico do exército só terá chegado na manhã seguinte, administrando apenas um anestésico. Na mesma tarde foi declarada a morte de Ilya e o seu corpo foi enterrado num local afastado.

A família só teve conhecimento do sucedido porque alguns companheiros do marido contactaram a polícia militar, que viajou para a região para investigar o caso. “Quando o desenterraram descobriram que tinha sido enterrado dentro do seu saco de cama. Espancaram-no durante 12 horas. Acreditamos que seis outras pessoas tenham ajudado Sazhin e Semenijin a cometer o crime às ordens diretas do coronel Konstantin Borolenko”, disse ainda Svetlana Bulavina. Até ao momento, apenas um dos soldados terá sido detido, indicou.