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Um pacifista russo que terá ajudado cerca de 900 ucranianos a regressar ao país morreu numa prisão na Rússia. Alexander Demidenko, de 61 anos, morreu a 5 de abril, mas a família só foi avisada três dias depois, durante uma visita do advogado.

A família levanta suspeitas sobre a morte de Demidenko. Primeiro, a administração russa disse que era um suicídio mas, de acordo com a certidão de óbito vista pelo Guardian, ainda não foi apurada a causa do óbito.

O ativista vivia em Belgorod, cidade russa que faz fronteira com a Ucrânia. Ao longo dos dois anos de invasão, integrou uma rede voluntária que ajudou centenas de ucranianos a regressar a casa: cerca de 900 pessoas conseguiram fazer a passagem de Kolotilovka-Pokrovka, o único ponto de fronteira disponível entre a Rússia e a Ucrânia. Qualquer passagem neste local é controlada pelos FSB, os Serviços de Segurança da Rússia.

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A informação sobre a morte do voluntário chegou através do Vot Tak, um site russo financiado pela Polónia, que este ano foi acusado pelo Kremlin de “divulgar informações falsas” e de ser contra a invasão da Ucrânia. Foi detido pela primeira vez a 17 de outubro de 2023, quando transportava uma maca para ajudar uma refugiada com cancro. O Le Monde escreve que Demidenko esteve desaparecido durante três dias.

Já o britânico Guardian relata que Demidenko foi detido pelo batalhão chechéno Akhmat, que chegou a Belgorod no verão de 2023. A Chechénia é uma apoiante da Rússia no contexto da invasão à Ucrânia.

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Só a 20 de outubro é que foi formalmente acusado por consumo de álcool na via pública. Dez dias depois, um novo encontro com as autoridades: a casa onde vivia foi revistada, com Demidenko presente no local. Na altura, a mulher notou que tinha nódoas negras nas costelas, suspeitando de que tivesse sido torturado.

Foi a última vez em que foi visto com vida pela família. Durante as buscas na casa, a polícia encontrou uma granada da Segunda Guerra Mundial no jardim e o ativista foi acusado de ter explosivos ilegais em casa. Estava desde outubro num centro pré-detenção, à espera de julgamento.

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Oficialmente, as atividades destes voluntários não são consideradas ilegais na Rússia, mas os serviços de segurança têm apertado o cerco a ativistas que ajudam ucranianos a regressar ao país de origem. Desde que Demidenko foi preso, em outubro, que outros ativistas foram ameaçados ou detidos, nota o Guardian.

“Ele não escondia o seu trabalho, pelo contrário, tinha muito orgulho nele. Era impossível para as autoridades não saberem o que ele estava a fazer”, disse ao jornal britânico Anastasia (nome falso), uma voluntária russa que conhecia Demidenko.

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O filho Oleg Demidenko, que vive na República Checa, explicou ao site Vot Tak que o pai se queixou de que estava a ser torturado na prisão. “Era um homem livre em todas as suas ações e continuaria a estar vivo se não tivesse sido preso”, lamentou o filho. “Não se pode ser livre na Rússia hoje em dia.”