Estava sozinha num quarto de hotel, na Alemanha, quando o alerta apareceu no seu telemóvel: Alexei Navalny morreu. No imediato, manteve-se focada em preparar-se para os compromissos que tinha em Munique, incluindo a participação numa conferência de segurança com líderes mundiais, mas depois a perda atingiu-a. “Foi um sentimento que não consigo descrever e espero nunca mais sentir”, confessa Yulia Navalnaya, viúva do principal opositor de Putin, naquela que é a primeira entrevista que dá desde a morte do marido, a 16 de fevereiro.

A conversa com a Time, publicada esta quarta-feira, acontece por ter sido incluída na lista anual da revista das 100 personalidades mais influentes do mundo. “Sai-se do avião e já se está no top 100 das pessoas mais influentes do mundo”, escreveu Yulia ao partilhar no X uma das quatro capas da reputada revista desta semana.

Yulia revela que, com a morte do marido, viu que muitas pessoas começaram a perder a esperança de que, no futuro, a Rússia se transforme numa democracia: “Vi quantas pessoas sentiram esta perda muito, muito profundamente. E eu queria apoiar essas pessoas, dar-lhes algum tipo de esperança.”Por isso, decidiu assumir o papel do marido. Ainda assim, confessa que a possibilidade de ser uma voz ativa na luta contra o regime de Putin nunca foi discutida com Navalny em vida.

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Neste momento, Yulia Navalnaya diz que uma das suas principais missões é fazer o Kremlin entender que “há muitas, muitas pessoas que estão contra as autoridades governantes na Rússia, contra o governo”. “Não duvido que, mesmo que matem muitas dessas pessoas, mais aparecerão para tomar o seu lugar”, defende.

Acima de tudo, quero que o Kremlin e os seus funcionários compreendam que, se mataram o Alexei, eu vou chegar-me à frente. Se me fizerem alguma coisa, virá outra pessoa”, afirma.

Durante a entrevista, em que diz que o marido estava a “morrer de fome” na colónia penitenciária no Ártico russo onde os discursos de Putin eram transmitidos na sua cela, a viúva de Navalny aproveita para expressar descontentamento com as sanções impostas pelos líderes ocidentais. De acordo com a revista Time, Yulia Navalnaya considera que as sanções norte-americanas e europeias ainda não conseguiram atingir o círculo mais próximo de Putin, que a Fundação Anti-Corrupção, criada pelo marido, há muito identificou como alvos.

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Quanto ao funeral do principal opositor do Presidente russo, que levou milhares às ruas, a viúva reconhece que “é muito difícil em tempos de guerra, numa altura em que as pessoas podem ser detidas ou enviadas para a prisão por segurarem um cartaz ou colocarem gosto numa publicação, encontrar um momento em que as pessoas estão prontas para sair e não ter medo”. “Esta demonstração deu-lhes essa oportunidade e foi a coisa certa a fazer”, afirma.

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Além da entrevista, a revista Time publicou um texto assinado por Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, com elogios à viúva de Navalny. “Para benefício das pessoas em todo o mundo, Yulia Navalnaya assumiu agora o seu próprio papel de liderança no palco mundial” e “Navalnaya prometeu continuar a luta do seu marido pela justiça e pelo Estado de direito, dando uma esperança renovada aos que trabalham contra a corrupção e por uma Rússia livre e democrática” são duas das frases em destaque no artigo.